Garotas Rebeldes em Combustão

By emeemys

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Nina Avante tem um plano: até o fim do ano, ela vai revelar aos pais que não pretende continuar naquilo que e... More

1 - combustão
2 - ritual das noites de sexta
3 - colecionadora de ideias descartáveis
4 - super-homem
5 - beijos de festa são superestimados
6 - caixas de fósforos jogadas no chão
7 - uma banda chinfrim de garagem
8 - somos ou não garotas rebeldes?
9 - vermelho brilhante
10 - eu nem gosto de filmes tanto assim
12 - até o clark kent precisa dormir
13 - batons de baixa qualidade
14 - epifania
15 - as irmãs avante não bebem chá
16 - péssima em seguir roteiros
17 - terráquea fora da terra
18 - fogo tem tudo a ver com rebeldia
19 - precisamos de alguém no teclado
20 - se eu quebrar as regras
21 - videoclipe
22 - sintonia
23 - não sabemos dar autógrafos
24 - eu definitivamente beijaria frida tropelia
25 - ressaca moral
26 - garotas orgulhosas
27 - listas inacabadas
28 - velha laguna não tem lagos
29 - garotas mentirosas
30 - em mar aberto
31 - toda banda que se preze tem um comeback
32 - o maior show que essa cidade já viu
33 - pizza de quatro sabores
34 - garotas rebeldes

11 - garotas hipócritas

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By emeemys

EU NÃO PARO de pensar que Frida Tropelia é uma hipócrita. Não ela exatamente, mas o seu nome. Como uma aspirante a escritora, eu tenho esse costume idiota de pesquisar significado de nomes para personagens. Descobri na noite passada que Frida significa paz, passividade. Tropelia, por outro lado, significa confusão, travessura. Pelo menos o sobrenome combina com ela, porque eu posso garantir que não há nada de pacífico naquela garota. Defendo com convicção a ideia de que ela nasceu para tirar a minha paz.

Sério. Acho que Deus, quando estava criando a Frida, olhou para ela e pensou: seu objetivo na Terra vai ser perturbar todos os pensamentos de Nina Avante. mesmo que eu ainda nem tivesse nascido. Sério, acho que é impossível alguém no mundo ser capaz de atormentar outra pessoa como Frida me atormenta, não como ela faz. Ela nem mesmo se esforça, é algo irritantemente natural. Porque, sabe, Ardentia significa fogo. E ela me contou isso quando éramos crianças, no mesmo dia em que acendi um fósforo pela primeira vez, e perceber que a verdade estava na minha cara esse tempo todo me deixa muito irritada.

Sinceramente, me sinto a garota mais estúpida, burra e idiota da face da Terra.

E eu nem vou começar a falar em como, coincidentemente, o meu nome significa fogo também.

Conto mais uma noite sem dormir, e acho que estou tão cansada que nem sinto mais o meu corpo pedir socorro. Estou surpreendentemente elétrica, só não sei por quanto tempo. Tomo um banho frio e bebo três xicaras cheias de café assim que meu despertador avisa que já são cinco e meia da manhã, e eu calço meus tênis enquanto me certifico mais uma vez de que Frida só possui um vídeo postado no YouTube.

É claro que ela toca ukulele. Não querendo generalizar ou coisa do tipo, mas, sei lá, faz bem o estilo dela. Sentada no chão do que eu imagino ser o seu quarto, ela dedilha as cordas do instrumento amarelo, cantando uma versão acústica da primeira música que tocaram na Praia das Tartarugas. Segundo o YouTube, o vídeo foi postado há dois anos. A banda nem existia ainda. E, por algum motivo até então desconhecido, a garota usava Frida Ardentia como nome, e não Frida Tropelia. Já vi o vídeo umas oito vezes durante a madrugada. Acho que está na hora de parar um pouco.

Não sei por que eu achei que, quando descobrisse o que o A no seu nome significava, tudo se resolveria e esses pensamentos me rondando secariam de uma vez, pra valer. Talvez isso realmente acontecesse se, sei lá, ela tivesse um sobrenome comum. Eu pararia com essa minha busca ridícula e sem sentido se ela se chamasse, sei lá, Frida Amorim ou Frida Aguiar. Mas precisava ser Ardentia? De todos os sobrenomes existentes no mundo inteiro, precisava ser logo esse?

É improvável que exista mais de uma família com o sobrenome Ardentia em Alto-Mar, assim como só há uma família Avante. Somos amaldiçoadas pelos nossos sobrenomes diferenciados. Então, seguindo essa lógica, é claro que Frida tem alguma ligação com o meu local de trabalho, o que tá me deixando puta da vida. Ela nem gosta de filmes tanto assim, mas é dona de uma locadora? Da minha locadora? Como eu disse, hipócrita.

E meu Deus do céu. Acabo de perceber que cobrei a ela dois reais pelo aluguel de um filme. Cobrei dois reais da garota que com certeza tem o total direito de alugar DVDs de graça sempre que quiser.

Sei que Damião odeia isso, mas vou ser obrigada a dar à Frida um reembolso.

— Já são seis e meia, Nina. Vai perder o ônibus se não se apressar.

Merda. Acho que estou há uns bons cinco minutos com os olhos na TV desligada, minhas mãos nos cadarços amarrados pela metade. Meus pensamentos vão em Frida, depois em um vídeo solitário no YouTube, depois na Ardentia Locadora. E tudo se repete, de novo e de novo, nessa espécie de ciclo irritante e sem fim. Frida. Vídeo. Locadora. Sinto que estou nesse modo automático de pensamento desde a madrugada.

— Hoje não vai dar aulas, não é? — mamãe pergunta, parada no meio da sala enquanto beberica sua xícara de chá. — Vai chegar mais cedo em casa?

— Uhum, prometo.

Busco uma maçã na bancada da cozinha antes de sair. Estou com medo de dormir no ônibus e acabar perdendo a minha parada, então vou usar a tática da comida. Não dá pra dormir quando se está no meio de uma refeição, não é? Eu acho.

Desço as escadas e caminho até a parada de ônibus tentando recapitular todas as coisas que eu sei até o momento, ou o que acho que sei. A certeza que tenho é: Frida está na internet. Essa foi a única vitória que tive desde que comecei com essa pesquisa. Nada de redes sociais, no entanto, apenas um vídeo antigo dando sopa na rede — e com poucas visualizações, o que nem faz sentido porque a música é boa. Mas ela está na internet. Não como Frida Tropelia, ou Lennon Tropelia ou Lennon Estrela. Mas como Frida Ardentia. Minha nossa, acho que eu nunca vou me acostumar com isso.

— Bom dia, mocinha, tá distraída hoje? — pergunta o motorista do ônibus 104 quando quase tropeço nos degraus do ônibus, antes mesmo de passar da roleta.

— Só um pouco, Seu Wilson. Bom dia pro senhor.

Encontro um assento vazio quase nos fundos, meu corpo preguiçoso fazendo com que eu apoie minha cabeça na janela em um movimento involuntário. Eu não posso dormir, mesmo que eu precise desesperadamente de algumas horas de sono. Tiro a maçã da mochila, dando uma mordida e mastigando devagar, sem forças nem pra isso. Pelo visto, as três xicaras de café não me adiantaram de nada.

Frida Ardentia Tropelia. Saber disso só piorou tudo, me deixando mais curiosa do que nunca. Mas eu sei de alguém que pode me esclarecer algumas coisas mais tarde.

Só preciso ficar bem acordada até lá.

DORMI DURANTE TODA a aula de História, e Iara não quis me acordar nem durante o intervalo. Desperto pouco antes do sinal tocar para o horário de Química, minha melhor amiga estendendo para mim uma barra de chocolate crocante comida pela metade.

— Que horas são?

— Já passa das nove. Você tá um caco, amiga — ela diz, me encarando com seu olhar de compaixão e alisando meus cabelos amassados quando aceito a sua oferta. Dou uma mordida no chocolate enquanto luto para manter meus olhos abertos. — Parece que você não dorme há dias, Nina, e isso tá me deixando preocupada. Não tô dizendo que você me deve explicações, porque somos garotas autossuficientes e tudo o mais e eu sei que não é da minha conta, mas eu adoraria saber o que tá rolando.

Me ajeito na carteira, minhas costas doendo por ter ficado tanto tempo nessa posição desconfortável. Quem mandou a professora apagar as luzes e passar um filme antigo em preto e branco? Quero dizer, eu nunca reclamaria por ver um filme durante a aula, mas hoje foi impossível de aguentar. Dormi por horas e eu não me orgulho disso.

— Eu meio que tô ajudando uma banda. Sabe, a Garotas Rebeldes em Combustão.

— Sério? Desde quando?

— Desde ontem? — respondo, dando mais uma mordida no chocolate. — Eu fui ao show de estreia e adorei a banda. E aí descobri que as garotas precisavam de ajuda e não consegui recusar a oferta.

Iara se ajeita na carteira, cruzando as pernas e me encarando com as sobrancelhas franzidas.

— E você tá fazendo isso à noite, depois do trabalho? — Concordo, sorrindo mostrando os dentes. — Isso não vai te ferrar lá na sua casa, não?

— Já me ferrou. Mas eu consegui dar um jeito, não se preocupa.

O sinal toca no corredor, e eu enfio o restante do chocolate crocante na boca. A próxima aula é de Química e eu vou precisar me esforçar muito para não voltar a dormir.

— Só me avisa, tá? Caso dê algo errado nessa história. No que eu puder ajudar, eu tô aqui — ela garante, e eu assinto. Iara relaxa a postura, como se estivesse tensa segundos antes, e então sorri, animada. — Caraca, Nina, você tá numa banda!

— Eu não numa banda. Eu sou só a ajudante delas.

— Mesmo assim, é muito maneiro. E eu soube que uma tal de Frida Tropelia faz parte dela, não é? — ela comenta, entonando o nome da garota de um jeito irritante.

Solto um resmungo contra minha vontade, fazendo uma careta. Desde que essa conversa começou, eu não havia pensado em Frida nem uma vez sequer, mas agora tudo volta muito rápido. Frida. Vídeo. Locadora. De novo e de novo e de novo.

— E o que tem?

— Nada, nada — ela diz, me olhando de soslaio como se analisasse meus movimentos ou sei lá o quê. — Mas é que, de um jeito completamente heterossexual, é claro, eu acho que você fica muito gay perto daquela garota.

Ergo uma sobrancelha. Isso nem faz sentido.

— Do que você tá falando?

— Não sei explicar, mas você ficou toda nervosa quando ela apareceu lá na locadora, como se tivesse uma super queda por ela ou coisa do tipo — Iara explica, dando de ombros. — Mas eu entendo. Ela é a Frida, né? Gata pra caramba. Eu também ficaria nervosa se ela falasse comigo.

Antes que eu possa responder, o professor de Química aparece na classe, como sempre usando uma das suas camisetas xadrez e a sua calvície exagerada. Tiro o caderno da mochila, ainda pensativa, tentando entender o que Iara quis dizer.

Sei que eu fico nervosa perto de Frida, mas não tem nada a ver com a sexualidade dela ou coisa parecida. Ou muito menos com a minha sexualidade. Ela só me deixa, sei lá, intimidada. Talvez pela nossa diferença irritante de altura, ou por seu jeito de durona — que não condiz em nada com a realidade —, ou só por ela ser mais velha do que eu. E bem, éramos amigas, não é? Ou quase isso. Acho que é inevitável ficar levemente nervosa perto de alguém que costumava te conhecer em uma época constrangedora da sua vida. Porque, nossa, Frida me conheceu quando eu ainda brincava com bonecas e chorava assistindo Barbie.

Mas Iara não sabe disso. Não que essa antiga relação seja um segredo, mas o tipo de coisa que Frida e eu nutríamos não tinha nada a ver com a amizade que minha melhor amiga e eu temos desde sempre. Frida era uma amiga apenas quando estava lá em casa, porque, mesmo ela tendo a idade da minha irmã, Carmela não gostava muito de interagir com desconhecidos, e eu sentia que era papel meu fazê-la companhia enquanto estivesse por lá, mesmo que mamãe não me pedisse isso. Longe do meu apartamento, nós nem tínhamos oportunidade de trocar muitas palavras. É por isso que não a considero uma amiga de verdade. Éramos garotas que interagiam por falta de opção. E aí ela desistiu das aulas, e bem...

— Abram o livro na página 223 e comecem a ler a partir da questão número...

