Capítulo 2

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Ok, eu falei de J.J. antes da hora, então, é melhor eu explicar logo de uma vez quem ele é.

E pra isso, vou continuar exatamente de onde eu parei. Do momento em que eu e as minhas amigas estávamos à deriva esperando pelo início do primeiro tempo de aulas...

O sinal tocou com aquele ruído cansativo e irritante, e eu me levantei com todo o charme, a bolsa cor-de-rosa numa mão e o Latte que Cameron tinha acabado de trazer em outra. Começar a jornada incessante e completamente estressante de estudos de novo não era exatamente o que eu tinha em mente pro último semestre do colegial, mas mesmo assim, eu tinha que erguer a cabeça, entrar naquela sala de aula e ser a aluna modelo como todos os anos.

Pois, afinal, eu era o exemplo.

As meninas se levantaram só depois que eu já estava de pé, e, uma após a outra, com Hilary sempre ao meu lado direito e Cameron sempre ao final da fila, começamos a, literalmente, desfilar pela escola.

O sol estava brilhando como sempre na Califórnia, naquela terra em que parecia nunca ter tempo ruim. Respirei fundo enquanto andava, terminei meu Latte e Cameron correu a tirar o copo plástico da minha mão antes que minha pele ficasse grudenta. Estávamos quase pra adentrar os portões do St Phillip High quando o vi pela primeira vez.

Se algum dia eu me tornasse pagã e me dissessem que havia um Deus da beleza, eu diria que esse Deus era uma mulher e que essa mulher era eu. Mas se, na minha posição de Deusa, eu tivesse que optar por um homem digno da posição de meu parceiro como os mais belos seres do universo, com certeza seria aquele garoto.

Eu nunca o havia visto antes, nem no St Phillip, nem em nenhuma outra escola de San Diego. Ele não era daquela cidade e disso eu tinha certeza absoluta, pois um garoto tão absolutamente glorioso jamais passaria despercebido ao meu olhar. Nada disso. Ele era novo, novíssimo ali, perdido com uma mochila nas costas e um papel - que eu supus que era o mapa da escola - nas mãos.

Reduzi o passo e semicerrei os meus olhos azulados perfeitos e delineados. Aquele sim era o tipo de garoto que não se via em qualquer lugar. Alto, corpulento, com os cabelos curtinhos - provavelmente raspados - e pretos, tinha a pele morena natural, do tipo que não se ganha com nenhum tipo de bronzeamento, artificial ou não. Suas feições eram perfeitas, seu andar era decidido, seu rosto era sério e divino ao mesmo tempo.

- Quem é aquele? - eu perguntei, pra nenhuma delas em especial, e apontei meu indicador com a unha perfeitamente manicurada na sua direção. As Sereias se apressaram em olhar.

- Ele é ton marravilhosso... - Agatha disse por todas nós, com seu sotaque francês falso e completamente forçado, que ela usava pra fazer valer o sobrenome French.

- Cameron? - chamei. Ninguém atendeu, e ninguém apareceu. Rolei os olhos e me virei, afastando todas ao mesmo tempo - Cameron! - exclamei, mais alto, e ela apareceu, assustada como um cordeirinho bobo.

- Sim, Melody? - e tentou um sorriso. Patética.

- Você tem até a hora do almoço pra descobrir quem é aquele - e apontei de novo. Ela se espichou pra olhar - Não olhe! - e se encolheu de imediato - Garoto. - completei - Fui clara?

- Pode deixar comigo!

- Não me decepcione, Cameron. Eu não tolero mais uma das suas gracinhas!

Então me virei e continuei andando.

Passei por ele, sentindo o cheiro delicioso de um perfume que nunca senti e nenhum outro homem. Gravei-o na memória, com a decisão de que descobriria qual era, e continuei, olhando sutilmente pra trás quando estávamos mais adiante.

Dez Coisas - O diário de uma patricinhaWhere stories live. Discover now