Quando o amor é pra sempre (R...

Da Strange-Boy

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(COMPLETO E REVISADO) No ano de 1989, em Denver, Colorado - Estados Unidos, Harrison é um garoto de 18 anos q... Altro

Prólogo
1 - Robin
2 - A festa e a academia
3 - Quadrinhos
4 - Como (ou não) se aproximar de alguém
5 - Uma noite peculiar
6 - Go, Tigers!
7 - 1989... 1990!
[nota aos leitores]
[boas notícias!]
9 - Volta às aulas
10 - O último baile colegial
11 - Chuva de verão
12 - É com você que eu quero estar
13 - O adeus
14- Mudanças da vida
15 - Memórias
16 - C'est La Vie!
17 - Há quem acredite em coincidências
18 - Decisões, decisões...
19 - O que fazer?
20 - Laços que nunca foram rompidos
21 - Lar?
22 - A luz nas trevas
23 - Se reerguendo aos poucos
24 - Desequilíbrio
25 - Arrependimento
26 - Na saúde e na doença
27 - De coração quebrado
28 - Prova de amor
29 - Coisas que estão além do nosso alcance
30 - Não vou desistir de você
31 - Forte como era antes
32 - O pedido
33 - Como nos velhos tempos
34 - A vida normal
35 - Faça um pedido
36 - (Des)confiança
Epílogo
Continuação: A História de Gael

8 - Eu vou sentir falta dos anos 80...

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Da Strange-Boy

créditos: DeviantArt.com/cris-art

1 de Janeiro de 1990

HARRISON

Toc, toc, toc

Abri os olhos assim que ouvi as batidas na porta do meu quarto. Estava de frente ao meu relógio, que ficava em cima da mesinha ao lado da minha cama. 10:27 da manhã. 

— Pode entrar... — ainda cheio de sono, forcei a minha voz arrastada pra poder falar mais alto.

A porta se abriu até a metade e meu pai se apoiou no portal de madeira. 

— Telefone pra você. Eu não sabia se te acordava, mas por via das dúvidas, vim perguntar. 

— Quem é? — esfreguei meu rosto com as mãos. 

— É Robin, a sua amiga do colégio. 

— Eu já vou... obrigado. — respondi e ele saiu, deixando a porta encostada. 

Lentamente sentei na cama, tomei coragem pra levantar e quando o fiz, fui até o banheiro lavar o rosto. Desci as escadas e fui até a cozinha pegar o telefone para assim então levá-lo a minha orelha.

— Alô.

— Bom dia, princesa. — disse Robin com a sua voz sarcástica de Robin do outro lado da linha.

— Ah... — Resmunguei, revirando os olhos. — Você me acordou. Queria dormir um pouco mais hoje, é dia primeiro de janeiro. 

— Querido, você tem que aproveitar o máximo que der! Estamos nos anos 90! 

— Eu gostava dos anos 80...

— Para de bobeira que 1990 promete. 

— Você é vidente agora?

— Não, mas eu sou bem sensitiva, tá?

— Sempre soube que você era uma bruxinha. — afirmei e rimos juntos.

— Mas Harry, é sério... Liguei para te desejar um feliz ano novo. 

— Obrigado, Robbie. Feliz ano novo pra você também. 

— Como foi seu reveillon? — me perguntou.

— Foi bom... Nada demais. Acabei ficando aqui em casa com o meu pai mesmo, a gente não liga muito pra essas coisas não. E como foi pra você?

— Ah, sim, entendi... Bom, aqui pra mim as coisas... — Robbie interrompeu por algum motivo. — Depois a gente se fala melhor, tô ocupada, preciso resolver umas coisas, tá bom?

— Tudo bem, não tem problema.

— Beijos! — ela se despediu.

— Beijo. 

Enganchei o telefone na parede e voltei pro andar de cima. Escovei os meus dentes no banheiro e depois voltei a deitar, mas não pra dormir, pois já tinha até perdido o sono. Peguei o livro "It - A coisa" que Rob havia me emprestado e continuei a ler, estava quase no fim. 

Depois de umas duas dezenas de páginas lidas, ouvi o telefone tocando de novo. Esperei meu pai atender, mas logo depois ouvi que ele estava tomando banho, então levantei e fui lá pra cozinha. 

— Alô. — disse ao atender. 

— Alô. — respondeu uma voz masculina. 

— ...Sim? 

— Eu queria falar com o Harrison, ele está? 

— Sou eu mesmo. — respondi.

— Feliz ano novo, nerd. 

Involuntariamente, sem o mínimo de controle, senti os pelos dos meus braços se arrepiarem. 

— Quase não reconheci sua voz, Scott. — sorri. 

— Tô meio de ressaca. 

— Tá explicado. 

Ficou um silêncio breve, mas constrangedor. 

— Feliz ano novo pra você também. — finalmente retribuí. 

— Foi chato essa virada de ano. Você gostou? 

— Mais ou menos. Não estava muito animado, fiquei sozinho aqui com meu pai.

— Que isso! Nenhuma festa? — ficou um pouco surpreso. 

— Ah, sabe... Não temos o costume. 

— Acho que até te invejo um pouco. — riu nasalmente. — Fizemos festa aqui em casa e meus pais brigaram o evento inteiro. Não aguento mais eles. Uma prima minha ficou enchendo o saco a madrugada inteira esvaziando todo o filme da câmera polaroid que ela comprou.  

Scott Miller, desabafando seus problemas e brigas familiares comigo... Quem diria. 

— Nossa, isso é muito chato mesmo... — fiquei pensando. — Mas por falar em inveja, invejo sua prima que tem a câmera polaroid. — ri.

— Você gosta?

— Claro. Sempre quis ter uma, acho tão incrível... Mas infelizmente preciso juntar mais dinheiro. Afinal, agora não estou mais trabalhando. Estou focando minha atenção total para os estudos nesse último ano do colégio...

— Eu também parei de trabalhar, mas é porque estava muito cansado. Não sou nerd igual a você pra aguentar essa barra toda. — riu brevemente.

— Chato. 

— Talvez eu seja. 

— E eu sou tão legal que ia perguntar... Sobre essa virada de ano chata que você passou, você quer conversar sobre? Desabafar?

— Ah, não sei. Não tenho muito o que dizer... Queria distrair um pouco a cabeça, mas hoje estou sem condições de sair de casa. Tenho que sobreviver a ressaca. — riu. 

— É... — ri também. — Bom...

— Bom o que? — ele perguntou depois que fiquei um pouco em silêncio. 

— Meu aniversário é dia 3 agora. 

— Dia 3 de janeiro!? — perguntou surpreso e não sei o porquê.

— Isso. Faço 19 agora, dia 3 de janeiro. Por que?

— Nada, é só bem perto do ano novo! Que maneiro! 

— Ué, não entendi porque. — dei de ombros. 

— Porque é, ué.

— Você é esquisito. — eu ri e depois ele riu também. 

— Nerd, vou aceitar isso como um convite.

— Convite de que?

— Da sua festa de aniversário.

De repente, meu pai colocou metade do corpo pra dentro da cozinha, através da passagem que dava pro corredor principal. Ao me ver no telefone, sorriu e voltou. 

— Nerd?

— Oi. Desculpa. Viajei aqui. Que aniversário?

— A sua festa de aniversário, seu lerdo! — ele exclamou.

— Para, idiota. Eu não vou fazer nenhuma festa. 

— Então por que mencionou seu aniversário?

— Eu devo pedir um bolo de aniversário, apenas, como costumo fazer, e chamar só pessoas próximas, porque não sou chegado a minha família. 

— E quem seriam essas pessoas? Eu estou incluso? — ele perguntou, demonstrando uma certa importância que causou borboletas no meu estômago de novo.

— Sim... Eu ia te chamar pra comemorar com a gente. Você não estava afim de distrair a cabeça? E claro, a Robin também. 

— Mais ninguém? — ele perguntou em um tom sério.

— Mais ninguém. Por que?

— Pensei que você tivesse mais amigos.

— Tinha, mas hoje já acabou o contato, a amizade, a intimidade, enfim...

— Ah, que pena... Mas não tem nenhum problema, quantidade de amigos não quer dizer nada. — ele me consolou. — Não tem nada de errado nisso. É melhor ter um ou dois amigos que valham a pena do que ter dez amigos falsos. Você pode contar comigo e com a garota estranha, certo?

— Ela tem nome, Scott, e é Robin. 

— Ora, eu sei disso. Você entendeu. — ele riu.

— Você é ridículo... — disse, sem poder evitar um sorriso bobo. 

— Dia 3 de janeiro. Que horas?

— Pode ser umas... 18 horas, eu acho.

— Fechado. Te vejo em breve então... Nerd. 

— Eu não quero que esse seja meu apelido, faz favor? — eu pedi em tom sério. 

— Hum... Vou pensar no seu caso.

— Tchau, Scott. — revirei os olhos.

— Tchau. — ele se despediu em um tom um pouco debochado. 

Metade de um ano havia se passado e eu até hoje não havia me acostumado com a amizade que eu havia construído com Scott. Jogador do Tigers, popular, cobiçado pelas garotas do colégio... Antes, achava que ele era um garoto tão detestável quanto os seus amigos, mas ele se mostra ser tão diferente. Por que, então, ele anda com pessoas tão fúteis? 

— Quem era no telefone, filho? Robin de novo? — meu pai apareceu na cozinha, pegando uma maçã na fruteira. 

— Não... desta vez era Scott. 

— O menino que veio aqui também? —mordiscou a maçã. 

— Isso. 

— Sabe... — ele sorriu. — Fico muito feliz de ver você fazendo amigos novos. Você precisava disso, filho. É bom ter amigos, você merece, é uma pessoa incrível. 

Sorri, desajeitado, enquanto ele bagunçou meu cabelo com sua mão esquerda.

— Obrigado, pai... É, é bom ter eles como amigos. 

— E por que esse desânimo então, Harry? — ele me perguntou.

— Ah, eu vou sentir falta dos anos 80... — fiz uma cara triste, forçando um beicinho. 

— Para de palhaçada. — ele riu. — Os anos 90 podem ser até melhores, mas vamos ter que esperar pra ver. 

— É. — eu ri. 

De qualquer forma, não deixaria de sentir saudades, de fato. Saudades dos poucos amigos que eu fiz (mesmo eles tendo ido embora depois), dos novos quadrinhos que eu li, dos livros, filmes... E é claro, as músicas... Ah, as músicas! Eu amava Cyndi Lauper! 

***

3 de janeiro de 1990

SCOTT

— Scott, faz quanto tempo que você não transa?

— Não fico contando, Tom. — respondi a ele no telefone. 

— Você precisa disso, já está na seca faz tempo. Vê se consegue isso hoje com a sua querida Robin, já que vai na festinha do gayzinho nerd. — ele gargalhou.

Revirei os olhos.

— Vê se não me enche, eu não sou sedento por sexo igual a vocês. Tenho que ir. Tchau. — sem esperar resposta, desliguei o telefone e fui até a sala. 

Minha irmã estava sentada no sofá, assistindo TV.

— Eu tô bonito, Nathalia? — perguntei, enquanto ajeitava minha camisa no espelho que ficava pendurado na parede. 

Nathalia me observou cuidadosamente, da cabeça aos pés. 

— Tá descente. 

Tsc. Para. 

— Vai encontrar alguma menina, né? — ela fez uma cara de desdém. 

— Não é nenhum encontro, já disse. É só um aniversário. — peguei as chaves do carro do meu pai, que glória Deus havia me emprestado sem muitos problemas depois do meu pedido. 

Enquanto eu dirigia até a casa do Harrison, ficava pensando no quanto ele havia me chamado a atenção nesses seis meses. Ele tinha uma beleza encantadora e eu nunca havia reparado nisso antes. Ainda bem eu tive a chance de conhecê-lo melhor e nossa, que pessoa incrível. Personalidade forte, gosta de quase tudo que eu gosto (só não somos muito compatíveis em futebol e filmes de terror!), tem uma conversa ótima, carisma, simpático... Ele é tão bondoso e generoso com as pessoas. Por que insistem em ofendê-lo na escola? Queria que meus amigos pudessem ter a chance de conhecê-lo melhor. Tenho quase certeza que eles veriam o quanto Harry é gente boa. E claro, um nerd jamais deixaria de ser tão inteligente! Me sinto tão pequeno perto de toda a sua sabedoria... Ele me ensinou muita coisa em várias conversas nossas sobre os diversos países e culturas ao redor do mundo.

Droga, Harry, você está me fazendo ficar tão apaixonado por você. Não há outra explicação... Volto a martelar o mesmo pensamento na minha mente: Eu nunca imaginei, jamais, que eu sentiria algo assim por um menino. 

Me lembrei de certo dia, pouco antes de 1989 chegar ao fim, quando peguei uma dessas revistas que minha irmã compra lá pra casa. Estava tão entediado que não me importaria em ler um pouco das fofocas dos famosos. Descobri então, um termo. Havia uma matéria comentando a entrevista que David Bowie concedeu em 1976, afirmando que ele era bisexual. Bisexual... O parágrafo seguinte explicava o termo. Quer dizer quando a pessoa sente atração tanto pelo sexo oposto quanto pelo mesmo sexo. É, eu acho que eu sou bisexual... Talvez nunca tivesse descoberto, ou pelo menos percebido, mas o nerd certamente me ajudou nessa descoberta. 

Não pude deixar de conter um sorriso. 

Sabe, eu estou bem com isso. Não vejo problemas. Eu já sim, achei estranho um dia pessoas do mesmo sexo terem relações, mas nunca crucifiquei ninguém por isso. E olha só quem está hoje aqui pagando a língua. A vida é assim mesmo, o que importa é a gente aprender a crescer a cada dia que passa, evoluir a mente, descontruir tabus... 

Mas não posso negar. Tenho muito medo sim de ser julgado. Pelos amigos, pela escola, pelos meus pais, minha irmã, minha família...

Talvez um dia eu conte sobre isso.

Talvez não. 

Não importa. Eu estou bem comigo mesmo. Eu só queria que Harry...

Droga! 

Me dei conta de que havia passado algumas ruas da casa do nerd, tamanha era minha distração com os meus pensamentos. 

HARRISON

Faltava cerca de meia hora para 18h, mas eu estava terminando de atingir um orgasmo ao folhear aquela revista que eu havia comprado não há muito tempo atrás. 

Peguei um papel higiênico que guardava na minha gaveta para limpar a sujeira e de repente ouvi meu pai batendo na porta. Rapidamente, subi meu short e joguei a revista debaixo da minha cama. Depois eu guardaria em cima do guarda roupa, no fundo falso, como fazia antes.

— Oi, pai.

— Filho, já viu a hora? — ele abriu a porta até a metade.

— Sim, já vou tomar um banho bem rápido e ficar pronto pra esperar os convidados. 

— Tá ok. — ele fechou a porta.

Levantei rapidamente e fui tomar banho. Ao sair do box, vesti minha roupa que já havia deixado separada em cima da pia. Penteei meu cabelo, coloquei meu perfume e então, abri a porta do banheiro. 

O banheiro do segundo andar ficava bem de frente para a porta do meu quarto. Me deparei com ela aberta e pude ver Scott sentado na minha cama olhando direto para mim. 

— Então... Um nerd completa 19 anos aqui nessa casa no dia de hoje? — ergueu uma sobrancelha. 

De novo aquele arrepio, de novo aquele frio na barriga.

— O que... O que que você tá fazendo aqui a essa hora? — perguntei.

Ele olhou no relógio de pulso prateado que usava, e então virou o relógio para me mostrar. 

18:00h. Em ponto.

— Scott, ninguém chega no horário em ponto quando se começa uma festa de aniversário, algo do tipo... Por q...

— Você disse que começaria às 18h, eu cheguei aqui às 18h, oras. Sou pontual. 

— Ah, não adianta... — revirei os olhos ao sair do banheiro, apagando a luz. 

— Algum problema nisso? — sorriu de uma forma sarcástica e cruzou os braços. 

— Ainda estava me arrumando.

— Eu esperei. Afinal, você já acabou e agora sim são 18h. 

— Como que você entrou aqui?

— Ué, pela porta. — ele soltou um riso. — Seu pai abriu pra mim. 

Eu nem tinha ouvido a campainha tocar. 

— Quis dizer no meu quarto. 

— Ele disse que eu poderia esperar por você aqui. 

— Tá bom, não tem problema. — suspirei. Estava um pouco tenso, pois não esperava a chegada de Scott assim, tão de repente. Nem sabia se ele viria mesmo, embora eu tivesse convidado. 

— Que bom então. — sorriu. 

— Vem, vamos lá pra baixo, a Rob deve chegar já já. — pedi.

— Espera. — ele pediu. 

Olhei para ele.

Scott descruzou os braços e deu duas batidas com sua palma da mão esquerda, ao seu lado, na minha cama. 

— Senta aqui, rapidinho. 

— Pra quê? — levantei uma sobrancelha. 

Ele fez uma cara chata e então eu fui e sentei.

— Aqui. — das suas costas, ele tirou uma sacola prateada, toda enfeitada com fitilhos e um cartão de aniversário com balões pendurado por um barbante, escrito "De Scott para N̶e̶r̶d̶  Harry" — É pra você.

Eu ri e segurei a sacola. 

— Você não para com essa mania feia de me chamar assim.

— Assim como? Eu risquei o apelido e coloquei o seu nome certo! — Scott forçava uma expressão em um teatro super engessado, como se estivesse realmente incrédulo.

— Tá bem... — balancei a cabeça negativamente, enquanto eu ainda ria. — Não precisava. 

Ele desfez sua expressão falsa apenas para revelar um sorriso e uma postura calma, repousando suas mãos sob suas coxas. 

— Precisava sim. É seu aniversário. — afirmou.

Minha ansiedade e alegria mal se continham dentro de mim. Era como se eu fosse explodir. Sim, eu gostava dele. Meu Deus, como eu gostava dele! E ele estava sendo meu amigo, ele estava agora, na minha casa, me dando um presente, além de ser muito pontual no dia do meu aniversário! Eu queria tanto poder dizer o que sinto a ele. Porém, o medo... O medo de me julgarem, o medo de não ser recíproco e ele ainda se afastar completamente de mim, sem nem mesmo manter uma amizade... É, isso eu acreditava muito. Que não era nada recíproco. Ele era de um brilho tão intenso, a soma de todos os fogos de artifício especiais de eventos como a virada do ano ou 4 de julho, e eu? Eu era apenas uma faísca. 

— Não acredito. Isso é uma pegadinha, né? É um tijolo que tem aqui dentro, só pode. — eu dizia, rindo ao tirar a caixa de uma câmera polaroid de dentro da embalagem de presente. 

— Talvez seja... Vai ter que abrir pra descobrir. — Scott riu.

Eu abri e estava lá. A linda câmera polaroid. 

— Scott, você não fez isso...

— Fiz e ela já veio carregada com um filme. Tem 40 ou 60 fotos, algo assim, não lembro... Tem que ver aí. 

Ao manusear o objeto, olhei rapidamente pelo visor da câmera e apertei o botão de disparo. A foto saiu quase que imediatamente. Sorrindo, segurei a foto pelas pontas dos dedos e sacudi no ar. Lentamente, a foto foi surgindo: Scott, com as duas sobrancelhas levantadas, totalmente despreparado para a foto que eu ia tirar dele. 

Eu ri muito da cara que ele fazia e mostrei a ele, que a princípio não gostou muito, mas acabou rindo junto comigo. 

— É, você acabou estreando o filme da câmera. — eu terminava de rir, me recompondo. 

— Pois é! — completou ele, depois de observar bastante a câmera pra então fixar os olhos em mim, e eu fiquei sem graça.

— É sério... Como eu poderia aceitar um presente desse? — questionei. 

— Aceitando, ué. — ele deu de ombros. 

— Isso é tão caro. Não precisava...

— Já disse que precisava sim. Você disse no telefone aquele dia que queria muito, passei em uma loja hoje mais cedo e comprei.

— Eu... Desculpa a pergunta, Scott, mas como que você conseguiu comprar isso?

— Tenho um bom dinheiro guardado ainda, dos meus antigos empregos. Já trabalhei com meu pai vendendo coisas usadas, já ganhei prêmios graças a campeonatos de futebol... E também já trabalhei de garçom. 

