Capítulo III - Liberdade

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"Nasce o sentimento

Nasce em meio às lágrimas

E se eleva altíssimo e vai

E voa sobre as acusações das pessoas

Indiferente a todos os seus legados

Sustentado por um desejo de amor

De amor verdadeiro

Em um mundo que é prisioneiro

Respiramos livres, você e eu"

Il Mio Canto Libero, Lucio Battisti



– Tá feliz de ir pra casa, Rams? – Kelvin perguntou, ajeitando a gola da camisa do namorado, sem conter a própria felicidade por finalmente estar indo para casa com ele depois da tempestade pela qual passaram dez dias atrás.

– Tô, Kevin – ele respondeu com um sorriso doce. – Cansei de hospital já. Todo mundo bonzinho, as moça enfermeira, os doutor, todo mundo me tratando bem, ocê me cuidando, mas tô cansado já.

– Eu também. E tô com uma saudade de dormir na minha cama.

– Cê desculpa que teve que ficar no sofá esses dias, viu?

– Que é isso, Rams? Eu dormiria até no chão se precisasse. Não tô reclamando, não. Só tô aliviado que você está melhor, vai continuar se recuperando em casa e a gente vai dormir juntinho na minha caminha.

Ramiro alargou o sorriso enquanto um filme passava em sua cabeça. Estava saindo da sua vida antiga, do quartinho no alojamento da fazenda dos La Selva que foi seu mundo pela maior parte de seus anos, para recomeçar a vida no Naitandei, no colorido e luminoso mundo de Kelvin Santana, seu amado pequetito.

Poucas semanas atrás, ainda estaria repetindo sem parar que era errado, que não podia amar outro homem e viver com ele, na tentativa inútil de se convencer disso. Agora, no entanto, depois de tudo que passou naquela noite de pavor na estrada e nos dolorosos dias de internação, dividir o quarto e a cama com seu amor parecia ser a única coisa certa a fazer. E sua mente antecipava tudo que viria com isso, com ele e Kelvin perdidos na intimidade daquele quarto. Embora estivesse ciente de que, por conta de suas lesões, ainda não podia fazer com ele tudo o que desejava, sabia que ao menos poderiam continuar as brincadeirinhas começadas no hospital sem medo de flagrantes constrangedores.

– Vamos lá que eu vou pagar a conta para a gente ir embora de uma vez – Kelvin chamou seu namorado.

– Eeeeeeeeee – Ramiro grunhiu tenso saindo de seu doce devaneio colorido. – Pagar conta? Não era o Caio que ia pagar?

– E ele vai. Ele fez um depósito de caução quando você foi internado.

– Fez o quê, Kevin? Um calção?

– É tipo uma garantia, sabe? Tem que fazer pra internar.

– Entendi... Pra nóis não dar o calote no hospital e sair fugido.

– É – Kelvin riu e tirou de uma bolsinha um pedaço de papel que exibiu para Ramiro balançando teatralmente. – E ele me deu esse cheque em branco aqui para pagar o resto. O Kelvin de antigamente ia colocar um valor maior e dar um jeito de ficar com a diferença mas eu sou um novo homem, Rams Rams. Bem que o Caio merecia, mas eu não vou fazer isso.

Ramiro deu uma risadinha.

– Ocê gosta, né?

– Ah, ele é um chato – Kelvin fez uma careta. – Ele é muito chato, Rams. E eu tô com um ranço enorme dele.

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⏰ Last updated: May 14 ⏰

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