Capitulo 2

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Desafiado


Cinco anos, era esse o tempo que tinha se passado desde que ela foi embora sem explicação nenhuma. Não vou mentir, eu não facilitei as coisas. Nunca fui de me apegar a ninguém, e estar com Joe, apesar de bom, era mais como um passa tempo. Ela era boa em ser louca, então éramos loucos junto. Até que ela se quebrou.

- Pensando nela de novo é? - Daph me abraçou por trás se impondo em meus pensamentos - será que você já se deu conta que ela foi embora e não vai voltar?

- Não quero falar sobre isso.

- Não seja idiota Tom - apesar das palavras duras ela ronronava em meu ouvido - Aproveita que sou todinha sua. Joe nunca te mereceu.

- Será que dá para parar - me desvencilhei dela para procurar uma camisa limpa para vestir - é melhor você ir embora agora, preciso ir trabalhar. - Não precisei olhar para Daphine para ver que ela estava ofendida.

- Você nunca vai deixar de ser um babaca não é - certo era hora de pegar pesado então.

- Você queria sexo teve sexo. Hora de ir embora Gata. - isso foi suficiente para que ela se vestisse e fosse embora bufando de raiva.

Daphine era só mais uma. Isso não iria mudar. Sempre foi mais fácil ser o cara que as mães não querem como genro. Mesmo que isso fosse apenas uma mascara hoje em dia.

Quando Joe foi embora as coisas mudaram. Eu estava limpo desde então, e sabia que ela também. Mesmo sem mantermos contato uma coisa ou outra chegava até mim. O que me preocupava era a última notícia que tive. Ela tinha voltado. Não sei se estava pronto para lidar com isso. A merda com isso. É claro que eu não estava.


***


Enquanto dirigia até o trabalho ela insistia em não sair da minha cabeça. Aquele sorriso que ela dava quando estava prestes a aprontar algo perigoso parecia piscar na viseira do meu capacete. Não consigo lembrar direito a última vez que a vi. Só lembro de dor, do medo naqueles olhos e da esperança de eu pudesse ajudá-la. Eu não pude. Talvez Daphine tivesse razão, eu sou um babaca. Mas um babaca decidido a consertar aquela merda.

Estacionei em frente ao Hugs, não tive tempo de comer nada antes de sair de casa. Precisava de um café, quem sabe isso ajudasse a tirá-la da cabeça. A campainha da porta soou quando entrei. Nenhuma surpresa. A conversa foi abafada, olhares acusadores voltados para mim. Acho que nunca ia me livrar daquilo.

- O de sempre Thomas? - talvez Ed fosse o único que acreditava na minha inocência.

Mesmo sem queixa alguma na delegacia os boatos tinham durado um bom tempo. Para falar a verdade eles precederam a partida dela. Não foi fácil esperar que um novo escândalo surgisse para que me deixassem em paz. E mesmo quando isso aconteceu, eles nunca me absolveram.

- Duplo Ed - precisava de uma força extra hoje - E bem forte!

- Pelo visto já está sabendo da novidade. - Ele me entregou o pacote e me olhou, procurando algum sinal. Eu não dei.

- A cidade toda está.

- Você vai ficar bem garoto? - eu já ia saindo pela porta quando respondi.

- Um dia Ed. - suspirei resignado - Quem sabe um dia.

Segui para o trabalho. Depois de tomar meu café mergulhei meus pensamentos em toda a papelada que me aguardava. Não tinha sido fácil chegar até ali. Os dias sombrios de abstinência ainda me assustavam. Se não fosse pela minha força de vontade teria sucumbido logo no início. Aquilo me quebrara em mil pedaços, mas eu consegui. Depois disso a droga se tornou uma sombra. Eu sabia que ela estava ali. Mas era fácil esquecê-la e seguir em frente. Finalmente me formei. Abri meu próprio escritório e enfim tinha uma condição de vida estável. Ocupar a cabeça me ajudou a manter a sanidade. Não que eu saísse por aí mostrando meu lado bom moço. Ninguém precisava saber que Thomas Llosa tinha mudado completamente.

