Parte 04 - O Fim

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Nos ares, em algum lugar do Oceano Atlântico.

 

Sara,

 Antes deu começar a dizer qualquer coisa, quero deixar bem claro que o motivo de eu estar devolvendo seu papel de parede NÃO É não querer mais lembranças suas. Eu só não preciso mais dele. Você sim. É a única lembrança que você tem do seu passado mais remoto e não é mais a minha única lembrança material de você. Não quando eu estou retornando e não quando eu pretendo voltar a fazer parte de sua vida.

Deixando isso esclarecido, tem várias outras coisas que eu quero te dizer.

Para falar a verdade, eu nem sei bem como começar.

Talvez explicando porque te escrevo, ao invés de te falar. Porque provavelmente, eu esqueceria de metade das coisas que quero dizer quando eu encarar seus olhos. Eles sempre tiveram esse pequeno efeito sobre mim, mesmo quando nós éramos mais novos. Eu fico confuso toda vez que encaro seu olhar brilhante. É como se minha mente se transformasse num branco total ou que tudo que tivesse dentro dela fosse uma musiquinha de elevador (bem chata, por sinal). E bom, isso é meio constrangedor. Então, eu prefiro as letras, muito obrigado.

Cinco anos são muito tempo. E, mesmo assim, às vezes me parecem muito pouco. Quando eu penso em você, eu ainda me sinto como seu melhor amigo de sempre. Meu sentimento por você não mudou nem um pouco, em cinco anos de total distancia. E isso é meio estranho.

Mas calma, ainda fica pior.

Perdi a conta dos dias que acordei pensando em você e desejei voltar no tempo e reviver tudo que vivi ao seu lado. A cada dia que passava, pensava que era menos um, e que cada vez mais se aproximava nosso reencontro. Porque eu queria te ver todo dia. Compartilhar minhas histórias mais idiotas ou apenas deitar no seu colo e me sentir bem. Só encarar seus olhos, num simples jogo do sério, já me fazia sentir bem. Sua presença me faz bem, Sara.

Eu não sei se eu estou dizendo baboseiras nessa carta, mas eu sei que meu coração nunca parou de acelerar quando citavam o seu nome, mesmo em conversas bobas e rotineiras. Mesmo em holandês.

E não apenas uma aceleração “minha melhor amiga”. Não é só isso.

Acho que a partir do momento que eu assumi pra mim mesmo que tinha alguma coisa errada (não é possível que alguém pense em uma pessoa por tanto tempo, ou se sinta tão tocado só na menção do nome dela, ainda mais com essa pessoa estando a quilômetros de distancia!), foi mais fácil assumir em público o que era: Eu estou apaixonado por você.

Amor, ou seja lá qual for o nome desse sentimento maluco, eu sei que o que eu sinto por você tem força. É tão intenso que passou por cinco anos. Sem modificação.

Sei que a vida muda o rumo das coisas, e que você provavelmente já tem uma nova vida construída. Um namorado, não tenho dúvidas. Não quero destruir tudo que você já construiu, muito pelo contrário. Porque eu quero fazer parte do seu presente e do seu futuro, já que perdi uma parcela do seu passado. Eu desejo toda felicidade do mundo pra você, desejo que todos os seus sonhos se tornem reais e eu desejo poder ver isso tudo acontecer.

E mesmo que a gente nunca dê certo, ou que no fundo a gente chegue a conclusão de que nosso lance é, sempre foi e sempre será, a amizade, eu preciso que você saiba disso tudo. Porque agora gostar de você faz um sentido enorme para mim.

Mesmo que a gente se separe, quero que você saiba que eu nunca vou esquecer de você. Seu sorriso vai aparecer na minha mente toda vez que eu fechar os olhos e mesmo que você nem lembre mais o meu nome, eu vou lembrar exatamente da inquietude de seus olhos em paralelo a vermelhidão de suas bochechas quando você está envergonhada. Como deve estar agora.

Reencontros, trufas e anjosOnde histórias criam vida. Descubra agora