Nós Podemos Ter Tudo

By LariMGnonsensewaffle

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Zoe era boa em manter promessas. Como quando sua mãe disse que ela deveria voltar até as 22h na primeira vez... More

1. Zoe
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29. Zoe
30. Alex
Obrigada!
Shooting Star

15. Zoe

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By LariMGnonsensewaffle

Peguei o elevador com o cara que sempre estava com roupa de academia, não importava o dia da semana ou o clima.

Ele me olhou quase com pena e pensei que devia ser porque ele provavelmente escutava as brigas familiares do outro lado do corredor.

Esbarrei com a minha mãe esperando impacientemente o elevador. Ela tirava um amassado da roupa com as mãos.

- Ah, filha - disse, surpresa ao me ver. - Vou ficar com o turno da noite hoje, desculpe. Você pode fazer o jantar? - Ela não me esperou responder e, depois de me dar um beijo rápido na cabeça, entrou no elevador o qual o Cara da Roupa de Academia segurava. Ele saiu quando ela entrou, já que morava no nosso andar.

Usei a chave para entrar em casa. Era o fim da tarde. Meus muitos chaveiros balançaram com um tilintar.

Fiz espaguete para o jantar, já que era um dos únicos pratos que eu fazia que ficava mais próximo de "gostoso".

Aproveitando o pique após lavar a louça, limpei a casa, com Fergus quase me derrubando o tempo todo passando por entre as minhas pernas.

Passei pela geladeira e peguei um pote de sorvete. Sentei no sofá embaixo das cobertas com os joelhos encostados no peito enquanto assistia à um programa de entrevista.

Minhas colheradas generosas enchiam minha boca e deixava mais difícil rir das piadas do apresentador.

Foi numa sorveteria com Alex e os pais dele que resolvemos fazer o Top 10 de sabores favoritos. Não sabíamos qual escolher e o pai dele resolveu o problema com a sugestão: "Por que não escolhem o que mais gostam?". Até o momento só sabíamos que amávamos sorvete, mas ao nos fazer escolher apenas três sabores, uma lista dos mais amados foi feita.

Me lembro que ficamos uma eternidade na fila e que tivemos que fazer a lista com os complementos também, porque, por algum motivo, não podíamos por todos.

De repente tínhamos uma lista para quase tudo: filmes, músicas, cores, cidades e tudo relacionado à comida.

Acho que entendo porque dizem que a vida é feita de escolhas.

Ainda refletindo com a boca cheia e o cérebro congelado, fiz carinho em Fergus, que estava deitado ao meu lado, com as mãos geladas, o fazendo miar insatisfeito, mas sem se mover. Tão preguiçoso quanto a dona. Eu havia o resgatado da rua e tive que discutir muito para trazê-lo pra casa.

Estava quase cochilando como uma velhinha às 19h da noite quando a porta se abriu. Assim que ouvi meu pai chegar, avisei do macarrão e fui tomar banho, deixando a colher na pia e o pote vazio no lixo.

Secando o cabelo ouvi meu celular vibrar em cima da cama bagunçada. Busquei entre as cobertas e larguei a toalha em uma cadeira enquanto checava as mensagens.

Minha irmã havia me mandando uma foto da comida de Maggie para me fazer inveja. A outra era de um número desconhecido, mas ao lê-la percebi ser de Nate, me convidando para um café. Por que não?, pensei.

Vesti uma jeans e uma camiseta de manga comprida. Ignorei meus sapatos de corrida e peguei minha botinhas.

Alguns domingos Alex vinha de manhãzinha e ficava batendo na minha porta sem parar - o que irritava meu pai tremendamente - até eu acordar pra correr com ele no parque porque era "saudável". Eu ia antes que meu pai levantasse para jogar meu amigo pela janela.

E aí a gente dava voltas pelo parque e toda vez que eu reclamava que estava cansada ele dizia: "Só mais uma voltinha." E nunca era a última. Até eu deitar no chão ali mesmo no meio do parque e as pessoas nos olharem estranho e pular meu corpo largado.

Calcei os coturnos e abracei meu gato em despedida.

- Saindo - avisei meu pai com um grito. Não me dava mais ao trabalho de pedir permissão. Me lembro de uma época em que parecíamos uma família de verdade. Acho que eu ainda cabia no escorredor do playground da escolinha.

O lugar marcado era perto, então caminhei, me lembrando de quando minha mãe me ensinou a fazer macarrão. As aulas anteriores sobre arroz não haviam sido muito produtivas, mas ela não desistiu. E foi por isso que me esforcei mais. O molho ajudou a melhorar o sabor da massa, mas ficou "engolível" e eu me orgulhei porque ela se orgulhou.

A maioria das coisas depois dessa foi Chloe ou Maggie quem me ensinaram. Aprendi a fazer biscoitos e tortas, embora não os fizesse com frequência. Uma vez eu e Candice demos uma festa do pijama com outras três garotas que nem lembram o meu nome e às vezes se dão ao trabalho de acenar. Eu cozinhara alguns docinhos e comemos burritos de jantar.

Entrando no café, mal ouvi o sininho da porta tocar, ainda presa na memória de meses atrás. Foi naquela festa, em que eu vestia um pijama bobo de abelhinha e comia jujubas enquanto Hora de Aventura passava na TV, que Candice revelou com um risinho que ela e Alex haviam se beijado. Engasguei com a bala e, de certa forma, sinto como se nunca tivesse desengasgado.

Concluí que gostava do lugar depois de uma olhada em volta. Não era grande e me agradaram as lâmpadas não muito brilhantes em fila pendendo por cima do balcão. E do vidro na frente, permitindo ver o lado de fora, exceto pelo espaço ocupado por coisas escritas em letras desenhadas em adesivo.

Cheirava a café torrado, pão fresco e madeira maciça. O piso de linóleo estava polido.

Sentei-me no balcão e pedi uma xícara de café apenas para não ser aquela pessoa inconveniente que só está utilizando o assento e o wi-fi grátis.

Em uma mesa sem toalha, um garoto de óculos de aros grossos lia Uma Breve História do Tempo, de Stephen Hawking. Era o único livro em minha prateleira. Presente de Alex antes de descobrir que leitura não era uma paixão minha.

Agora café era uma grande paixão minha, diga-se de passagem. E cereal, por algum motivo. Nunca foi sobre os brinquedos dentro da caixa pra mim.

Consegui terminar minha bebida bebericando-a enquanto esperava e não pensava em nada em particular. Puxei o celular do bolso e comecei a decorar uma casa imaginária em um joguinho.

Passadas meia hora, pensei em pedir alguma coisa para viagem e voltar pra casa. Olhando para as árvores balançando do lado de fora me arrependi de não ter procurado melhor o casaco no meio da bagunça.

- Oi - disse Nate, parando do meu lado. - Desculpe o atraso.

A garota do outro lado de batom vermelho e botas de couro teria se levantado e saído. Mas nem todas podemos ser "a garota que não espera".

Fiquei olhando para seus olhos castanhos, aguardando a desculpa que acompanha um atraso, mas era só isso. Ele simplesmente sentia muito pelo atraso. Gostei da sinceridade disso.

- Vamos nos sentar numa mesa? - sugeriu ante o meu silêncio.

Pedimos waffles, o que causou um levantar de sobrancelhas na garçonete com a caneta com ponta de ponta de pom pom rosa. Para beber eu quis um café com leite, chocolate e doce de leite, e Nate um chá de menta. Achei uma péssima escolha.

- O quê? - indagou ao perceber minha expressão.

- Chá de menta? - Segurei um vidrinho com açúcar e logo após o pus de volta, olhando pra ele.

- Eu sou... original. Pelo menos imprevisível, admita.

Soltei uma risada.

- Boa sorte com essa combinação. - Revirei os olhos.

- Acontece - disse ele, colocando o braço no encosto da minha cadeira - que eu sou muito bom em combinar... sabores que normalmente as pessoas não imaginariam juntos.

Percebi o flerte na mesma hora e o ignorei, pegando agradecida meu copo de isopor quente da bandeja antes de a garçonete ter a chance de pôr em cima da mesa.

Dividimos os waffles e bebemos de nossos copos. Qualquer um teria achado o meu doce demais (porque provavelmente estava), mas achei que era o que eu precisava.

O vapor quente do copo subiu ao meu rosto e embaçou a lente dos meus óculos. Isso sempre acontecia. Antes eu os tirava para ingerir coisas quentes, mas agora eu apenas aceitava a condição.

A verdade é que eu era tão desastrada que perdi as lentes quando, anos antes, tentei me livrar de meu outro par de olhos.

As crianças já me chamaram de "quatro olhos", mas nunca me senti ofendida de verdade. Achava engraçado e bem sem noção, honestamente: óculos não são ou ao menos se parecem com outro par de olhos.

Só tinha achado que talvez lentes fossem mais práticas considerando que eu sempre me esquecia dos óculos, quase os transformando em um acessório, quando eu precisava deles para ver mais do que um borrão. Porém certa vez caí no sono de lentes durante uma aula (o que não era incomum) e acordei desesperada com elas perdidas em minhas órbitas.

Ajeitei os óculos automaticamente no rosto e estiquei as mangas da camiseta. Minhas mãos estavam quentes devido o contato com o copo.

- Me fale sobre você - pediu Nate.

Suspirei. Não é que eu não tivesse nada para dizer, é só que resumir quase 18 anos de decepções e alguns momentos alegres me pareceu... cansativo.

- Zoe Carter, dezessete anos. Faço aniversário em dezembro, o que acho uma merda. Uma irmã. Um gato.

- Uau, que prática - zombou ele. - Me conte algo que nunca contou a ninguém.

Essa era difícil, já que tinha sim uma pessoa que parecia saber tudo sobre mim, exceto uma coisa.

Estreitei os olhos para ele.

- Você já pode encher um arquivo da polícia sobre mim. Eu sei que seu nome é Nate - apontei.

- Teremos tempo para você descobrir coisas sobre mim. Começamos com amizade e depois... - ele colocou a mão sobre meu braço -... depois veremos.

Apesar do meu sorriso fraco, eu sabia que não haveria "depois veremos". Não haveria "nós", porque o timing dele era péssimo. Tirei o braço sem ser rude. Ele se recostou no assento almofadado.

- Então aqui vou eu. - Ele fez uma pausa dramática. - Sou um vampiro.

A intenção claramente era me fazer rir, o que eu fiz, mas de modo sarcástico, enquanto me lembrava da cena em Crepúsculo em Bella descobre o que Edward é. Nate era mesmo pálido, mas não demonstrava outros sinais, como dentes salientes e medo do Sol.

- Meu sangue tem muito colesterol - confessei de brincadeira, embora o fato fosse verdadeiro. - Se você for como o Drácula de Hotel Transilvânia vai odiar.

Ele riu de modo galanteador mas sincero.

- Bom argumento.

Eu não estava de relógio, todavia a escuridão que podia ver pelo vidro embaçado pelo frio me dizia o bastante sobre as horas.

- Está tarde - falei, bebendo o restinho do conteúdo do meu copo.

- Carona? - ofereceu Nate, se levantando.

- Muita gentileza, mas não, obrigada.

Fomos até o balcão e dividimos a conta por insistência minha. Até porque eu já havia consumido um café enquanto aguardava. Não sei se foi a culpa de me deixar esperando, mas Nate cedeu.

Lá fora recebi uma lufada de ar gelado, que foi logo bloqueado pelo casaco dele. Olhei em sua direção para negar, afinal, ele também ficaria com frio, mas ele levantou as mãos insistindo.

- Certo - murmurei. - Obrigada. É um belo casaco...

O próximo movimento eu não antecipei. Um beijo. Curto, mentolado e com um quê de chocolate. Depois mais um, um pouco mais longo, deixando nossa respiração entrecortada.

Imprevisível de fato.

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