Solto um suspiro, desistindo temporariamente da minha vida acadêmica. Me desculpa, professor, foi mal mesmo, mas que se dane. Desligo o meu cérebro e, não resistindo a baixar a cabeça mais uma vez, fecho os olhos e caio no sono imediatamente.

ATENDO UMAS SETE pessoas antes que meu chefe me peça ajuda com o caixa, eu arrastando meus pés e meu cansaço para trás do balcão. Assisto Damião dar uma olhada na lista de filmes devolvidos na última semana enquanto conto o dinheiro da locadora, conferindo duas vezes para não errar.

Preciso perguntar de uma vez por todas. Arrancar o band-aid, como Dona Ângela costuma dizer. Vamos lá, Nina, você consegue. Seja casual.

— Dam, posso te fazer uma pergunta? — Ele assente, ainda conferindo a lista amassada em suas mãos. — Quem cuidava da locadora antes de você começar a trabalhar aqui?

Damião me encara, notavelmente curioso. Continuo com meus olhos na caixa registradora, tentando soar como quem não quer nada. Pode soar apenas como uma curiosidade boba pra qualquer um, mas depois do incidente naquela manhã em que eu estava vigiando Lennon, quero dizer, Frida, eu sei que o meu chefe anda de olho em mim. Não quero parecer uma maluca desesperada por informação.

— Bem, a locadora é de uma família aqui de Alto-Mar, e quem cuidava era a filha dos donos. Mas a moça faleceu há muito tempo. Fui contratado logo depois — ele explica, largando a lista sobre o balcão. — Eu cuido da locadora, mas não sou o dono dela. Os pais da garota são os meus patrões.

— É, eu sabia que você não era o dono, só não sabia quem era. Mas entendi.

— Por que tá tão curiosa pra saber sobre isso, hein? — ele pergunta, sorrindo. — Tá a fim de roubar o meu emprego, Nina?

— Não é isso! — exclamo, o que faz Damião rir. — Só queria saber mais sobre o meu local de trabalho, posso?

Ele assente, voltando a buscar a lista.

— É claro. E, só pra você saber, eu não me importaria caso você roubasse o meu emprego um dia — Dam completa, me dirigindo uma piscadinha.

Eu amo esse cara, sério. Eu nem acredito nessas coisas, mas se acreditasse, eu diria que Damião tem uma aura boa. Com exceção do Seu Arlindo, acho que todo mundo que conhece o meu chefe o adora. Ele é engraçado, gentil e muito paterno, se é que isso faz sentido. Ele tem essa energia muito paternal, cuidadosa, mesmo que nem tenha filhos ainda. Soube que ele e o marido, o Henrique, estão tentando adotar.

— Dam, você me deixa dar uma saidinha cinco minutos? — pergunta Iara já na porta, apontando para o garoto idiota parado feito um bobalhão na calçada.

— Cinco minutos, hein? — ele avisa e ela faz sinal de positivo, indo até o Juliano que a recebe com um abraço sem jeito. Damião resmunga: — Eu não vou com a cara desse garoto.

— Somos dois — reclamo, finalmente terminando com minhas contas e fechando a caixa registradora.

Outro ponto positivo do Damião: ele odeia o Juliano tanto quanto eu, e não é a primeira vez que reclamamos juntos sobre ele. Às vezes eu queria muito que o meu chefe tivesse a minha idade, porque com certeza seríamos melhores amigos. Ele estudaria comigo e andaríamos sempre juntos, discutindo sobre os filmes que assistimos durante o fim de semana e falando mal de namorados babacas de amigas em comum. Uma pena que ele seja quase trinta anos mais velho que eu. Uma pena mesmo.

Tentando ignorar o casalzinho na entrada da locadora, eu caminho até uma das gôndolas tentando juntar todas as informações que eu tenho, na esperança de que alguma coisa faça sentido. Frida nunca me falou sobre sua mãe e, pelo que eu lembro da nossa época quase-amigas na infância, nunca ouvi nada sobre ela também. Será que a antiga chefe da Ardentia era a mãe de Frida, que faleceu há sei lá quanto tempo? É o mais lógico a se pensar, e isso até que responde algumas coisas. Eu acho. Como o fato de Frida vir aqui o tempo todo, mesmo não gostando tanto assim de filmes. Mas o nome Lennon continue sendo uma incógnita.

