CAPÍTULO FINAL

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Quando cheguei da escola, encontrei sentada do lado de fora de casa, em uma cadeira de madeira que o meu próprio pai construiu, uma mulher por volta dos seus quarenta anos de idade que eu conhecia bem: a mãe de Pablo.

- Senhora Eax! - exclamei.

- Oi, querida - ela se levantou e me cumprimentou. - Você parece surpresa!

- Você não deveria estar surpresa ao notar isso.

Ela riu.

- É claro que não. Isso é parte do motivo pelo qual vim te visitar. Gostaria de caminhar um pouco?

- Caminhar?

- Sim. O clima está propício para isso.

- Claro.

Começamos a andar calmamente pela cidade. Todas as pessoas olhavam para nós, todos sabiam quem nós somos. Eu estava quase me acostumando com isso, já a senhora Eax deve ter se habituado há muito tempo.

Ela ainda aparentava um pouco abatida (como eu mesma, diga-se de passagem), porém era inegável que estava consideravelmente melhor desde a última vez que nos encontramos.

A senhora Eax puxava assunto sobre as coisas banais, como as frutas da feira ou o tempo. Até que nos sentamos em um banco afastado das outras pessoas e ela disse:

- Então. As Águias de Rapina foram todas queimadas em um incêndio criminoso...

- Eu não sei nada sobre isso!

Ela deu risadas e piscou para mim.

- Estou orgulhosa de você. Pablo também estaria.

Senti mais segurança depois desse comentário e sorri de volta para ela.

- Isabel levou as plantas com ela.

- Ótimo. Vocês formam uma boa dupla - pousou sua mão sobre a minha. - Melissa, gostaria muito de pedir desculpas pelo nosso último encontro. Mesmo que Pablo fosse aficionado pelo céu, ele era na verdade o meu chão. Quando você perde algo assim, nada mais faz sentido... até perceber que só o fato dele já ter existido é um sentido por si só.

Eu entendia completamente o que ela queria dizer.

- Não precisa pedir desculpas - falei.

Ela sorriu para mim, seus olhos viravam apenas duas fendas quando ela o fazia:

- Existe mais um motivo para a minha visita. Vim lhe trazer esse presente.

E me estendeu um caderno. O peguei pelas minhas mãos, parecia um pouco mau cuidado, da mesma forma que Pablo mantinha os seus pertences pessoais.

-É o diário dele - disse. - Quero que fique com você.

- Mas... por quê? Eu não posso aceitar isso!

- Aceite, por favor. Eu percebi que fiquei com todos os pertences pessoais dele e você deveria ter pelo menos uma lembrança. Além do mais, nada mais justo que esse diário pertença a você - piscou para mim e sorriu. - Nele, Pablo só fala de você.

Depois disso, não tive como recusar. Voltei para casa segurando o diário com as minhas duas mãos como se ele pudesse fugir, imaginando que tipos de coisas Pablo poderia ter escrito ali. Será que ele escreveu de olhos fechados?

MAIS LEVE QUE O AR (HISTÓRIA COMPLETA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora