Ela veio usando vermelho.

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Ela não avisou que viria
Simplesmente sentou no canto e baixinho contou-me sobre o futuro
Acompanhando o movimento sedutor de seus lábios avermelhados
Soube de tudo que faria

Ela me contava aquilo porque me queria bem
Me queria protegida
Se eu acompanhasse o seu raciocínio, se evitasse todo o caos que aconteceria
Ficaria bem

Ela sorria com doçura, os olhos vivos sobre mim
Enquanto eu hiperventilava
Enquanto meu corpo tremia e o mundo girava
O futuro continuava desenrolando-se na minha frente

Ela sabia que estava me sufocando
Mas era para me proteger, então podia fazê-lo
Suas carícias eram capazes de esmagar meus pulmões
Mas ela me amava, me alertava porque me conhecia bem

Eu não conseguia respirar
Não conseguia suportar as visões do que estava por vir
Sentia que morreria naquele piso gelado, aos pés daquela criatura
Criatura que ainda me olhava com doçura

Eu permitia que ela me olhasse assim
Ignorando ser capaz de vê-la mesmo com os meus olhos fechados
Guardando todos os gritos de dor que quebravam dentro de mim
Sofrendo para que ela pudesse educar-me

Até despertar
Atravessar
Rasgar
Berrar

Daquele pesadelo
Aquele deserto
Aquela pintura macabra
Do mais fundo interior de mim

Mais uma vez ela partiu em silêncio quando abri os olhos
Sem deixar rastro, nada além de um batom vermelho sobre a mesa
O mesmo que eu costumava usar durante quatro anos
Com o mesmo nome gravado nele: ansiedade

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Ela veio usando vermelho. Mylla Braga.

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