Era uma vez uma cidade onde todas as mães resolveram fazer greve.
Está parando todo mundo, mas tem 1% que não vai parar.
E ela está entre essas mães que não podem fazer greve.
Sua bebê tem 5 meses e o pai as abandonou faz um ano.
Ela não tinha programado essa gestação.
Ele disse que não queria usar camisinha.
E sumiu.
A greve começou ontem.
Ela tentou se organizar, mas ainda não conseguiu alguém pra ficar com a bebê.
Amanhã ela volta ao trabalho, que será um pouco presencial e um pouco remoto devido a pandemia.
Primeiro dia de trabalho. A reunião virtual começa. Todos dão as boas vindas para ela e sua bebê.
Há poucos homens na sala. Alguns estão conectados com a câmera desligada.
Um deles escreve no chat que está terminando o café da manhã das crianças.
O prefeito não conseguiu chegar e a vice-prefeita começa a reunião.
Assunto: greve das mães.
Todos estão espantados com a organização das mães.
A vice-prefeita sugere uma reunião com as organizadoras e pergunta se alguém tem o contato delas.
A bebê chora. Arranca o fone de ouvido.
Ela fica de pé, com a bebê virada de barriga pra baixo.
Ajusta o fone de ouvido.
Ela perdeu uma parte da fala, mas tudo bem. A próxima reunião será em 4 horas, sobre a greve das mães.
A bebê dorme.
Devagar, ela coloca a bebê na cama, bem juntinho ao seu pijama.
Vai até o banheiro, fecha a porta.
Aos sussurros, faz uma ligação:
- Está podendo falar?
A amiga diz que prefere conversar ao vivo.
A bebê dorme pesado.
E ela consegue conversar com a amiga na cozinha:
- Tive uma reunião hoje com a vice-prefeita, secretários, secretárias... A sala estava cheia. Pediram seu contato.
A amiga sorri:
- Bom retorno ao trabalho. Como passou rápido essa licença maternidade.
- É uma das nossas reivindicações o aumento da licença maternidade, né? Mas, e aí? Te ligaram?
Neste instante, o telefone da amiga toca.
A bebê acorda.
Ela corre para enfiar a bebê no peito para que não ouçam seu resmungar.
A amiga aceita uma reunião presencial com a vice-prefeita para dali a uma hora.
Elas decidem ir juntas.
Ela, a amiga e a bebê amarrada ao colo.
Faz 5 meses que ela não pisava na prefeitura. A amiga finge que não a conhece e vai para a reunião, enquanto ela mostra a bebê para as poucas pessoas que estão trabalhando presencialmente.
A reunião é apenas da amiga com a vice-prefeita.
Ela sabe disso, mas quer participar.
A vice-prefeita a vê passar e interrompe a reunião. Parabeniza pela bebê. E a convida a conhecer uma das organizadoras da greve:
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A Greve das Mães - Conto 2 - Aquele 1%
Short StoryComo seria a vida se as mães fizessem greve? Nossa personagem não consegue participar da greve pois sua bebê tem 5 meses e o pai as abandonou. Ela é funcionária pública e uma das organizadoras da greve das mães. E ela se torna o ponto central entre...