⚜️Capítulo 12⚜️

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Sob o manto da aurora, Don Vittório finalmente alcançou Selene, um feito viabilizado pela magia hábil de Rowena. Ainda desnorteada pelos infortúnios que vivenciara, ela adentrou a residência de Vittório.

-Onde está Tristan? Convocai-me Tristan neste instante! - Exclamava ela, a dor ecoando em cada sílaba.

-Pacificai-vos, Selene. Eu enviarei um chamado ao Tristan. - Don Vittório, esforçando-se por acalmar a dama, proferiu palavras de consolo com voz serena.

Minutos depois, Tristan irrompeu na cabana em disparada.

-Senhora, eu tenho ciência... - Antes que pudesse concluir a frase, uma bofetada contundente interrompeu suas palavras, ecoando como um trovão silenciado.

Atônitos, todos observaram enquanto Tristan massageava o lado dolorido da face e Selene avançava furiosa sobre ele.

-Tolo! Por que não me advertiu que a capturaram? - Gritava Selene em desespero, desferindo golpes nos objetos à sua volta.

-Eu não tinha conhecimento! O rei descobriu que Darian o traíra e o prendeu! - Tentava justificar-se Tristan, ainda sob o impacto da bofetada.

-Ele arquitetou cada detalhe... Maldito seja! - Selene gritou, revelando sua impotência. - Preservei todas as outras, porém, falhei em resguardá-la... - Suas palavras carregavam a amargura da perda.

Don Vittório observava tudo, incrédulo. Num ímpeto, segurou Selene para conter sua fúria.

-Selene! O que pretendia com as palavras 'Eu salvei todas'? Acaso és o Lorde das Bruxas? - Don Vittório questionou, sua expressão revelando incredulidade.

-Não é de sua incumbência, Vittorio! - Retrucou Selene, resistindo ao aperto.

-É sim, Selene! Pelos meus olhos, percebi que você enredou até mesmo um dos meus homens nessa trama sombria.

Com semblante baixo, Tristan confessou: - De fato, meu senhor, todos nós estávamos envolvidos nisso, até mesmo Rowena...

-O que? Foram tão audazes a ponto de agir às escondidas de mim por anos? - Don Vittório explodiu de raiva.

-Ora, Vittorio, não sejais hipócrita. Nunca revelastes a mim vossos segredos. Como podeis exigir tal transparência de minha parte?- Respondeu Selene, confrontando o líder.

-Está bem, Selene, mas não penseis que vos perdoarei facilmente por isso! Espero que, ao menos, tenhais a decência de me contar como tudo sucedeu! - Concluiu Don Vittório, marcando o início de uma revelação dolorosa.

⚜️⚜️⚜️⚜️

-Havia eu recém me tornado viúva, sob a incessante acusação do rei Geoffrey, que tentava, a todo momento, incriminar-me pela morte de seu irmão. Sob a sombra de seu teto, eu ainda permanecia. Com temor de que eu fosse capturada e ceifada pelo meu cunhado, Rowena agraciou-me com um colar, cujo pingente exibia uma pedra de azul profundo. Ela instruiu-me que, caso estivesse em perigo, bastava ficar de frente para um espelho, pressionar a pedra entre as mãos, e assim seria transportada para um reino distante, onde nenhum olhar malévolo alcançaria. Em um dia sombrio, em que o rei Geoffrey, embriagado, almejou me ferir, temendo o pior, corri para meu aposento e segui as palavras de Rowena.

Diante do espelho, firmei o pingente em minhas mãos, e, num piscar de olhos, fui transportada para o reino que ela me descrevera. Contudo, não imaginava que encontraria ali um autêntico paraíso: árvores com matizes exuberantes, flores que pareciam gemas preciosas, rios com águas de propriedades curativas. O lugar era permeado pela magia. Muitas vezes, retornei lá, apenas para colher flores e ervas que só lá prosperavam, e para respirar o ar milagroso daquele recanto. Com o tempo, batizamos esse reino de Mirum Regnum... - Selene fala, entregue a um sonho encantado.

-Me parece uma história fascinante, Selene, contudo, não compreendo como isso se relaciona com vosso papel como o lorde das bruxas. - Diz Vittório, sua paciência desvanecendo-se.

-Em um dia sereno, eu percorria a densa floresta quando vislumbrei uma dama sendo conduzida pelos guardiões do reino de Valória. Suas mãos estavam cerceadas, e ao seu lado, uma tenra infanta, mal passando dos cinco anos, compartilhava seu infortúnio. A mulher, mesmo sofrendo sob o peso das bofetadas, parecia nutrir apenas a preocupação pelo bem-estar da criança. Aquela visão trouxe-me à memória a figura de minha mãe. - Os olhos de Selene tornaram-se nostálgicos com a lembrança. Ela lançou um olhar a Tristan, que a incentivou a prosseguir. - Tratava-se da irmã de Tristan, um fato que desconhecia até adentrar furtivamente no pátio do reino e surpreendê-lo ali. Ao ouvir dele que sua irmã era apenas uma herborista em busca do bem dos nativos de sua terra, e que o destino da pequena Brianna era incerto, resolvi tecer um plano em conluio com Tristan. Assim se revelou a primeira aparição do Lorde das Bruxas, com ação restrita a nós dois, resgatamos a mulher e a pequena Brianna para Nigra. Após alguns dias, mais duas almas foram condenadas, e decidimos intervir novamente. Dessa vez, Gideon e Aric se ofereceram para juntar-se a nós. A partir desse momento, o Lorde das Bruxas passou a atuar incansavelmente, assegurando que nenhuma bruxa fosse consumida pelo fogo, enforcada ou degolada, até os dias atuais... - Selene narra, permitindo que uma lágrima solitária escape.

-Por certo, ainda me foge o entendimento sobre a ligação de vosso colar com este enigma. - Indaga Don Vittório, já exaurido.

-Nigra tornou-se um reino superabundante, onde estranheza pairava pelas ruelas, pois desconhecidas faces afloravam em número excessivo. Foi nesse momento que Rowena, com seu sábio conselho, inspirou-me a conduzi-las ao reino encantado. Previamente, antes de guiá-las, cultivamos árvores frutíferas e animais de variada espécie, contanto que pudessem saciar a fome. Assim perdura até agora, resgatamos almas das garras da inquisição, conduzindo-as ao Mirum Regnum. - Conclui Selene, aguardando a reação de Vittório, que agora se vê ciente de toda a trama.

- Despertastes a cólera de um monarca de poder infindo, ao longo de anos! Tendes vós noção do destino que vos aguarda se descobrir a identidade do cavaleiro que ousou desafiá-lo? E se ele entrelaçar o desaparecimento do Lorde das Bruxas com vossa presença no banquete do reino de Valória? - Questiona Don Vittório, temendo pelo destino da amiga.

-Descobrirá esta noite, - Assevera Selene, exibindo uma serenidade que arrepia os corações.

- Como? Que ardil pretendeis, Selene? - Indaga ele, aturdido.

-Darei ao rei o resgate merecido, o que há muito lhe é devido. E não ouseis interpor-vos, pois não permitirei que ninguém me detenha. - Profere Selene, retirando-se pela porta com determinação sombria.

Duquesa de Umbrafell ( Primeiro Livro da Duologia FILHA DA ESCURIDÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora