Distopia Romena

Par Abyss-Rose

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[EM REESCRITA] Medo; uma sensação tão trivial. Trivial quando seu lar é imperado por monstros julgados como m... Plus

Mapa - România Regală
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - Azul Oceano
Capítulo 2 - Vermelho Sangue
Capítulo 3 - Sorriso Mordaz
Capítulo 4 - Orgulho Ferido
Capítulo 6 - Fada de Chifres
Capítulo 7 - Seus Olhos
Capítulo 8 - Zacusca com Neve
Capítulo 9 - A Provação (Parte 1)
Capítulo 10 - A Provação (Parte 2)
Capítulo 11 - Sangue, Suor e Desespero
Premiação

Capítulo 5 - Chuva de Pétalas

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Par Abyss-Rose

Elena

Era incrível como as coisas aqui funcionavam. A alegria nunca durava muito, e se durasse, podia desconfiar.

À poucos instantes atrás eu estava cheia de empolgação por ter passado no pré-teste. Mas como sempre, algo veio para estragar: os metidinhos. Eles roubaram minha felicidade como doce de criança. Me fizeram sentir uma inútil. Uma fracote. Coisa que, convenhamos, eu não era.

"Entenda Elena, sempre terá alguém melhor que você nesse mundo", dissera minha mãe certa vez. Pensei nisso naquele momento, não era à toa meu queixo enrugado, segurando para não desabar.

Eu a compreendia perfeitamente, mas por que me doía tanto? "Por que mesmo me esforçando tanto, sou a pior no final?", remoí na cabeça por um bom tempo. Por fim, respirei fundo, decidida a seguir em frente. Mas nem sempre o coração é aquele que obedece.

A raiva se tornou tristeza, depois desilusão, e depois... nem eu sabia. Antes pisando forte, fui afrouxando o passo, à medida que as emoções também afrouxavam.

— Ei, a braçadeira! — disse alguém. Eu pouco me importava.

Nem sequer olhei seu rosto, apenas repuxei o velcro e entreguei aquele treco. Segui adiante na calçada até um magrelo alto que eu conhecia tão bem.

— Nossa, você tá péssima — disse Nicolae. A ventania fria que veio de súbito balançou seu cabelo afro, obrigando-o a fechar os olhos.

A verdade nua e crua doía.

— Valeu, senhor óbvio — ajustei meu cabelo castanho e suado, que teimava em escorregar no rosto. Optei por soltá-lo de vez, que deslizou até o fim de meu pescoço.

— E aí? — O marmanjo arregalou os olhos, na dúvida e expectativa, trazendo os ouvidos mais perto para ouvir a notícia. — Passou?

— É... eu passei — jamais imaginei que eu diria isso naquele ânimo. O dia tinha sido pior do que pensei.

— Fala sério! — Ele me balançou com suas mãos, ao colocá-las em meus ombros. O mulato ficou assim por um tempo, até se dar conta.

— Cadê a alegria?! Aconteceu alguma coisa?

— Não, é qu- — Nicolae me interrompeu.

— Tem a ver com aquelas câmeras né? Eu devia saber que significavam alguma coisa.

— Câmeras? — Franzi o cenho, tentando ligar os pontos.

— É, tinham várias e estavam funcionando. Não percebeu não? O monitoramento devia estar pesado, eu até vi que tava assustada.

A queda de temperatura brusca e o vento gelado, que marcavam o começo do inverno, me fizeram lembrar que eu esquecera de algo. Algo bem importante.

— Merda — murmurei, o suficiente para cortar a fala de Nicolae. Corri em disparada até a quadra, sem mais nem menos.

— Onde tá indo?! — O garoto berrou, para compensar toda a distância que se formava entre nós.

— Meu casaco! — retruquei, esbaforida.

Os passos eram energéticos, impacientes para chegar no destino. Não demorou muito, mas com a pressa que martelava em minha cabeça, cada segundo parecia um pedaço da eternidade.

Ao ultrapassar a pista de corrida vermelha e circular, abri a porta feita de grades, que levava até a quadra. Acelerei reto, de encontro com o pedaço de tecido alaranjado ao lado do bebedouro. O agarrei, levei-o ao peito e suspirei, aliviada. Aquele casaco era quase a minha vida.

— Aquela garota, a número um, é uma boa candidata — ouvi ressoar em um dos cantos da quadra. Meu coração quase parou.

E depois, disparou. Isso porque, na minha pressa desenfreada, não percebi que estivesse alguém ali. O finalzinho de tarde era perigoso. "Merda, merda, eu tinha que ser descuidada". Senti os pelos eriçarem de puro pavor.

— Ela segue os padrões — replicou a voz de outro tom.

Manti-me agachada, com os olhos tão arregalados que poderiam saltar do rosto a qualquer momento. O som barulhento e rápido do meu coração ecoava nos meus ouvidos. Era só questão de tempo, eles notariam minha presença. 

Mas meu corpo havia travado, eu estava sucumbindo ao pânico.

— Enviarei um comunicado imediatamente.

Engoli saliva. Cada vez mais o céu se manchava de vermelho, e mais escuro ficava. O único poste ligado no canto era como um porto seguro; um que eu evitava. Caso contrário, minha localização ficaria ainda mais aparente.

Resumindo, o local me apavorava. O motivo? Bom, era óbvio: ninguém nessa cidade estava seguro.

Num ato de puro desespero, disparei até a saída, fechando a porta de grade com um arremesso desvairado. Corri de encontro com o magricela, tremendo dos pés à cabeça.

— Que quê foi? Por que tá assim? Viu um fantasma? ... Ei, por que não fala nada?! — Articulou meu melhor amigo, com sua fala turbinada.

— Vamos andando — falei por fim, ansiosa, olhando ligeiramente para trás. Minha voz tremia tanto quanto minhas pernas. 

E é claro, Nicu entendeu meu estado. Ele ficou mais alerta aos arredores, e juntos, apressamos o passo, seguindo até o ponto de bonde mais próximo. As batidas do coração ainda pulsavam no ouvido.

— Acho que ouvi vampiros — cochichei. Nicolae já tinha captado a mensagem. Minha expressão denunciara o óbvio.

— Eles te viram?

— Claro que não, não é à toa que ainda tô viva — estrilei por cochicho.

O silêncio brusco nos atingiu. Apertei o passo, mais ainda, temerosa.

— Ei, por que não te vi mais ali nas grades? — Indaguei ao perceber estar longe o suficiente da quadra, para quebrar a mudez.

— Você nem vai acreditar. Me expulsaram.

A careta enfezada do magrelo me fez rir por achar engraçado e de nervoso, ao mesmo tempo. Segui o caminho até em casa assim, um pouco mais leve, debochando da cara de meu melhor amigo e seu jeito inconformado. Eu ainda sentia a pressão; parecia que olhos estavam cravados em minhas costas. Só não era mais pavoroso por Nicolae estar ao lado. Me peguei correndo pelas ruas.

Só senti alívio de verdade ao pousar os pés no tramvaiul*.

— Tá certo, tá certo... eu faria a mesma coisa. — Eu disse, subindo no bonde elétrico e me aquietando só daquela vez. Era deselegante conversar em transportes públicos.

***

— O que você tava falando mesmo? Sobre câmeras? — Perguntei, deitada na cama de baixo do beliche.

Coloquei os braços atrás de meus cabelos recém lavados e estiquei as pernas. Os fios rebeldes e mel escuros de minha irmã caçula caiam como uma cascata da cama de cima, pinicando minha bochecha. A peguei olhando para mim, dependurada. Assoprei os fios e cutuquei seu nariz insuportavelmente bonitinho.

— Ahhh! — Exclamou o pardo. — Lembra de quando gesticulei nas grades? Então, era pra te avisar que tavam ligadas. Achei que serviria de algo, sei lá, tava tentando ser útil — balançou os ombros.

— Como sabia que tavam ligadas? — Contestou minha irmãzinha, com uma careta.

— Ué, elas mexiam pra lá e pra cá. Não tem mistério — disse o marmanjo, sentado na cadeira ao lado da escrivaninha.

Considerei aquela informação interessante, porém não tinha ideia para que serviria. Parei para pensar um pouco. "Câmeras, guardião...", imaginei que era de se esperar do pré-teste das Forças Armadas ser importante. "Mas e daí?", matutei. Antes que eu pudesse concluir alguma coisa, ouvi um berro.

— A sopa tá pronta! — Berrou meu irmão impaciente.

Nesta época de inverno, sopas eram tradição. Afinal de contas, o que é melhor que uma para esquentar? Sendo assim, eu, Petronilla e Nicolae fomos até a cozinha. Claro que a caçulinha tomou a dianteira.

Sorin costurava sentado no sofá, com sua mesinha de madeira e a máquina de costura da mamãe. Seu cabelo escuro e volumoso caía sobre o olho, e suas mãos, não paravam quietas, balançando incessantemente o alfineteiro de pulso.

— Pra quem tá costurando? — Perguntei a ele.

— Para um Hunyad — antes concentrado, sua face tomou uma expressão de nojo. — Dá pra perceber pelo tecido preto.

Olhei os cortes impecáveis e os bordados perfeitos no brocado. Eu odiava admitir, mas ele tinha talento. Percebi o olhar orgulhoso de nosso avô até Sorin, e como ele fazia questão de ir até onde costurava. Ao contrário de mim, meu irmão tinha seguido a tradição da família.

— Está perfeito, Sor — elogiou vovô. 

— Eu sei — o irmão do meio deu um sorrisão convencido. Revirei os olhos.

