Capítulo 32

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Acordei com o toque do despertador do celular e o desliguei, mas não sem ter um pouco de trabalho

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Acordei com o toque do despertador do celular e o desliguei, mas não sem ter um pouco de trabalho. Eu sabia que demoraria um tempo para aprender a mexer no iPhone, afinal, eu nunca tive um celular. Aliás, até tive um, mas era um Nokia bem antigo que meu pai me deu quando trabalhava em uma fábrica em Pernambuco. Mas era de segunda mão, ou seja, logo estragou.

Levantei-me e, na sequência, me ajoelhei ao lado da cama para fazer uma breve oração. Quando ainda estava na rua, às vezes, eu não conseguia orar logo depois de acordar, porque, na maioria das vezes, Kevin acordava primeiro do que eu e já reclamava da fome. Confesso que fiquei um pouco indisciplinado quanto a isso, mas, desde que minha sorte mudou, tenho me esforçado para manter a constância. Ainda mais agora que tenho muito pelo que agradecer.

Depois, segui para o banheiro, a fim de tomar um banho. Eu não sei se as outras pessoas entendem ou se isso é apenas capricho meu, mas, tendo passado tanto tempo na rua, sujo, apenas almejando poder tomar um banho decente, hoje, procuro sempre me manter limpo. A sujeira do corpo também pode ser um peso e era para mim.

Então me banhei e vesti o uniforme da clínica. No dia anterior, mesmo com toda a confusão, Lorena me lembrou de pegar meus pertences no apartamento. Olhei-me diante do espelho e me animei para mais um dia. Era bom ter um trabalho. Era extremamente bom ter recebido minha dignidade de volta.

Quando desci, encontrei Gilda entrando pela porta da sala.

— Bom dia! — Saudei.

Ela me olhou, aparentemente surpresa por me ver ali.

— Uai, Raul! Você aqui tão cedo?

Sorri com suas palavras e a acompanhei até a cozinha, enquanto respondia:

— Houve alguns imprevistos e eu voltei para cá.

Ela assentiu, compreensiva, e disse:

— Bom, então já que você está acordado, vou preparar o café...

— Não, Gilda. Não precisa se preocupar comigo. Pode esperar a Lorena acordar.

Eu sabia que havia levantado cedo.

— É bom que eu já adianto meu serviço. Não é incômodo nenhum. Pode ficar tranquilo!

Conformei-me com suas palavras, até porque eu estava mesmo com um pouco de fome. Então, para compensar sua imensa boa vontade, ajudei Gilda a colocar a mesa para o café da manhã.

Então, assim que me sentei para comer, senti uma mão tocar meus ombros e eu teria pensado que se tratava de Kevin se a voz de Lorena não tivesse soado, dizendo:

— Madrugou, Raul?

Eu não sei o que tinha de errado comigo, mas era quase como se eu não pudesse evitar sorrir todas as vezes que ela falava comigo. Quero dizer, acho que tenho sorrido mais nos últimos dias do que durante todos os anos em que estive na rua.

O Malabarista - ConcluídaWhere stories live. Discover now