Meu Deus. Estou há tanto tempo pensando em Frida que, por um momento, eu juro que consigo vê-la parada à minha frente. Com seu short de praia habitual, usando uma camisa com uma estampa engraçada do Pernalonga. Seus cabelos estão molhados, ainda pingando um pouco, e eu levo minha atenção para seus pés, os chinelos laranjas sujando toda a locadora com areia da praia.

— Nina!

Pisco. Será que eu dormi em pé? No estado em que me encontro, eu não duvido de nada, mas, enquanto continuo piscando pra tentar manter o foco, eu ainda consigo ver a droga dos chinelos laranjas, eles insistindo em permanecer na minha vista.

— Nina, pelo amor de Deus, me diz que você dormiu essa noite — ouço Frida perguntar, colocando as mãos nos meus ombros e me sacudindo de leve. Volto minha atenção até o rosto dela, que está com um sorriso preocupado. — Ei, tá tudo bem?

— O que você tá fazendo na locadora uma hora dessas? — pergunto, torcendo pra ela não ser uma miragem, uma ilusão da minha mente cansada que já não aguenta mais. Não quero estar falando sozinha. — Aconteceu alguma coisa?

Frida me solta, irritantemente olhando para baixo. Para o meu rosto. É, ela definitivamente está aqui. Se ela fosse apenas fruto da minha imaginação, com certeza eu a faria alguns centímetros mais baixa.

— Não aconteceu nada, bobona, mas eu preciso te mostrar uma coisa.

— Agora? Tô no meio do meu expediente.

A garota pisca para mim, dando um tapinha no meu ombro enquanto segue caminho até o balcão. Ela e Dam conversam sobre alguma coisa, riem sobre outra, até Frida perguntar se eu posso dar uma saída. Confiro o celular, percebendo que já passam das três e meia. A locadora não está tão movimentada e, bem, não é como se Damião pudesse recusar o pedido da provável neta dos donos.

— Posso voltar se você quiser, Dam — sugiro, tirando o meu avental e o pondo no balcão.

— Não precisa, Nina, pode ir — ele garante, sorrindo para mim.

Frida também sorri, ficando na ponta dos pés por um segundo, empolgada. Acho fofo quando ela põe as mãos nos bolsos do short, olhando para mim como se estivesse sem jeito ou sei lá, mesmo que continue sorrindo.

Busco minha mochila e me despeço de Iara na saída, que parece não dar muita bola para o fato de eu estar saindo tão cedo da locadora. Sei lá, mesmo que eu não faça ideia do que está rolando, sinto que há algo de errado nessa conversa que ela está tendo com o Juliano. Eu só sei. Preciso me certificar mais tarde de que tá tudo bem com ela.

— O que você quer me mostrar? — pergunto, Frida buscando sua bicicleta aos pés da calçada e a arrastando ao seu lado pelo caminho.

— Você vai ver quando chegarmos lá — ela responde, o que sou obrigada a rebater com um discreto revirar de olhos.

Frida Tropelia é uma hipócrita, mas em meio a tanta coisa, eu não posso esquecer que eu também sou. Eu sei que ela me intimida, eu sei que ela causa toda essa confusão por onde quer que passe, mas eu meio que deixo. Eu a deixo fazer isso comigo sempre que aceito fazer o que ela quer que eu faça.

A verdade é que eu estou curiosa, e isso me prejudica. Prejudica o meu bom senso e a minha certeza sobre as coisas. E qual é, toda essa curiosidade repentina sobre ela nem faz sentido, eu sei disso. Mas não tô nem aí. Sou tão hipócrita quanto ela porque, mesmo reclamando tanto da sua confusão, eu não faço nada para me afastar de Frida Ardentia Tropelia.

Acho que estou começando a gostar dessa proximidade.

— Pode me dizer ao menos pra onde a gente vai?

Ela sorri, comprimindo os olhos. Cedendo.

— A gente vai pra praia — ela revela, finalmente, e antes que eu diga alguma coisa, ela faz questão de completar: — É hoje, Super-Homem, que eu te ensino a nadar.

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