Pov Lauren
Em dias de folga tínhamos duas opções: não fazer nada além de descansar, ou aproveitar o tempo livre para fazer o que quer que tivéssemos a fazer.
Havíamos optado pela segunda opção. Eu queria algo que lembrasse meu pai, minha família. Algo maior.
Sem querer eu havia feito a escolha perfeita. Harry perguntou mil vezes qual era, mas... Eu não queria mostrar antes da hora.
-Pronta? Encontrei um lugar bacana.
-Vai doer muito?
Choraminguei. Harry apertou minha cintura.
-Um pouquinho, provavelmente, mas l estarei lá com você.
O abracei antes de irmos. Eu não me arrependeria.
-Você ainda não me disse qual é.
Abaixei a cabeça, sentindo minhas bochechas corarem.
-Não posso ver?
-Confie em mim.
Caminhávamos lado a lado.
-E se for feia?
-Ei!
O empurrei fraquinho, me ofendendo. Desci meus olhos até sua mão e passei os dedos devagar pela tatuagem que tinha ali.
Ele abriu a porta, me deixando entrar primeiro.
-Olá senhores, bom dia. No que posso ajudar?
Um cara forte em tons pretos nos recebeu. Ele sorria, mas o lugar me fazia arrepiar.
Era escuro e havia todo tipo de desenho pelas paredes. Alguns assustadores, inclusive.
-Essa moça quer fazer uma tatuagem.
Harry falou, percebendo que talvez eu tenha me assustado. Eu ainda segurava suas mãos.
-Oh, ótimo, primeira?
Ele disse olhando para os meus braços. Sorri fraco, fiz que sim com a cabeça.
-Certo, não se preocupe.
Me preocupava.
-Que tal me mostrar sua inspiração?
Respirei fundo. O moço forte se virou e eu me virei para o Harry.
-Da tempo de desistir?
-Oh querida, não precisa ter medo!
Ele disse me envolvendo calorosamente em seus braços. Senti um friozinho na barriga e pela primeira vez não sabia dizer se era por medo ou se era pelo toque dele.
-Eu te amo.
Falei, afundando meu rosto em seu pescoço.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, até enfim dizer de volta. Eu suava frio.
-Eu te amo também, você consegue.
-Podemos?
Ele voltava com os materiais.
-Sou Fábio, vocês?
-Lauren.
-Harry.
-Te conheço Harry, é um prazer tê-lo aqui.
Sorriu. Ele ainda corava com elogios do tipo, era adorável.
-Vai fazer uma hoje também?
-Não, não. Hoje apenas minha namorada.
Harry me olhou, meu coração pulava.
Fábio abriu a maleta e agulhas gigantescas e finas saíram de lá. Ele tirou um pano também e o passou rapidamente numa cadeira grande, com álcool em seguida.
-Pode se sentar, Lauren.
Eu realmente não queria soltar a mão dele agora. Dei os dois passos mais difíceis da minha vida e, com o corpo completamente endurecido, me sentei na cadeira gelada. O choque dela com o meu sangue quente me fizeram arrepiar.
Eu podia sentir o coração bater em minha cabeça e era de longe uma das piores sensações. Se minhas mãos tremiam eu nem percebia, Harry as segurava forte.
-Vamos lá, tem algum desenho ou foto que eu possa ver?
O olhei assustada. Respirei fundo e abaixei minha cabeça por um instante.
-Tem sim.
Os olhinhos verdes de Harry acompanhavam cada movimento que eu fazia.
Ele estava parado ao meu lado enquanto segurava minha mão. Levantei minha cabeça e sorri para ele, esperando que gostasse tanto quanto eu.
Pov Harry
Ela sorriu pra mim e, com as mãos trêmulas, pegou a minha e levou em direção ao cara. Meu coração acelerou, eu não entendia mais nada.
-Essa aqui, eu quero fazer uma como essa.
Ela apontou para a cruz que eu tinha na mão. O sorriso cresceu em meu rosto e no dela também.
-Lauren, não precisa... -tentei-
-É religiosa, vai me lembrar de minha família também.
Me lembrei de quando a fiz, anos atrás, uma das primeiras. Ela lembrava a minha mãe e eu nem precisava perguntar à Lauren para quem seria.
Me sentei de frente para ela, a fazendo olhar apenas para mim. O cara começou e Lauren apertou os olhos, era uma dor funda que incomodava.
Mas eu não conseguia parar de sorrir. Eu não conseguia parar de pensar no quão gentil ela era, no quão pura ela era.
Lauren me apertava, sem olhar para as mãos.
-Calma, está acabando!
Digo desviando o olhar e olhando para a mão dela, voltando em seguida.
-Como está?
Ela disse com os olhos fechados, uma lágrima escorreu pelos seus olhos.
-Está ficando linda, eu nem sei o que dizer.
Ela gemia baixinho em dor, levei meu polegar ao seu queixo.
-Último traço e... Pronto!
Ele disse, dando fim àquele barulho irritante. Lauren abriu os olhos e eu sorri.
Sua mão estava completamente vermelha e inchada, meus pensamentos foram direto no show à noite.
Porque não pensamos naquilo antes?
-Pronto, tire esse plástico em três dias. Tudo bem?
-Tudo bem.
Lauren disse se virando. Peguei em seu braço e a ajudei a levantar, o sorriso dela atravessava o rosto todo.
-Gostou?
-Sim, obrigada.
Respondeu ao Fábio, virando-se para mim.
-Sua mãe vai gostar também.
Nossos olhos se encontraram apenas por um instante, sua mão trêmula e inchada tinha toda a sua atenção.
Compramos água e ficamos no local até que ela se sentisse bem para sair de novo, mais segura.
...
-Mae já são mais de oito horas e eu não consigo encontrar minha roupa. Ela deveria estar aqui, eu deixei aqui.
-Pergunte aquela garota, qual o nome dela mesmo?
Encostei um dos braços na parede e apoiei minha cabeça, tentando me acalmar.
Eu as deixei no meu camarim, saí para jantar e quando voltei não estavam mais lá. Bianca não aparecia, Mary não poderia resolver.
Eu já podia sentir o suor em meu rosto de tanto procurar por elas.
-Finalmente te encontrei! O que houve?
-Bianca, onde você estava? Eu deixei minha roupa no quarto e não está mais lá.
-Ah...
Ela parou e pensou um pouco.
-Eu sei onde está, vamos lá.
Ela disse calmamente e eu respirei fundo, aliviado. Bianca foi caminhando na frente e eu atrás.
-Eu as coloquei aqui. Eu iria te avisar a tempo, mas não sabia onde estava. Acabamos nos desencontrando.
Ela sorriu. Bianca abriu a porta e ligou a luz, estavam sobre o sofá.
-Obrigado, não precisa mudar elas de lugar.
-Por nada.
Entrei e ela fechou a porta. Coloquei as mãos na barra da calça mas tirei imediatamente ao escutar um barulho. Me virei e a vida estaria brincando comigo mais uma vez.
-Você está brincando comigo?
Silêncio.
-O que faz aqui?
-Harry, desde que não tenha um mandato policial, você não pode me impedir.
-Ótimo, então vamos ter um mandato policial.
Silêncio.
-Eu não vou descurtir, fui claro com você.
-Relaxa, eu também não quero brigar.
Minhas mãos ferviam.
-Certo, entendi. A Bianca me trouxe até você, vocês estão juntos nessa.
-Bingo! Brincadeira, ela não tem nada a ver. Ela provavelmente não sabe quem sou.
-Por favor, vá embora. Preciso me arrumar.
-Calma Harry, porque vai me despedir mês que vem?
Um frio cortou meu corpo.
-Porque você não é alguém que eu confie. Além do mais, eu nem sei porque eu ainda paro e escuto você toda vez.
Peguei meu terno no braço do sofá e me virei, abrindo a porta.
-Eu não teria tanta pressa. Só quero conversar.
Mas ele me fez parar. Olhei para o David e ele me mostrava seu celular com os dizeres "Ceci" e o número dela.
Senti meu corpo fraquejar.
-O que você quer com isso? Como conseguiu o telefone dela?
Cheguei mais perto.
-Não importa, o que importa é que eu tenho. Sente-se, deixe para ficar de pé na hora do show.
Cada palavra que ele dizia me fazia querer vomitar. David se sentou no sofá e eu em uma das cadeiras, bem afastado.
-Bom, você estragou a minha vida. Mas isso você já sabe. Deixa eu ver... -pensou- Você me trouxe dificuldades para arrumar um emprego novo, você também sabe, mas acabei conseguindo.
Ele me olhava. Eu não sentia nada além de raiva.
-Enfim, você quase tirou tudo o que eu quase tive. Mas... tem uma coisa que ainda não.
Ele era doente, capaz de qualquer coisa e eu me arrependeria pelo resto da vida.
-Aposto que pensou nela também. -sorriu- Sua namorada!
-Não fale sobre ela.
Falei baixo, novamente, fazendo sinal negativo com a cabeça. O sangue quente do meu corpo a essa altura já estava fervendo.
-Na verdade, eu vou. Bem, você não ia querer que eu chegasse perto da L, huh?
Engoli a seco.
-Mas, com todo o respeito, eu estou louco para chegar perto dela de novo.
-David, cale a boca antes que seja tarde. Eu não tenho medo de você.
Me levantei de uma vez e o agarrei pela camisa, próximo ao pescoço, com quase toda a força que eu tinha. David arregalou os olhos e sorriu em seguida, meu coração batia tão forte eu poderia perder o controle.
O soltei de uma vez, o fazendo cambalear.
-A polícia será chamada, essa conversa foi gravada e se eu voltar do show e te encontrar aqui... Melhor, se eu te encontrar qualquer outra vez, você terá que enviar mensagens direto da cadeia.
Peguei minha roupa.
-Faça o que você achar melhor, essa é a última vez que eu aviso. Quanto a Lauren, ela tem todo um time para protegê-la. Apenas para ela. Se quiser tentar, por mim tudo bem. E sim, você só não foi despedido ainda porque fui obrigado a esperar um mês.
Abri a porta.
-Olha pra você, cara. É esse tipo de vida que almeja? É esse tipo de vida miserável em correr atrás dos outros que você anseia? Eu realmente sinto muito por isso, se precisar de ajuda eu sei por onde começar. Mas, enquanto quiser ser medíocre, por favor, seja longe de mim e das pessoas que eu amo. Nós não precisamos de nada disso.
O olhei de cima a baixo pela última vez e saí, fechando a porta. Seu olhar de desespero não me assustava, me dava pena e raiva.
Tirei meu celular do bolso e o levei até a orelha.
-Boa noite dona Ceci, tudo bem? É o Harry. Como o combinado, estou ligando para avisa-la que seus números de telefone já foram trocados e estão funcionando perfeitamente.
Abri a porta do meu camarim com um dos pés.
-Isso, e a Lauren tem dois seguranças apenas para ela. Eu prometi a senhora que nada aconteceria, deixe comigo. Fiquem com Deus e diga ao Dudu que logo nos veremos de novo. Boa noite.