Capítulo I - Felicidade

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"Cê já sentiu felicidade um instante?

O corpo treme todo, parece flutuar

Não por riquezas, ouro, ou por coisas grandes

Tem coisas nessa vida tão mais simples de encontrar"

Amaury Lorenzo


– Ô, Kevin, agora que a dona Maria saiu, vem cá de novo – Ramiro chamou com a vozinha mais dengosa e sem vergonha possível.

Ele e Kelvin tinham acabado de serem flagrados em uma situação um tanto constrangedora em pleno leito do hospital pela senhora de nome Sílvia, a qual Ramiro insistia em chamar de dona Maria como era costume no interiorzão, onde todo desconhecido era seu Zé e toda desconhecida era uma dona Maria.

– Rams Rams, você tá impossível... aqui não, né? Além da vergonha de alguém pegar a gente de novo, ainda tem o risco de te machucar.

– Vai machucar, não. Vem cá, encosta a perninha aqui de novo e bota esses peitão na minha cara que eu tava gostando tanto.

– Meu Deus, homem. A gente já aguentou esse tempo todo, não pode aguentar mais um pouco?

– Pode não que eu tô doente, todo lascado, quero meu remédio. E meu remédio é ocê.

A gracinha inesperada arrancou uma risadinha de Kelvin. Nem ele esperava que o peão bruto de meses atrás viraria esse ursinho de fofura tão dengoso, carente e safadinho.

– Tá – Kelvin disse porque apesar de disfarçar bem também não se aguentava mais.

– Vem. Tô cansado de esperar, Kevinho. Pensei que ia morrer sem nem ter nada com meu pequetito, nem uma brincadeirinha safada...

– Brincadeirinha safada, é, seu Ramiro? – Kelvin perguntou e colocou a perna onde estava antes de Sílvia entrar para buscar a bandeja do almoço. – Bate de novo daquele jeito porque eu me arrepiei todinho.

– Eeeeeeeee – Ramiro grunhiu e encheu a mão para mais um tapa estalado na coxa torneada de Kelvin, enquanto a outra mão subia pelas costas dele. O oxímetro atrapalhava um pouco e enganchava na roupa, mas ele ia se virando como dava.

– Ai, tremi – brincou Kelvin relembrando os velhos tempos onde ainda só se provocavam. Pensando bem, apesar de não ter percebido, já se amavam desde aquela época. Desde o primeiro dia, Ramiro disse quando deram o primeiro beijo de verdade. E Kelvin percebeu que sentia o mesmo. – Eu te amo, Rams.

– Eu também te amo, pequetito. Te amo muito, muito.

Kelvin sorriu e fez um carinho na testa de Ramiro. Estava adorando esse jeito dele de sempre reafirmar seu amor com repetições e advérbios de intensidade. Novamente pensou em quanto ele relutou em aceitar sua natureza, em quantas vezes repetiu que era macho e que aquilo que sentiam era errado.

O jovem cantor balançou levemente a cabeça, afastando esses pensamentos que agora faziam parte do passado, e inclinou-se um pouco mais sobre a cama, quase subindo de vez nela para beijar seu Ramiro pra valer. Estava ansiando por isso e muito mais, mas com ele tão machucado temia até tocá-lo com mais força e acabar magoando alguma coisa, abrindo alguma das muitas feridas.

– Ó, eu vou fazer um negócio aqui mas se doer você me fala. Não fica calado, não, promete?

– Tá bão, mas o que ocê vai fazer, Kevinho?

– Ainda não dá pra fazer tudo, mas você vai gostar... Só fica quietinho pra não magoar nada.

Ramiro assentiu com a cabeça e então Kelvin se inclinou mais sobre ele para beijá-lo de verdade como queria ter feito há dias, desde que ele foi internado. Pousou sua boquinha bem desenhada, como disse a bandida safada da Irene, sobre os lábios carnudos de Ramiro e só se deixou levar como na primeira vez e em todas as outras seguintes.

OásisWhere stories live. Discover now