1. A noite - Tiê.

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Ah, as férias! Tão amadas e aguardadas! Época para descansar, sair com amigos e ficar de namorico. O ano inteiro, sonhamos com isso; dormir tarde e acordar depois do meio-dia, sem atividades, trabalhos em grupo, o paraíso para os estudantes.
Era sábado, o sol raiava lá fora e algumas nuvens salpicadas no céu davam sombra para os adolescentes sentados no meio fio.
Apesar de toda beleza envolvendo as férias, eu não estava me importando nem um pouco.

Neste exato momento estou deitada na minha cama macia, enrolada nos meus cobertores. Sinto meu corpo ainda um pouco dolorido e meus olhos pesados, com um pouco de sono — talvez pelo fato de eu ter tido a brilhante ideia de dormir perto das 04:00 da manhã.
Já devia ser quase 14:30 e eu ainda não considerei a possibilidade de levantar.
Minha playlist específica já estava no seu 3 loop, mas me recuso a mudar.

O quarto estava totalmente escuro, as janelas e cortinas fechadas, e tudo que eu podia ouvir era a doce voz de Bruno Mars cantando sua triste melodia.
Melancólico. Uma pena que minha família não saiba apreciar meu silêncio depreciativo.

— Maria Luiza! — Mamãe esbravejou na porta do quarto. Ela carregava minha irmãzinha Lívia nos braços. — Levanta dessa cama! Vai fazer alguma coisa, menina. Ver o dia, comer alguma coisa! — Dona Lucia disse firmemente abrindo a janela da minha caverna. Era incrível como ela fazia isso com perfeição mesmo estando com uma criança agarrada ao seu corpo como um coala.

Minha honesta reação foi me esconder debaixo das cobertas. Eu não teria feito se eu soubesse que logo depois disso, ela acertaria em cheio minhas pernas com o pano de prato.

— Malu, sua mãe tem razão! — Meu pai, como um soldado, seguia atrás da minha mãe, pondo uma mão no ombro dela. Eu achava isso cômico, já que meu pai era um pouco mais baixo que ela, e mesmo assim a seguia pra todo canto. — Já vai dar três horas, minha filha.

— Eu quero ficar deitada. — murmurei, me virando para a parede. Eu não vi, mas sei que mamãe lançou um olhar preocupado tipo "faz alguma coisa, homem!" para papai.

Seu José riu sossegado.

— Eu fui no centro e trouxe açaí. — Rapaz esperto, muito esperto. Ele disse tudo sentado na ponta da minha cama, dando tapinhas na minha perna.
Não era uma surpresa muito grande mas, açaí se tornou uma das minhas coisas favoritas de uns tempos pra cá.

Resmunguei e me debati dentro de mim. Uma hora eu teria que me levantar mesmo.

— Tá bom, gente! Vocês venceram, eu vou levantar, tá? — falei ainda meio rouca, me sentando na cama.

— Ótimo! — Papai disse, sorrindo largo.

Mamãe gargalhou provavelmente da minha cara amassada e passou as mãos no meu cabelo totalmente desalinhado. Puxei isso dela, acordar parecendo um leão. Lucia tinha cabelos cacheados — quase crespos — e a pele escura como chocolate.
José deu um último tapinha na minha perna antes de sair atrás da esposa.
É engraçado, eles sempre conseguem.

Meu celular vibrou e a mensagem "Quer sair hoje?" brilhou na tela.
Lice. Na hora certa, como sempre.
Não deixei de sorrir. As tardes que passamos juntas sempre rendem boas risadas e memórias. Somos amigas desde bem novinhas e desde que eu me lembro, nunca nos separamos.

A motivação de encontrar Alice e de comer alguma coisa, foram o suficiente para me fazer ficar em pé.
No caminho da minha cama até o guarda-roupa, acabei pisando acidentalmente em certas peças de roupa e em alguns objetos que talvez não devessem estar ali, mas estavam. Não sei como a dona Lucia ainda não me puxou pelos cabelos.

O básico que funciona: camisa do flamengo, shorts e all star. Praticamente minha segunda pele.

Apanhei o celular de cima da cama.
"Me espera no portão da sua casa." Enviei.
Rapidamente a mensagem foi visualizada e respondida com uma figurinha de um gato feliz.
Rumei para o banheiro, onde finalmente fiquei cara a cara com o espelho para enfrentá-lo: meu cabelo.

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⏰ Last updated: Nov 21, 2023 ⏰

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― 𝐅𝐀𝐑𝐎𝐋 𝐃𝐀𝐒 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀𝐒 | original.Where stories live. Discover now