Capítulo III

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- Tchau filha, qualquer coisa me liga! - Minha mãe parecia muito animada por conta da viagem que ia fazer com meu pai.

Após ouvir várias vezes eles dizerem para me cuidar, sorri ao ver a porta se fechar e eles irem embora.
Finalmente sozinha, liguei o som um pouco baixo e me joguei no sofá.

Olhei em volta, a casa era aconchegante, os tons azuis davam um aspecto mais vivo. Ainda tentava me acostumar. Fazia uma semana que estava aqui. Meus pais passaram todos os dias em alerta tentando passar o máximo de tempo comigo, o que me deixava com uma sensação estranha.

Precisava pôr meus pensamentos em ordem, mas um barulho de notificação tomou conta do ambiente, peguei rapidamente o celular e após ler a mensagem de Vina avisando que viria, percebi que meu tempo para organizar minha mente já estava indo pro ralo.

Enquanto digitava: "Vocês não precisam vir", ouvi a campainha tocar, pensei que não poderia ser eles, contudo assim que abri a porta, percebi que estava errada.

- Olá! - Vina me abraçou calorosamente enquanto os outros dois adentravam a casa.

Fechei a porta e sentei no sofá os observando, mal chegaram e dois seres estavam discutindo. Vina e Fernanda pareciam duas crianças, era muito divertido.

- Eu disse que vou colocar Sertanejo! - Nanda diz firme com sua escolha enquanto pegava o controle do som.

- Nem pensar! Não quero ouvir essas músicas de sofrência! - Puxa o controle das mãos da garota.

- Ora pois, é só tampar os ouvidos. - Retruca simplista.

Suspiro voltando minha atenção para o rapaz ao meu lado, que até então não falou nada, apenas observou toda a situação.

- Eles sempre vão ser assim. - Diz com tranquilidade.

Seu olhar se volta para mim e sinto meu coração vacilar, merda.
A ideia de me apaixonar por alguém não me agrada, não é como se eu não quisesse, mas é tão complicado.

Imediatamente começa a tocar uma música sertaneja, pelo visto uma certa garota conseguiu vencer.

- Então, você quer beber alguma coisa? - Levanto tentando quebrar o clima estranho que estava se formando.

Ele parecia perceber minha tensão, vi seu sorriso de lado, aquele sorriso perfeitamente lindo.
Pisco algumas vezes, esse com certeza não era o foco, desvio o olhar para o chão esperando sua resposta.

- Vou querer um pouco de água. - Enquanto caminhava, sua mão tocou a minha me fazendo parar imediatamente.

- Eu vou com você. - Suas palavras apenas me deixaram mais tensa ainda. Maldito seja.

Não falei nada, apenas segui para a cozinha e ele me acompanhava. Peguei um copo pondo um pouco de água e o entrego.

- Aqui. - Falei evitando a todo custo o seu olhar.

O vejo colocar o copo sobre a pia e cruzar os braços enquanto me olhava.

Matheus é muito bonito. Seus olhos castanhos são chamativos de uma maneira inusitada, seu cabelo castanho levemente bagunçado o deixam ainda mais bonito. Ele estava usando óculos que o deixavam ainda mais... interessante.

- Desculpa. - O olhei completamente confusa e ele continuou. - É que ultimamente não falo com você direito. - Pausa se aproximando e segurando minhas mãos. - Eu fiquei com tanto medo de te perder.

Senti sinceridade em suas palavras, sorri minimamente e balancei a cabeça negando.

- Não precisa se desculpar. - Olhei para uma rosa que estava em um jarro, era uma das que o mesmo havia me levado. - Gostaria de saber o motivo de você levar rosas vermelhas sempre que ia me visitar.

Seu semblante estava sério, porém no momento em que abriu a boca para responder, outra pessoa apareceu para nos fazer companhia.

- A gente veio aqui pra perturbar a Mel, e não pra ficar de namorico, senhor Math garanhão. - Provoca Vina nos fazendo corar.

Solto nossas mãos e sorri sem graça coçando minha nuca. Fernanda aparece no cômodo animada.

- Gente, querem jogar? - Mostra o controle em mãos fazendo os garotos sorrirem.

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Me despedi novamente dos meninos agradecendo a visita tão agitada. Não tinha sido tão ruim assim afinal.


- Vai ter revanche, na próxima vez eu que vou ganhar! - Vina diz convencido.


Ri um pouco me lembrando das partidas em que nós jogamos e ele perdeu maioria.


Vina é bastante animado, assim como Nanda. Ele é loiro e os olhos âmbar. Matheus e Vina amigos de infância e isso explica sempre estarem juntos.

- Ainda não entendo o motivo da gente não poder ficar pra dormir. - Dessa vez o outro diz fingindo decepção.

Nanda que também presenciava a situação ao meu lado, arqueou uma das sobrancelhas.

- Vai ser noite das garotas e não dos garotos! - Olha as próprias unhas grandes em sinal de deboche.

Vinícius coloca a mão no peito fingindo dor e entra no carro esperando o amigo.

- Caramba, temos aqui a senhora bravinha. Já vou indo, mas antes. - Me olha novamente e me abraça. - Depois conversamos sobre aquilo. - Sussurra causando leves arrepios em meu pescoço. Retribuí o abraço meio sem jeito.

Ouvimos a buzina, era o brincalhão dentro do carro querendo ir logo embora. Nos afastamos rapidamente e ele seguiu para o carro, me deixando desnorteada.

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Estava sendo uma noite muito divertida, cuidamos da pele enquanto falávamos sobre várias coisas. Uma vez ou outra ela olhava meio desconfiada, mas deixei esse pensamento de lado, poderia ser coisa da minha cabeça

Optamos por assistir um filme de romance, a cada parte bonita que passava ela ficava agitada e chegou a chorar se lamentando por não ter ninguém.

Mesmo me mantendo firme, meus olhos lacrimejam quando no final, o casal não ficaram juntos. E lá estavam duas garotas de 17 anos chorando por conta de um simples filme enquanto comiam doces e outras besteiras.

Respirei profundamente enquanto colocava o lençol, era uma tarefa tão chata.

Me pergunto o que poderia fazer, estava em dúvida se contava ou se continuava meu fingimento até perceber onde tudo iria.

Ao deitarmos, novamente a Nanda falou sobre diversas coisas, me fazendo rir bastante em algumas situações, até que em um certo momento, me olhou seriamente e as palavras que saíram de sua boca me fizeram ficar estática.

- Eu sei que você não é a Mel, então quem é você?

Nota mental:
Mentiras são viciantes como drogas, nunca abuse muito delas, ou então, irá afundar cada vez mais.

Minha Outra VidaWhere stories live. Discover now