A vasilha de sopa fervente então foi colocada na mesa circular, assim como uma de pães. Até para nós, sopa sem pão era um sacrilégio. De qualquer forma, cada um pegou um prato e uma colher, se espremendo para sentar em seus respectivos lugares.

— Desculpa incomodar, mas não dá pra resistir a esse Ciorbă — declarou meu melhor amigo, com os olhos negros arregalados, prestes a dar o bote.

 — Você já é de casa — vovô deu tapinhas no ombro do rapaz.

Por incrível que pareça, Nicolae não foi o primeiro a tirar, e sim o último. Seus pés batiam contra o chão, e os olhos mantinham-se cravados na parede. Provavelmente ele pensava algo como: "O que os olhos não veem, a barriga não sente".

Como de costume, cada um fez sua prece antes de comer. E eu, pedi a Deus para que nos perdoasse e cessasse aquela punição divina. Eu até perdi as contas de quantas vezes implorei e supliquei por perdão.

Mas eu nunca obtive resposta. Acho que até Ele tinha nos abandonado.

Cada um comeu depois de agradecer.

— Cara, isso tá muito bom — expôs Nicu, de boca cheia, após mastigar lentamente o Ciobă de Perişoare. — Sorte minha que não foi a Lena que fez.

O encarei com um olhar fulminante, ao passo que colocava os legumes da sopa na boca.

— Ei, ei, é só zoeira — ele elevou os dois palmos no ar.

— Não é não — Sorin tirou sarro, tentando evitar a risada ao tampar a boca cheia de caldo.

— Ah, qual foi!? — Engoli e retruquei, inconformada.

Todos riram do comentário de meu irmão, menos eu, é claro. 

Após comerem, me despedi de Nicolae e lavei a louça. O dia tinha sido cansativo e amanhã eu trabalharia. Fui dormir cedo com Petronilla.

— Jê... me conta uma história? — Perguntou minha irmãzinha sonolenta, aninhada em meus braços que a envolviam cuidadosamente.

Mesmo sendo um apelido do meu primeiro nome, eu não importava que ela me chamasse assim. Petronilla me fazia odiá-lo menos no final das contas.

— Que tipo de história? — Cochichei, enquanto alisava seus cabelos volumosos.

— Uma bem feliz.

Narrei sobre uma menina de longos e cacheados cabelos mel. Vestida de sua armadura dourada, ela subiu a gigantesca escadaria do castelo, lar do tão temido monstro. Monstro esse, com olhos vermelhos e pele tão branca como mármore, que reivindicava Romênia como seu. Com uma estaca no coração, a garotinha transformou a aberração impiedosamente em pó, além de ser a salvadora de todo país.

— Depois, todos a receberam com chuva de pétalas e danças malucas... — observei a caçula, quase adormecendo — e viveu com a família num grande castelo, felizes para sempre.

"Felizes para sempre, como deveria ser", pensei, caindo no sono sem mais nem menos.

***
Dragoş

Um tênue ruído interrompeu-me e irrompeu meus ouvidos. Como reflexo, mirei um dos painéis em meu aposento. Ludovic aguardava afora e, portanto, pressionei um dos botões sobre a mesa de mogno.

"Espero que seja importante" refleti, alinhando a postura. A extensa e corpulenta porta de metal se destrancou, bem como o homem adentrou o recinto.

— Com sua licença, Maiestatea voastră — proferiu o nobre conforme reverenciava. Vislumbrei de súbito seus brilhantes olhos cobalto, e dessarte, gesticulei com a mão para que continuasse.

— Trago notícias.

— A respeito de? — Indaguei, unindo meus dedos alternadamente.

— A respeito do projeto.

— Prossiga — recostei na cadeira, com um estreito sorriso de satisfação.

— Foi achado um integrante com potencial — Ludovic transpassou o dedo pela tela que portava em seu palmo. Abruptamente, o conteúdo se transferiu ao meu monitor. Estreitei os olhos.

— Isso é só, por ora.

— Muito bem — fitei seus olhos por um breve momento. — Dispensado. 

O ruivo respondeu com um leve aceno de cabeça e se dirigiu para além da sala. A porta retumbou.

Encarei a figura loira exibida no monitor, o integrante em potencial. Ao ler as informações, mais meu sorriso se alargava. "Muito bom, excepcional", ponderei, com os lábios escancarados. Gargalhei de entusiasmo.

"Está tão perto", cismei enquanto me embebedava de sangue.

Glossário:

Tramvaiul - "Bonde" em romeno.

Ciobă de Perişoare - Literalmente "sopa de almôndegas", é uma sopa de legumes e almôndegas azeda tradicional romena. As almôndegas são feitas de carne de porco, misturadas com arroz e especiarias. Já a sopa de legumes, com cebola, mandioca-salsa, aipo e pó azedo.

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