𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟕- 𝘊𝘢𝘳ê𝘯𝘤𝘪𝘢

179 24 365
                                    

["Eu não sou uma pessoa inteira, e temo jamais ser. Partes de mim morreram na casa em que eu cresci e eu as visito em meus sonhos."]

———

Nova York, 31 de julho de 2008.

Hunter olhava com pesar para o prato na sua frente, seu garfo virando a comida de um lado para o outro, esperando que isso enganasse os pais de Marshall a pensar que ele realmente tinha comido alguma coisa. "Não estou com fome", repetia ele para si mesmo e seus amigos, "comi quando estava em casa", mentia sem ao menos sentir. Já era uma reação involuntária de seu corpo, mas ainda assim não conseguia mentir bem o suficiente para não sentir o seu estômago roncando. Aquilo doía.

Sua boca salivava ao ver a comida, mas não tinha coragem de levantar o garfo e trazê-lo à sua boca. Algo tão simples que o paralisava, as mãos tremendo, os olhos olhando fixamente e o estômago suplicando por uma refeição. Mas ele não conseguia. Ele não poderia desapontá-la novamente. Então grunhiu, empurrando o prato para longe de seu corpo e de imediato saindo da mesa.

— Hunter? — Marshall questiona em confusão ao ver o seu amigo distanciar-se da sala de jantar e encaminhar-se até a sala de estar. — Ei, Hunter! — Resmungou, largando o seu garfo e apressando-se atrás do seu amigo. — O que que deu, cara?

— Nada. Desculpa. — Suspirou. — Eu acho que vou pra casa.

— Mas... mas você nem tocou na comida. Minha mãe fez questão de preparar o seu prato preferido. — As suas sobrancelhas se franzem em tristeza, segurando calmamente o braço do seu amigo ao perceber que ele se encaminha em direção à porta. — Cara, você tá bem?

— Tô sim. Só preciso ir pra casa. — Soltou-se do garoto. — Até amanhã na escola.

— Espera, porra! — Marshall grita, contendo-o novamente e metendo-se à frente da porta de entrada. — O que tá acontecendo com você? Hunter, você não me engana. Eu sei que tem alguma coisa pegando. Me diz.

— Já disse que não tem nada. Eu só perdi a fome. Desculpa.

— Sim, como você tem perdido sempre a fome nos últimos meses.

— É... acontece. — Deu de ombros, soltando-se outra vez. — Vai me deixar ir?

— Hunter... eu sou o seu amigo. Você me apoiou quando eu me assumi ano passado... eu quero te ajudar também se você tiver passando por alguma coisa. É isso que os amigos fazem.

— Não tem nada acontecendo.

— Eu tô preocupado com você. — Marshall suspirou, desistindo de prendê-lo e então dando um passo para longe da porta. — Mas eu não posso te forçar a falar nada. Só... saiba que eu tô aqui, ok?

— Certo. Obrigado, Mars. Até amanhã.

Sem uma palavra ou uma mudança de expressão, Hunter simplesmente abriu a porta e saiu calmamente. Todos podiam ver que algo estava errado, mas ele sabia que seria inútil falar. Sabia muito bem a reação deles e não era exatamente a ajuda que procurava no momento. Afinal, olhando no espelho todos os dias, ele não se via como magro o suficiente para precisar de apoio. Talvez a única mudança perceptível em sua aparência fossem as olheiras profundas que agora adornavam a pele que sempre esteve pálida, mas que agora também continha uma tonalidade enferma.

A Sinfonia Das Estrelas (HIATUS)Where stories live. Discover now