- Dr. Llosa - era Cíntia na secretária eletrônica - Daniel está aqui para falar com o senhor.

Respirei fundo antes de responder:

- Pode deixá-lo entrar - Respeitável publico hora do show. E pela cara do sujeito que atravessava a porta ia ser um desastre.

Eu e Daniel tínhamos sido amigos em algum lugar do passado. Mas agora os olhos dele transpareciam impiedade. E ele não parecia inclinado a ser gentil naquele momento. E em nenhum outro desde que tudo aconteceu.

- Estava estranhando que ninguém tinha aparecido com doces palavras por aqui ainda.

Frieza. Foi tudo o que senti no ar. Ele não estava disposto a joguinhos. Muito bem, eu também não.

- Você já deve estar sabendo que ela voltou. - ele nunca foi de fazer rodeios.

- Sim, ouvi um boato - continuei a encará-lo sem saber o que exatamente ele queria ali em meu escritório. - Não sei porque isso o traria até aqui. Pensei que quisesse distância de mim.

- E quero. Mas acima de tudo quero que fique longe dela.

- Ah! Que maravilha. Não estou vendo nenhum cavalo branco. - desdenhei - se bem que fico feliz. Não seria nada elegante receber meus clientes se um cavalo tivesse defecado em meu tapete.

- Muito engraçado. - ele não parecia estar sorrindo - Eu a vi hoje de manhã. Você ficaria surpreso com as mudanças. Mas todos concordamos que é melhor você manter distância.

- Porque eu faria isso? Tenho tanto interesse em revela quanto qualquer um de vocês. Não sei se você se lembra mas éramos muito próximos antes dela ir embora.

- E foi por isso que fez o que fez - ele tinha se levantado e parecia querer se avultar para cima de mim. - É por isso que destruiu a vida del... - sua última palavra foi abafada pelo soco que ele deu na mesa.

- Você sabe que não faria isso. - eu precisava manter a calma - Sabe que não seria capaz de machucá-la. Essa foi a maior insanidade que já disseram por aí. - Minha voz crescia a cada palavra - Éramos amigos antes disso Daniel. Claro, você nunca escondeu o quanto estava insatisfeito com meu relacionamento com ela, mas ainda assim estava por perto. - A raiva crescia dentro de mim - Qual seu propósito aqui Daniel? Porque eu vou ser bem claro. Não vou me afastar. Não vou me esconder. E você, seu merda, não vai conquistá-la me mantendo longe.

- Você chega a ser ridículo - agora sim eu podia ver divertimento em seus olhos - Acha mesmo que ela vai querer te ver? - Eu queria pegar os papéis da mesa e fazer ele engolir um por um. Se tinha algo que as vezes eu não controlava era minha raiva, e ele tinha conseguido despertá-la - Eu pagaria para ver. Mantenha distancia seu roqueiro de merda, ou você vai se ver comigo. - Com isso ele saiu pela porta, sem saber que não tinha sido uma boa ideia me desafiar. Ou talvez isso fosse justamente o que ele queria. Mas ele não perdia por esperar.

Toda aquela superioridade que ele queria demonstrar não funcionava comigo, e nunca iria funcionar. Eu sabia o que precisava fazer, e nem o medo que eu tinha das resposta às minhas perguntas me faria exitar.


***


O dia tinha sido longo. Me joguei no sofá soltando todo meu peso. Tudo naquele dia tinha sido insano, ou melhor, tudo desde que ela estava de volta tinha virado de cabeça para baixo. Precisava de uma folga. Mas sei que não teria. Era preciso encarar os problemas. Por isso me levantei e me obriguei a tomar uma ducha bem gelada. Depois de me arrumar encarei o capacete por alguns minutos me perguntando se estava certo do que estava prestes a fazer. Não tinha muito o que pensar. Daniel tinha me ajudado a decidir quando apareceu hoje a tarde no escritório. Mandei tudo as favas, peguei a chave e sai antes que eu pudesse desistir. Joe iria me ouvir, nós tínhamos um assunto inacabado e já havia passado muito da hora de resolver.





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⏰ Last updated: Jun 08, 2015 ⏰

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