Cap 07 - O Alvo

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Anitta

Charlie ainda não deu notícias e isso só piora minha angústia. Os tremores voltaram, a dor de cabeça piorou. O neurologia passou uma série de exames e dois remédios, um para dor e outro para os tremores. Já tomei os dois e nenhum efeito diminuiu essa sensação.

Tomo uma xícara forte de café e deixo a televisão ligada só para não me sentir tão só. Já passa da meia-noite quando meu celular toca e dou um salto no sofá, olho o visor e o número é desconhecido... Será que?

Não sou de fugir de nada, então atendo, tentando manter minha voz forte o suficiente. Mesmo que por dentro o medo esteja a todo vapor e que os tremores tenham piorado, respiro fundo.

-Alô?

-Anitta?

Uma onda de alívio percorre meu corpo. Conheço a voz, mas não é dele.

-Heitor?

-Fico feliz que já conheça minha voz. Te acordei?

-Não, eu... Durmo tarde.

-Imaginei. – Ele pigarreou – Mesmo assim desculpe, eu só consegui ter tempo agora.

-Tudo bem, trabalhar de garçom deve te dar poucas horas de sono.

Ele riu.

-Você gosta de lembrar de como me conheceu.

-Tem algum problema com sua profissão?

-De maneira alguma, ao contrário, acho muito digno, mas eu sou várias coisas.

-Ah é?

-Você não faz ideia.

Ri, sem jeito. Ainda bem que ele não podia ver meu rosto. O que aquele homem queria comigo?

-Heitor, você não deve ter ligado apenas para verificar se eu estava acordada.

-Não.

-Então?

-Gosto do fato de você ser sempre tão direta.

-Deve ser uma qualidade em muitos momentos.

-Com certeza. Bom, vamos ao assunto, eu quero te convidar para um passeio.

-Outra barraquinha?

Ele gargalhou e eu acompanhei com uma risada tímida. Que facilidade ele tinha de expressar o que sente, quem dera eu tivesse um pouco disso em mim,  falo o que penso nos momentos certos, planejo minhas atitudes e até minhas reações, mas expressar sentimentos? Isso não existe para mim.

-Não, apesar de ter certeza que você adorou nosso lanche.

-Adorar é um tanto exagerado, mas foi gostoso. – Afirmei – Suas conversas são sempre assim? Rodando em pontos aleatórios?

-Só com você. Acho que gosto de ouvir sua voz e prolongo qualquer possível assunto.

Engoli seco e dessa vez não tinha respostas.

-Então? Vamos passear?

-Por que eu iria? – Desafiei.

-Porque você gosta da minha companhia.

-E você é bastante modesto.

Rimos.

-Te pego amanhã, 7:00. Vista uma calça confortável, meia, tênis e uma blusa com manga, talvez aquelas que protegem contra o sol.

-Eu não me ouvi dizendo que irei.

-Você vai, afinal que graça tem ficar enfurnada no apartamento o dia inteiro?

Venenosa (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now