A cada dia que passava, eu me sentia cada vez mais participativo na vida de Scott Miller, principalmente por conhecer várias partes que construíram (e constroem) a sua vida. 

— Esse dinheiro... Não vai te fazer falta? — Olhei preocupado.

— Ah, nerd. — ele riu e olhou pro lado. — Não vai faltar. Não se preocupe com isso. — completou, olhando pra mim de novo.

De novo aquela alegria constante correndo pelas minhas veias. Não pensei duas vezes e o abracei forte. Tão forte. Nunca tínhamos realizado um contato tão íntimo antes. Foi o nosso primeiro abraço. 

Eu não pude ver a expressão dele, mas sei que ele ficou um pouco assustado. Porém, pouco depois, levou os braços lentamente em volta das minhas costas para retribuir o abraço apertado.

— Muito, muito obrigado! — eu disse, sorrindo.

— De nada, nerd. — respondeu, e sem poder ver seu rosto, imaginei que ele teria dado um sorriso ao dizer tais palavras. 

Ouvi a campainha tocar. 

Com o susto, nosso abraço se desfez.

Droga, Robbie! Logo agora? Talvez se você não tivesse chegado, ainda estaríamos nos abraçando. 

SCOTT

— Ei. Ei. — chamei a atenção de Harry quando ele desfez do nosso abraço, que por sinal, que abraço maravilhoso. — Espera só um pouco.

— O quê? — perguntou, um pouco assustado.

— Esqueci de dizer o mais importante! — ri. — Feliz aniversário. 

— Obrigado. — ele sorriu e se levantou. — Vem, vamos. 

Ele foi apressado, descendo as escadas. Eu fui logo atrás.

Ouvi a porta se abrindo.

— HEEEEEEEEY — Robin o cumprimentou, um pouco escandalosa. 

— Oi! — ele respondeu. 

— Feliz aniversário! Meus parabéns, amigo! — ela o abraçava muito forte. 

Naturalmente, esbocei um sorriso enquanto terminava de descer as escadas e o pai de Harry fechava a porta.

— Oi, Robin. Bom te ver por aqui. — sorriu.

— Boa noite, senhor Richard! — ela o cumprimentou. 

E então, parei e fiquei em pé. 

Ela estava com aquela gargantilha preta com um pingente de lua, como sempre. Acho que ela nunca tirava esse acessório do seu pescoço. Sua blusa azul marinho tinha estampas de estrelas, combinando com a calça preta. Ela tinha esse estilo meio... bruxinha, não sei. Era como se ela fosse uma feiticeira. Antes, acho que eu caçoaria muito dela, assim como eu costumava fazer com o Harrison. Acredito que mais ainda pela influência dos meus amigos do time de futebol. Hoje, porém, estando perto de Robbie, Harry... Acho tão incrível ter amizade com essas pessoas. Eles são tão originais, tem personalidade própria e forte, são diferentes daquele padrão engessado, falso e "na moda". Eu os admirava. Eu queria ser assim também. Queria compartilhar com Deus e o mundo a minha paixão por quadrinhos sem medo de ser julgado, queria um dia me revelar bisexual sem medo assim como fez David Bowie. Livre. Independente.

Robin me notou. 

— Ah, olha só quem veio também. — ela sorriu.

— Oi, garota estranha. — sorri.

— Não começa! — ela revirou os olhos. — Harry, trouxe um presente pra você. — Robin entregou uma caixa toda bem embalada com um papel de presente azul brilhante. 

— Gente, vocês ficam me mimando assim... Eu vou me acostumar muito, hein? — Harry riu. — Olha só o que Scott me deu de presente, Robin... Dá pra acreditar?

Robin ficou de queixo caído quando viu a câmera polaroid que ele segurava. Eu nem tinha notado que ele não havia a soltado, ainda. 

— Mentira? — Robbie indagou. — Você sabe quanto isso custa?

— Sei, mais ou menos. — Harry respondeu sem graça.

— Ah, claro. Esqueci que o jogador aqui é riquinho, né? — ela olhou pra mim com aquele jeito sarcástico dela. 

— Quem me dera. — respondi soltando um riso.

HARISSON

— Robbie, você não fez isso! Segura a câmera pra mim por favor, Scott.

Ele o fez.

— Fiz isso sim, amor! — Rob riu, me respondendo.

— Eu não acredito, primeiro eu ganho uma câmera polaroid e agora um rádio com CD player!? — eu mal podia conter a minha felicidade e surpresa, enquanto os dois riam de mim. — Não posso acreditar!

Abracei Robbie muito forte.

— Muito, muito obrigado mesmo! — agradeci. 

— De nada, principezinho. — ela respondeu, retribuindo o meu abraço. — É a nova tendência para os anos 90. Precisamos começar essa década com estilo, não acham?

— Com certeza. — Scott confirmou. — Nunca concordei tanto com você quanto agora. 

— Nossa, estou tão feliz! — exclamei. — Eu tinha o meu discman, mas ele não é a mesma coisa que um cd player pra colocar em uma festa e... 

— E pra você não sentir tanta saudade assim dos anos 80, Harry... — meu pai saiu da cozinha, andando até mim. — Ainda tem o meu presente. — mostrou uma pequena caixa também toda enfeitada e bem decorada. 

Fiquei surpreso e com um enorme sorriso no rosto.

— Pai, muito obrigado também... — falei sem jeito e o abracei forte, pegando o presente.

Rob segurou o rádio para mim assim como Scott ainda segurava a polaroid.

Ao abrir a embalagem do presente do meu pai, me deparei com três CDs de música. 

"Greatest Hits of the 80's", ou seja, as músicas mais famosas dos anos 80.

"The Rise and fall of Xiggy Stardust and the Spiders from Mars", de David Bowie, o CD que foi considerado o melhor do ano de 1972 pela revista Rolling Stone. Havia tempos que eu queria esse e meu pai sabia!

— David Bowie!? — Scott exclamou com uma expressão de surpresa. 

— Sim... Eu adoro ele e as músicas que ele faz. — sorri.

— Tá brincando!? Mais uma coisa que temos em comum, então! Não conheço tantas músicas dele assim, mas... Digamos que eu o admiro muito. — Scott sorriu também. 

Eu soltei um riso, meio sem graça, mas adorando por ter mais uma coisa em comum com ele. Então, voltei a minha atenção para o presente, vendo o terceiro e último CD, mas não menos importante.

"A night to remember", o mais recente álbum de Cyndi Lauper! Esse CD tinha sido lançado em maio do ano passado, mas eu ainda não tinha comprado. Meu pai já tinha me dado de presente os dois primeiros álbuns dela: "She's So Unusual" e "True Colors". Claro, eu amava esses CDs.

— Essa mulher é maravilhosa demais! — disse Rob.

— É sim! — Scott exclamou, concordando. — Eu nem acredito que vocês tem esse bom gosto! — ele riu. 

— Seus amiguinhos populares não tem esse bom gosto, é? — Rob perguntou, provocativa. 

— Não... — fez uma cara de decepção. — Eles nem ligam pra música, na verdade.

Ouvi a conversa, mas não tinha o que acrescentar, então, me dirigi ao meu pai. Ainda estava muito animado com essas surpresas. 

— Obrigado, pai, de coração... — olhei pra ele, ainda sorrindo, sem acreditar nesse dia tão incrível que eu estava vivendo. — Por acaso você e Robbie combinaram alguma coisa?

— Sim! — ele respondeu e riu junto com ela. — Ela me ligou e deu essa ideia. Disse que comprou um rádio com CD player pra você, então eu compraria mais uns três CDs. 

— Vocês...

— Anda, Harry, o que você tá esperando? — perguntou Rob. — Liga esse aparelho e coloca esses CDs pra tocar! 

— Você que está mais acostumada com tamanha tecnologia... Quer fazer a honra? — ofereci, estendendo os presentes a ela. 

— Pode deixar. — ela aceitou.

Scott apontou a câmera polaroid pro seu rosto, fez um biquinho e apertou o botão. Em segundos, a foto foi impressa no filme. Ele a pegou e a sacudiu. 

— É. — observou bem a foto. — Até que eu sou fotogênico. — brincou. 

Rimos.

— Vai gastar todo o filme com fotos só de você, é? — perguntei.

— Não é uma má ideia. — ele riu e me entregou a foto junto da câmera.

— Vamos usar bastante essa câmera hoje pra tirar algumas fotos nesse dia ótimo que estou vivendo hoje. Eu preciso registrar esses momentos. — afirmei.

E assim foi. A música já tinha começado a tocar. Robbie tinha escolhido primeiro o CD com os maiores sucessos dos anos 80. Não era uma festa com mais de quatro pessoas. Na verdade, meu pai estava lá em cima, no seu quarto, por enquanto.

Eram só nós três na sala de casa, ouvindo hits dos anos 80 e nos divertindo como se não houvesse amanhã. Dançávamos, ríamos, hora ou outra parávamos pra beber ou beliscar alguma coisa que estava disponível na mesinha que eu e meu pai arrumamos. Éramos três amigos próximos, inseparáveis, eu diria. Estranhos, talvez, com seus gostos, qualidades e defeitos próprios, cada um com suas peculiaridades. Estávamos bem assim. Eu preferia essa festa a qualquer outra, e talvez até eles preferissem também. 

— Ai, chega. Não vou aguentar mais rir. — Scott tentava se recompor. — Eu preciso ir ao banheiro. Já volto. 

Eu e Robbie nos sentamos na poltrona pra descansarmos um pouco da dança. Depois de nos recompormos também, ela olhou pra mim.

— Sabe, Harry... Eu não gostava do Scott. Mas agora... Acho que ele é um cara legal. — sorriu. 

— É... — sorri mais ainda que ela. 

— Você gosta muito dele, né?

Shhh, fala baixo. Ele e o meu pai podem ouvir. 

— Seu pai, tudo bem, eu entendo. Só que Scott deveria ouvir mesmo. 

— Não sei não... Não acho que a gente tenha chance, já te falei sobre...

— Para de bobeira, Harry. Você tem que...

— Eu não vou aguentar dançar mais por hoje. Vamo' bater um papo. — Scott nos surpreendeu, entrando na sala.

— Sim, sim... — Robbie desconversou. 

***

Parabéns pra você, nessa data querida... — começaram os três a cantarolar, logo depois do meu pai descer do seu quarto. Ele mesmo tinha feito o bolo, de chocolate. Eu sempre ficava sem graça na hora do parabéns. Sempre... Não sabia como agir, ou o que fazer... Só fingia plenitude em cantar junto com eles. Por dentro, eu estava torcendo pra música acabar.

Aeeeee!

— Faça um pedido, Harry! Faça antes que a vela apague! — Rob gritava.

Fechei os olhos. Inspirei, bem fundo. Desejei com todo o meu coração que, se por um milagre do destino ou qualquer outra coisa, Scott correspondesse aos meus sentimentos, que nós tivéssemos coragem para nos abrirmos um com o outro sobre isso. Seríamos tão felizes que...

— Harry, a vela vai apagar! — Scott avisou.

Abri os olhos e soprei. A vela apagou e eles voltaram a comemorar e a aplaudir. 

Então, cortamos o bolo e comemos, conversando entre nós quatro, dessa vez.

SCOTT

— Até outro dia, senhor Richard. — Robin se despedia do pai de Harrison.

— Até, se cuida. 

— Tchau, jogador. — ela acenou pra mim. — E tchau, estreante dos dezenove aninhos. — riu levemente e abraçou Harrison. 

Então, ela foi embora. 

— Bom... Acho que já vou indo também, porque já tá meio tarde, né, nove da noite... 

— Não, Scott. Não precisa se preocupar com a hora, ao menos que seja por causa dos seus pais. — disse o senhor Richard. — Pode até dormir aqui se quiser. 

Fiquei arrepiado de pensar na possibilidade. Dormir na casa de Harrison de novo seria... Maravilhoso. Meu olhar se cruzou com o dele. Estávamos um pouco surpresos, mas por dentro, era como se eu estivesse pulando de alegria. Será que... Harrison estaria se sentindo assim também?

— Não é, filho?

— Claro, pai. Scott... Pode ficar se quis...

— Fico! Fico sim! — soltei as palavras de forma automática, da mesma forma que automaticamente fiquei com vergonha de ter demonstrado tanto ânimo assim ou talvez até um desespero. 

— Ótimo! Fique à vontade, garoto. A casa é sua. — o pai, tão simpático e gentil como sempre, sorriu e se retirou, subindo as escadas. — Com licença, meninos, agora preciso descansar de vez mesmo. Boa noite pra vocês. 

— Boa noite! — respondi junto com Harrison, quase como um uníssono. 

— Por hoje já nos divertimos muito, não acha? — Harry olhou pra mim.

— É... — eu ri. — Tô bem cansado. 

— Vem, vamos lá pro quarto.

Obedeci, seguindo Harry ao subir as escadas. Ao olhar pra cima eu não pude deixar de notar na sua bunda. 

Nossa, como eu queria agarrar aquele corpo, mas... Mas não! Eu precisava me controlar. 

— Eu vou tomar um banho. Imagino que você esteja bem suado também, então pode tomar depois de mim se quiser, sim? — me ofereceu.

— Tá bem, claro. Eu te espero aqui no quarto. 

— Tá bom. — Harry pegou algumas roupas e foi até o banheiro, fechando a porta.

Sentei na cama dele e suspirei, relaxando o máximo que pude ao me encostar na cabeceira. Era tão bom vê-lo feliz assim. 

 "Isso é tão caro. Não precisava..." Quanta bobagem! Nenhum custo seria tão caro enquanto o resultado fosse aquele sorriso. Aquela felicidade dele. Poder fazê-lo feliz. Era só o que eu queria. Ele merece o mundo. 

Durante os próximos minutos, continuei viajando nos meus pensamentos, nas memórias tão recentes do dia de hoje... Então, de repente, acabei notando alguma revista caída de forma descuidada debaixo da cama. Seria uma HQ nova? Alguma que Harry não teria me apresentado ainda? Algum super herói novo? Vamos ver...

— Rapaz. — levei um susto com o pai de Harrison na porta, me olhando. — Perdão, não havia perguntado. Ligou para os seus pais para avisar que vai passar a noite aqui?

— É mesmo, senhor Lennox... Perdão. Havia esquecido. — me levantei da cama. 

— Não tem problema, mas trate de avisá-los, sim? E por favor, já disse que não precisa me chamar de senhor. É Richard. — sorriu e voltou para o quarto.

— Vou tentar... Prometo. — sorri de volta.

Desci as escadas e fui até a cozinha telefonar para a minha casa. Avisei ao meu pai, que fez pouco caso. É claro, eles pouco se importavam mesmo. Não era como se sentissem muito a minha falta de qualquer forma... A única preocupação do meu pai, aparentemente, era o carro dele que estava comigo. Eu avisei que voltaria logo cedo, amanhã, e então o devolveria a ele. 

Subi as escadas e Harry já estava deitado. 

— Pode pegar qualquer roupa minha emprestada pra dormir, se quiser. — ele sorriu.

— É? — sorri e entrei no quarto. — Vamos ver. 

Caminhei até o guarda roupa e tomei liberdade de abri-lo. 

— Hm... 

Passei por algumas blusas e calças penduradas. Avistei um par de meias e decidi usá-las também. Afinal, estava frio. Decidi pegar uma calça de moletom marrom e uma blusa vermelha que havia uma estampa linda do símbolo yin-yang

— Você tem mesmo um bom gosto, nerd. 

Revirou os olhos e bufou tão forte que sua franja mexeu. 

Fui tomar banho. Ao vestir as roupas dele, não pude notar no seu cheiro bem característico... Queria que empreguinasse em mim.

Na volta ao quarto, Harry me olhou da cabeça aos pés.

— É. Ficaram boas em você. — sorriu.

— Também achei. Estou quase roubando pra mim. É uma roupa bem maneira. 

— Ei! É emprestado

— Vou tentar pensar no seu caso. — olhei pra cima, pensativo, enquanto me aproximava de sua cama. Sentei ao seu lado. — Cadê o colchão?

— Já vou colocar. Estou com preguiça. 

— Sem pressa. Ainda tô sem sono. E você?

— Também. — estalou os lábios. 

Olhei ao redor do quarto e lembrei que Harry tinha um videogame assim que o vi. O master system

— Ei, coloca algum jogo aí pra gente jogar. Vou acabar com você. 

Harrison riu alto. 

— Ok... Você está se esquecendo quem é o nerd aqui. 

Eu ria, enquanto Harry se levantava. Ele pegou dois controles, colocou um jogo no videogame e voltou a se sentar do meu lado. 

— Que jogo você colocou? — perguntei.

California Games. Aquele de esportes. 

— Nesse eu sou fera. Se prepara. 

— Vai nessa... — duvidou de mim.

Alguns segundos de silêncio se passavam enquanto o jogo iniciava. Telas de apresentação, loadings... 

Então respirei fundo e olhei para o lado. Fitei sua mão esquerda, repousada em sua perna.

— Harrison.

— Sim?

— Você se sente mal por eu chamá-lo de nerd?

— Eu não sei... Bom, eu... Eu... — ele não estava sabendo encontrar palavras para expressar, parece. 

— Olha, é que eu estava pensando muito nisso e se você não gostar, eu paro. 

— É?

— Claro que sim.

— Scott, é que... Eu não sei o que você faz. Acho que não me ofendo e nem me sinto mal. Vindo de você... Acaba sendo um apelido carinhoso de alguma forma.

Não tinha como controlar o sorriso que se formou no meu rosto. Ainda olhando pra sua mão, não demorou para que eu a pegasse delicadamente e entrelaçasse os seus dedos aos meus. Meu coração batia cada vez mais rápido, parecia que ia sair pela boca a qualquer instante. Eu não pude evitar, não pude, quis fazer isso. 

— Você está certo. — levantei a cabeça e encontrei os seus olhos olhando bem perto e fixamente para mim. Harry estava muito assustado. Acho que estava surpreso por eu segurar a sua mão... Só espero que ele não tenha nada contra isso... — Eu nunca quis te ofender por esse apelido, Harry. Provocá-lo, no máximo, pra ter sua atenção voltada pra mim, talvez... — ri. — Digamos que "Nerd" pode resumir o quão carismático, inteligente e boni... Bondoso! Bondoso você é, enfim, entre outras coisas. 

Já tinha começado a rir, mas dessa vez de nervoso. Me embolando nas palavras, gaguejando. Mas que merda, Scott?

Harry riu também, o que me confortou. Ele estava corando cada vez mais... Será que isso era um sinal bom? Será que eu estava conseguindo conquistar ele? Tantos receios, tantas dúvidas, perguntas que eu queria fazer...

— Algumas pessoas, incluindo alguns amigos seus, usavam ou ainda usam esse apelido para me ferir. O que mais gosto é que... Sem muito esforço, você pegou e o transformou em algo totalmente diferente, carinhoso e bondoso. — Harry sorriu pra mim e corou ainda mais. Algo que pouco antes parecia impossível. Ele ficou mais vermelho ainda, sim, e isso era muito lindo. 

Faltou um triz para eu beijá-lo. Um triz.

Mas não o fiz. 

Ainda não, eu ainda tinha muito medo.

E se ele se sentisse pressionado? Se estivesse confuso com os seus sentimentos e emoções? E se... Ah... Tanta coisa...

Sorri de uma forma boba, desviando o olhar, pois senti que se continuasse o olhando por mais um segundo, poderia derreter por completo. 

Quando percebi, nossas mãos foram desatando. A minha já estava suando frio de tão nervoso que eu estava. Respirei fundo mais uma vez e as batidas do meu coração foram se acalmando aos poucos.

— É... O jogo vai começar. Tá preparado? — Harry disse.

— Pra ganhar de você? — preparei o controle na minha mão. — Sempre. — e fitei a televisão. 

— Vai sonhando, amador. 

FIM DO CAPÍTULO! 

Eu sei que demorou muito tempo, mas tentei fazer esse capítulo o maior possível para compensar essa demora, além de ter esclarecido aqui pra vocês o motivo do meu sumiço (desculpas de novo!). Pode ser que eu demore um pouquinho pra lançar alguns capítulos, mas também pode ser que eles saiam rápido demais, até, dependendo da minha criatividade e do meu tempo livre! Mas não desistam de "Quando o amor é pra sempre", pois eu certamente não desistirei ♥

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