𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟒 - 𝘛𝘰𝘳𝘮𝘦𝘯𝘵𝘢

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["A minha cabeça gira e eu me vejo de volta em minha casa de infância, onde o amor jamais existiu.'']

...

Interior de Londres, Junho de 1710.

Nicolas encarava com desgosto o vestido posto em cima da sua cama, sabendo muito bem que, em breve, a sua mãe entraria no quarto para verificar se tudo estava nos conformes. No entanto, lá estava ele, parado em frente à sua cama, encarando aquele traje sem tampouco piscar, já sentindo todo o seu corpo negar o tecido sem sequer tê-lo usado.

Edith já sabia do seu ódio quase incontestável com os vestidos e, por conta disso, sempre permitia que o menino usasse roupas mais largas que ela mesma costurava quando estavam em casa. Porém, hoje era um dia especial, afinal, iriam para o centro de Londres e gostaria que o seu filho estivesse bem apresentado para todos, apesar de serem evidentemente camponeses.

— Terminaste? — Portanto, ao ouvir a voz da sua mãe no outro lado da porta, batendo singelamente os dedos sobre a madeira, nem se sobressaltou.

— Não vou colocar vestido. — Nicolas diz rapidamente sem muita emoção. — Já disse, mãe.

— Por favor, não comeces... veste isso e vamos embora. Edmund vai ficar inquieto se não partirmos em breve.

— Tá, mas eu não vou com essa roupa.

— Pelo amor de Deus!

Edith resmunga alto e abre a porta do quarto da criança de uma vez, encontrando-a na mesma posição do momento em que deixou o quarto para que se vestisse. Simplesmente não podia crer que agora passaria todos os dias por esse sufoco. O que fez de tão errado em sua vida para merecer uma punição como essa? Seria o amor assim tão terrível a ponto de lhe castigar dessa forma? Quem sabe, sim.

— Por favor... não quero ter essa conversa novamente.

— Não vou colocar. — Nicolas insiste determinado, enfim movendo-se, aproximando-se da cama e pegando o vestido apenas para jogá-lo no chão com certa raiva. — Não vou.

— Por que... — Edith se lamenta consigo mesma, tão exausta de tudo que andava ocorrendo na fazenda que simplesmente não conseguia mais lidar com qualquer estresse.

Assim, ela simplesmente encostou-se a uma parede próxima, respirando profundamente para controlar a sua raiva perante as circunstâncias. Todos tinham seguido a onda acreditando que era simplesmente uma fase em que Nicolas começou a bater o pé com a certeza de que era o Nicolas, porém já tinham passado dois anos desde que as coisas só pareciam piorar cada vez mais para a mãe desesperada e para o padrasto impaciente.

— Por que... por que você não pode ser a minha menininha... por que... — Edith continua a se lamentar, sendo aquela pequena discussão o suficiente para que ela desmoronasse até o chão.

— Porque eu não sou. — Nicolas responde como se fosse óbvio. — Mas... eu posso ser o seu menino, mamãe.

— Tu não entendes... tu realmente não entendes... — Ela respira fundo, erguendo o seu olhar para o menino a alguns metros. — Sabes... vocês tinham o mesmo rostinho. A mesma carinha coberta por sardas... Assim como ele...

Almas ContaminadasWhere stories live. Discover now