𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟓 - 𝘙𝘦𝘯𝘥𝘪çã𝘰

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["Ele possuía a ternura esquisita de alguém que nunca fora amado e foi obrigado a improvisar"]

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Nova York, 23 de julho de 2022.

Hunter encarava a parede pintada à sua frente, seus dedos batendo sem rumo na madeira da mesa ao seu lado e sua boca murmurando melodias indiscerníveis. Mais uma noite sem dormir, no fim das contas. Aqueles pesadelos sempre voltavam a atormentá-lo quando se estabelecia em um lugar por tempo demais, por isso as turnês sempre eram os seus melhores momentos.

Odiava ficar parado e com o mínimo de tempo ocioso, precisava estar na ativa, escrevendo, compondo, cantando, se apresentando, qualquer coisa. Tinha sempre de encontrar alguma atividade que drenasse toda a sua energia para que, ao se jogar na sua cama após um dia exaustivo, simplesmente desmaiasse de fatiga e o seu corpo sequer tivesse energias para formular um pesadelo.

Era patético, na verdade, se pensasse que um homem da sua idade ainda tinha pesadelos e essa era a principal razão da insônia. No entanto, eles pareciam tão reais que era quase impossível não se deixar levar por eles e, na realidade, eram tão reais assim justamente porque se tratavam de memórias. Da sua infância, se ousasse ser mais exato. A pior época da sua vida que sempre se repetia como um filme no instante em que o primeiro estágio do sono lhe aconchegava.

Por uma época, os pesadelos haviam parado, e até mesmo chegou a pensar que os superou, mas é claro que era mentira. Eles retornaram há alguns anos, especificamente quando voltou a conversar ocasionalmente com a sua mãe. Recorda-se que, na época, frequentou um psicólogo por um tempo que o aconselhou a conversar sobre tudo com a mulher de uma vez por todas, porque possivelmente se tratava de algum trauma não resolvido. E realmente tentou fazer isso, e ainda estava tentando, contudo, os pesadelos pareciam cada vez mais longos e piores, agora simplesmente optando por permanecer um ou dois dias da semana sem tampouco piscar o olho durante a madrugada para evitá-los.

Para piorar, a conversa que teve com Lorena há aproximadamente duas semanas não levou a lugar nenhum. Ela apenas enfatizou o que dissera no dia anterior, que Hunter inventava histórias fantasiosas ao seu respeito, que havia melhorado de verdade e que os encontros e os seus amigos não possuíam nenhuma outra razão escondida para acontecerem. É claro que ele não acreditou numa palavra, o que levou a uma discussão acalorada que terminou com uma boa bofetada quando teve a coragem de chamá-la de vadia.

Depois daquilo, ambos não se falaram mais.

— Hunter, cara, eu trouxe comida! — A voz de Marshall subitamente arrancou-o dos seus pensamentos, dirigindo o olhar para a porta de entrada do quarto, encontrando-o lá parado segurando uma bandeja.

— Eu... não estou com fome.

— Vamos lá... não faça desfeita. Eu preparei isso tudo pra você. — Suspirou desanimado, acercando-se da sua cama e deixando a bandeja cuidadosamente sobre o seu colo. — Qual é cara, o que deu em você nesses últimos dias? Você tava tão bem durante a turnê, nunca te vi tão animado, e agora...

— Desculpa. — Grunhiu, estalando a língua em insatisfação e então pegando a bandeja, mordendo instintivamente o sanduíche muito bem feito. — Pronto.

— Hunter... — Marshall franziu o cenho. — Isso não é apenas porque o seu plano não deu certo, não é?

— Do que tá falando?

A Sinfonia Das Estrelas (HIATUS)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora