♚♚♚♚♚♠♚♚♚♚♚♚
♚ Pov Asher ♚
Minhas palavras soaram desacreditadas.
- Sim, você ainda a ama. - Loriana sorriu de lado.
- Ardena será apenas o meu passado. - disse olhando-a nos olhos.
- Ma ainda não é Asher. Não conte vitória antes do tempo.
Estávamos sentados na grama do jardim encarando a floresta.
- Tenho uma reunião daqui sete minutos. - comentei impaciente.
- Meu noivo é tão ocupado. - brincou.
- Se você pudesse ser algo além de rainha, o que seria?
- Eu seria estilista. - ela tinha uma brilho nos olhos. - E você? Sei não gostaria de ser rei.
- Eu seria domador de cavalos.
- Não sabia que amava tanto cavalos. - comentou enquanto deitava minha cabeça em seu colo.
- Lembra do Hayke?
- Claro. Aquele maldito cavalo nunca me deixou montá-lo.
Me lembrei de Ardena.
- Ele permitiu que ela o montasse. - comentei.
Loriana olhou para longe, buscando respostas para as perguntas que fazia para si mesma.
- Você reparou que todos os caminhos levam até ela? - seus olhos negros encaram-me.
- É, eu reparei. Sinto muito.
- Eu sei que ela está voltando. O que fará?
- Eu a darei o que sempre desejou, algo que tirei dela.
- E o que seria?
- A liberdade. A deixarei livre de mim.
- O que quer dizer?
- Assim como Dakota, eu a farei esquecer. Devolverei pelo menos uma parte do que roubei.
- Asher... Se fizer isso...
- É preciso ser feito. É mais do que justo.
Eu estava decidido. Ela tinha o direito de viver uma vida longe de mim. E se ela deixar de me amar, não sofrerá quando eu partir.
Eu não contei a Loriana, a pouparia da dor.
- Você sabe o que faz.
- Obrigado por estar aqui.
Ela me fazia bem nos poucos segundos que estava comigo.
- Eu sempre estarei. - ela mexia nos meus cabelos fazendo meus olhos se fecharem.
- Asher? - sua fina voz soou pelo jardim.
Pensei estar tendo um sonho, mas quando abri meus olhos, ele estava ali.
Me levantei surpreso.
- Nann?
Ele caminhou até mim com um olhar distante. Eu corri até ele e o levantei.
- Ei, meu campeão - peguei em sua cintura e joguei pelo meu ombro como um saco de batata.
- Asher? - chamou.
Eu o levei até Loriana que ria.
- Asher me põe no chão. - sua voz saiu séria.
O fiz estranhando seu comportamento. Nann estava estranho.
- O que foi?
O brilho que sempre encontrava em seus olhos não estava mais lá.
- Precisamos conversar.
- Eu tenho que ir, vou olhar alguns vestidos na Internet. - Loriana disse. - Foi um prazer vê-lo, Nann.
- O prazer foi todo meu. - disse educadamente.
Ele esperou que ela saísse e encarou-me seriamente.
- Quem te trouxe?
- Vincenzo! Viemos para a reunião. - respondeu seco. - Por que não me contou?
- O quê?
Meu coração pulou algumas batidas fazendo meu corpo se tensionar.
- Ardena está viva. Como nas minhas visões.
Nann parecia estar mais crescido. Sua voz estava mais grossa, e ele parecia mais forte.
- Sim. Eu iria contar, mas esperaria a hora certa. - confessei.
- E quando seria? Quando Ardena batesse na minha porta?! - eu nunca havia o visto daquela forma.
Nann estava irritado, magoado e frio. Parecia a mim. E isso me incomodava, ser como eu não era uma boa opção.
- O que aconteceu com você? Está diferente.
- Saberia se não tivesse me largado! - sua resposta me cortou como uma faca.
A culpa me consumiu por completo. Eu sabia exatamente o que ele sentia, pois, meu pai também havia me abandonado.
- Sinto muito. - ele desviou o olhar para a floresta pensativo.
- Asher, eu continuo tendo visões.
- Visões? Sobre o quê?
- Sobre a nossa família. Tanto no passado quanto no futuro. - havia incertezas em seu olhar.
Eu não sabia qual dos momentos era pior. O passado ou o futuro.
- Como o quê?
- Alteza? - um guarda se aproximou fazendo reverência.
- Diga.
- Eles te aguardam para a reunião.
Nann bufou e encarou a floresta.
- É importante Nann. Me espere aqui.
- Sempre em segundo plano! - ele cruzou os braços e se sentou na grama.
- Por favor não vá embora. - pedi.
- Não irei!
...
- Ah, Alteza? O Almirante John Block chegou e está na sala de reuniões com as demais Cortes.
Entrei na sala sem a farda e fui para o meu lugar.
- Asher cadê sua roupa? - Allan perguntou me seguindo.
Meu pai desaprovou meu comportamento apenas com o olhar.
Olhei para a janela e vi John de braços cruzados sorrindo para mim. O cumprimentei com um aceno de cabeça no qual fui retribuído.
John era uma das únicas partes boas da minha infância. Talvez a única.
Era bom tê-lo ali.
A reunião se deu aos novos projetos e acordos. Todos queriam negociar de alguma forma conosco.
Eu me orgulhava do país que tínhamos. Éramos unidos e fortes.
Meu pai falou na maior parte do tempo, mas minha cabeça estava longe dali.
Nann continuava a ter visões e isso não era bom. Mas de certa forma nos dava uma grande vantagem. Eu gostaria de saber quando iria partir.
- Quanto a expansão territorial? - o rei de Campiny perguntou. - Seria vantajoso.
- O quê? - perguntei voltando ao foco.
- Sim. Estamos pensando sobre isso. O alvo é a Escócia e futuramente a Irlanda. - meu pai disse sonhador.
- Não haverá expansão! - afirmei sob os murmúrios insatisfeitos e assustados dos demais.
- Como é? - meu pai questinou com os olhos raivosos.
- A Escócia não nos dará seu país de mão beijada. Não irei começar uma guerra.
- Qual o problema com a guerra? - perguntou um dos reis.
- Ela mata pessoas inocentes! - respondeu John óbvio.
- Sim. Não precisamos de mais uma expansão territorial. As terras do País de Gales já foram suficientes para crescermos. - acrescentei.
- Devemos tomar toda a ilha da Grã-Bretanha. - um deles falou.
- Não iremos fazer isso. Não será fácil uma unificação cultural, eles tem costumes bem distintos. Não será como o País de Gales.
- Essa decisão ainda não foi tomada. - me levantei com sua audácia.
- Eu sou o Imperador e você o Rei de um dos meus reinos. Então faça juízo ao seu lugar! - bati as mãos na mesa chamando sua atenção. - Essa reunião está encerrada!
- Asher, ainda temos muitos pontos a resolver. - comentou Allan.
- John me substitui. Tenho um assunto importante para resolver. Aproveitem a festa.
- É assim que quer me mostrar que se tornou um homem? - meu pai disse quando chegava a porta.
- Pai, eu sou homem desde dia que aceitei fazer parte desse mundo. Eu não tenho que te mostrar nada. Pelo contrário, é você que tem que provar que é digno da minha confiança. Eu sou o líder quet não você queira ou não!
Esse era o certo a se fazer. Eu aprendi algo naquele dia, família sempre em primeiro lugar.
E não importava mais, meu pai não iria mudar e eu não voltaria a ser o monstro que era.
Nann ainda estava sentado lá. O céu estava mais escuro dando sinal de que a tarde se aproximava.
O palácio estava cada vez mais agitado para a festa que iria se seguir. Os empregados passavam de um lado para o outro carregando coisas.
- Nann? - o chamei fazendo-o levantar.
- Asher.
- Podemos conversar agora. - disse me aproximando.
- O que eu tenho para te dizer será breve. - seus olhos continham um brilho triste.
Eu estava com medo.
- O que é?
- Durante o período que estive com Vincenzo, eu aprendi a me controlar, e pedi a ele que me ensinasse a esconder esse lado dentro de mim.
- O que você está falando? - perguntei confuso.
- Eu pesquisei sobre a minha família e descobri algumas coisas.
- Que coisas Nann? - estava claro que muito tuim vinha a seguir.
- Eu sou o fruto de um estupro. E pelo que li eu sei exatamente quem foi.
- Meu Deus. Não se preocupe eu resolvo! - afirmei a ele. Eu faria o que fosse para ajudá-lo.
Nann parecia não se abater com aqurla informação, algo me dizia que ele sabia disso a muito tempo.
Eu vou matar esse cara!
- Não! Essa luta não é sua Asher. É minha. Mas não foi só isso que eu encontrei.
- O que mais? - era nítido o medo em minha voz vacilante.
- Uma tia. Irmã da minha mãe.
Meu coração se acelerou.
- Uma tia?
- É. Em Dundeya. Ela é professora.
- E... - eu realmente queria que um raio caísse sobre minha cabeça para não ouví-lo.
- E você sempre exigiu de mim a sinceridade. E agora está na hora de ser sincero. Eu não quero essa vida. Eu perdi a minha mãe, e você me adotou. Me acolheu como um filho. Mas você é Asher Mikkelsen e não pode ter filhos. Tudo o que você pode ter é herdeiros. E eu não sirvo para seguir essas regras. Viver nesse mundo. Porque descobrindo como é ser uma aberração, você percebe que ser normal é o melhor que se pode ser. Eu quero ir a escola, frequentar a lanchonete com os meus amigos, jogar futebol aos sábados. Coisas que você não pode me dar. Eu quero uma vida longe desse mundo ruim. E a minha mãe não me criou para ser assim. - ele disse firmemente.
Eu não conseguia respirar. Meu coração parou.
Eu estava perdendo mais alguém. Talvez o alguém mais importante. Eu não estava pronto para perder o meu filho.
- Nann, por favor. Não me abandona. - eu limpei os meus olhos um pouco atordoado.
- Me deixe ir, pai? - cerrei os meus dentes olhando para o céu.
- Não me peça isso.
- Então me dê um tempo. Me deixe ser feliz por alguns meses? - havia confusão, medo e tristeza em seus olhos. - Eu quero ter a chance de ter uma vida normal como antes.
- Não.
- Asher? Você quer a verdade? Eu vi o seu passado. Eu vi tudo o que você fez, as pessoas que matou, os motivos pelos quais te levou a cometer aquelas atrocidades. Mas Asher, você tinha razão. Eu não posso conviver com isso. Por longas noites eu pensei ter pesadelos, mas era o seu passado. Era você o monstro dos meus sonhos. Você Asher, destruiu a imagem que eu tinha do meu herói. Tem tanto sangue nas suas mãos que eu me pergunto se um dia não terá o meu.
Toda a minha esperança se esvaiu com um piscar de olhos. Todo o resquício de felicidade e fé que tinham mim morreram.
- Me perdoa por tudo. Eu sei o que dizer. - confessei.
Eu não sabia o que dizer...
- Você teve os seus motivos, mas isso não apaga o que fez. A verdade Asher é essa, por mais dura que seja. Eu não quero viver aqui e correr o risco de ser como você. Eu me lembro do que me disse, me fez prometer que eu seria diferente, e essa a única forma de não chegar a ser a escuridão que você se tornou. Me deixe ser feliz por alguns meses, é tudo que te peço.
Essa foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que fazer.
- Não Nann. Eu não vou te deixar ser feliz por alguns meses. Mas sim, por longos anos.
- O quê?
- Você está livre para viver um vida bem longe disso. Bem longe de todo o mal que eu me tornei. Eu nunca devia ter entrado na sua vida. Não podemos mudar o passado, mas o futuro sim.
- Vai me deixar ir?
- Sim. Se quiser voltar eu sempre estarei de braços abertos para te receber. Mas quer um conselho, não volte, eu nunca poderei lhe proporcionar a felicidade que você merece. - confessei me ajoelhando a sua frente.
- Obrigado por tudo Asher. Eu sinto muito não poder ficar. - aquilo também era doloroso para ele.
- Eu entendo.
Eu havia abdicado da única parte de mim que ainda era bom. E eu sabia que se continuasse comigo, essa luz se apagaria.
- Você vai ficar bem.
- Sim, eu vou. - garanti.
Um alívio tomou-me. Ele não me veria morrer, talvez a distância o ajudasse a superar mais rápido.
- Vamos?
- Para onde? - perguntei atordoado.
- Trocar de roupa. Temos uma festa.
- Ah... Você vai ficar?
- Amanhã Vincenzo vai me levar para minha tia.
- Eu ainda tenho mais uma reunião. Desta vez com a alcatéia.
- Ah... Posso participar?
- Melhor não.
Eu queria ter o segurado e dito que não o deixaria ir. Mas quando se ama realmente, se quer o melhor para ela, mesmo que seja a distância.
...
Tudo que eu ganhei naquela noite foi mais dor. Eu perdi o meu lar, assim como o meu chão.
Todo o meu alicerce foi destruído. E eu estava sozinho outra vez.
- Eu sou um traidor. - disse erguendo a mão direita.
Aquilo não passava por mero teatro, todos sabiam o que eu havia feito. Mas era um ritual, criado por mim.
- O que fizeste? - perguntou o juiz.
- Eu soltei aos ventos nossos segredos.
- Eu lhe condeno a morte de raça.
Chamávamos Morte de Raça quando éramos banidos de nosso povo.
- Você será rebaixo ao último grau de nossa espécie e abdicará de quaisquer direitos sobre essa alcatéia.
- Sim, eu aceito.
Aquelas palavras soaram em meio ao caos. Alguns lobos uivaram decepcionados para lua. Mas o pior foi vê-los dando um passo para trás.
Estavam desistindo de mim.
Chad, Dakota, Richard, William, nosso pai, Vincenzo. Todos que eu considerava família deram um passo para trás.
E eu quis que alguém, apenas um, desse um passo para frente, mas ninguém o fez.
Eu era um traídor. E recebi minha marca. Um corte no olho. Ferida essa que ficaria para sempre em meu aldo lupino. Era um lembrete para mim e para todos de que eu havia traído o meu povo, a minha raça.
O lugar de Alfa foi devolvido ao antigo líder, meu pai. Que não só estava feliz como carregava também o desgosto para comigo.
Em toda a minha vida eu nunca imaginei perderia tudo o que perdi. Realmente o mundo dá voltas.
Eu estava no topo, e agora no fim de um poço escuro e imundo.
O vazio que havia em mim se expandiu. Meu coração se congelou. E toda a fé se esvaiu como em passo de mágica.
Eu estava destruído.
Eles fizeram o ritual de banimento, enquanto a minha marca Vinaruins queimava como fogo. E ela desapareceu.
Parte de mim deixou de existir ali.
Nos rostos de muitos havia raiva, desprezo. E em outros alívio e vingança comprida.
Deixei a floresta e fui para o meu quarto.
Não estava afim de encarar o meu pai agora.
Tomei um banho e vesti minha farda branca, que também estava larga como a grande parte de minhas roupas.
Eu me toquei de algo. Todas às vezes que eu me olhava no espelho a repulsa pela imagem aumentava.
- Asher Van Der Ville Datena Mikkelsen, futuro Imperador da Inglaterra.
Mas no fundo, eu ainda tinha a minha família, pelo menos parte dela.
Esperei em meu quarto e desci quando os carros começaram a chegar.
O salão principal já estava lotado. Haviam pessoas elegantes e risonhas por todos os lados. Fazia tempo que não participava de uma dessas festas.
Minha mãe entrou no salão ao lado da pequena atriz que representava Dakota.
Ela era a filha de uma das empregadas. Sempre que tínhamos uma apresentação em público ela estava conosco.
E Dakota, fingia ser filha de um Banqueiro muito rico.
Ela tinha que parecer ter dez anos.
Minha família estava espalhada conversando com os convidados.
Dakota e Dhyego riam de algo perto da mesa de comida.
Ela notou meu olhar sobre si e encarou-me assustada.
Dakota tinha medo de mim. Eu provavelmente também era o monstro de seus sonhos.
Chad dançava com Jane alegremente.
Nann rodava pelo salão junto a Vincenzo. Ele vestia um terno azul marinho. Me perguntava onde havia conseguido aquela roupa.
A imagem de Nann sorrindo ficaria sempre na minha cabeça. Assim como suas verdadeiras palavras.
Aquela festa não passava de um silêncio na minha cabeça.
Eu não estava ali, apenas o meu corpo.
- Como estou? - Loriana apareceu em minha frente balançando o vestido lilás.
- Está linda como sempre. - afirmei sorrindo.
- Obrigada. - ela sorriu e encarou a multidão. - Como foi lá?
- Eu sou um Zeta agora. - sorri de lado.
- Eu sinto muito. Vou pegar outra bebida para você. - virei a taça de champanhe na boca.
- O que você fez com o Asher? - John perguntou ao meu lado.
Permaneci com as mãos no bolso.
- Ele mudou.
- O que está havendo Asher? Olha para o seu estado? Está magro, fraco e parece não raciocinar direto.
- É. Isso que dá quando alfas se apaixonam. Não sabemos controlar nossos sentimentos. - comentei encarando o nada.
- Por que me chamou aqui Asher?
- Para me pagar a luta que me deve.
- Vou detonar você. - vi pelo canto dos olhos que sorria.
- Vai nessa.
A festa continuou no mesmo. Tivemos algumas apresentações musicais da banda, mas nada que realmente me interessava.
...
- Sala de jantar. - meu pai disse passando por mim.
Fui ao escritório antes de encontrá-lo.
A minha família estava toda ali, inclusive Dyhego.
Joguei as pastas sobre a mesa e voltei com minhas ao bolso.
- Aí está o que me pediu. O projeto de desenvolvimento de Dundeya eu também fiz questão de fazer.
- Imaginei que não conseguiria em quatro dias. - comentou se levantando.
Todos permaneceram sentados com os olhares sobre mim.
- Você fez algo imprudente hoje. - comentou William.
- Fiz? - ergui as sobrancelhas para ele.
- Fez! E se o título não fosse para mim? Imagina o que aconteceria se eles estivessem se oposto?! - meu pai acrescentou raivoso.
- Eu tinha tudo sobre controle.
- Tinha é? Você é um moleque que age como se soubesse de algo. Você colocou toda a nossa família em risco! Há um motivo para você estar onde está! Temos muitos inimigos, e se eles sequer sonharem que estamos indefesos eles virão se vingar.
- Eu sempre protegerei a minha família! - afirmei.
Ele soltou uma risada debochada.
- Esse é o seu dever! - rebateu autoritário.
- Meu dever?
- É! Porque você acha que chegou ao topo? Pelo seu belo par de olhos verdes?
O encarei com confuso.
- Do que está falando?
- Jeffrey, não! - pediu minha mãe.
Mas ele a ignorou.
- No fundo você sabe que eu o coloquei aí. Fiz um acordo a anos atrás para que o meu herdeiro fosse Rei.
- Isso tudo é era um plano? - perguntei me sentindo uma peça de xadrez, mas nele eu não era o rei, mas sim o peão.
- Claro que é!
- Fez isso com o seu filho? - eu queria entendê-lo.
- Você não é o meu filho! - suas palavras me atingiram como anos atrás. - Você, Asher, é o muro que eu construí para proteger os meus filhos, e a minha família como um todo. Eu sempre soube que o primeiro homem seria o meu herdeiro, e os seguintes, esses sim seriam os meus filhos.
- Chega pai. - pedi me recusando a ouvir tudo aquilo.
- Por que? Quer que eu pare? Seu pobre coração não aguenta a verdade?
- Eu...
- Eu te criei para ser o mais forte, mas acabou sendo o mais fraco. Você é uma vergonha para a sua família. Asher, você sempre foi um menininha frágil e conseguiu ser o maior erro da minha vida. - confessou com um ar superior que costumava carregar.
Eu gostaria de saber porque me importava com o que ele achava. Por que suas palavras ainda me marcavam.
Não importava mais. Essa era gota d'agua.
- Eu não tenho culpa se você não teve competência para ser um bom professor. Se eu sou um erro, foi você o criador.
- E eu me arrependo amargamente. Você devia ter morrido no lugar de Nerida! - ele cuspiu aquelas facas em mim.
- Eu tenho culpa se o seu pai não te amou!
Levei um soco no rosto me fazendo cambalear. Eu havia acertado no ponto certo.
- Asher?! - minha mãe me repreendeu se levantando.
Eu havia pensando que só por um segundo ela estivesse do meu lado, mas não estava.
- Você traiu o seu povo. E eu lhe bano dessa família! - aquilo me abriu um buraco ainda maior.
- Jeffrey?! - minha mãe levou as mãos a boca chocada.
- Alguma objeção? Mãe? - perguntei olhando em seus olhos azuis.
Havia um conflito ali. Mas ela não me escolheu dando um passo para trás.
Era o fim.
- Agora você carrega apenas o sobrenome da corte inglesa. Asher Mikkelsen você não é digo desta família. E é o meu dever nos proteger de todo mau. - meu pai disse seriamente.
Eu daria a minha vida para descobrir se ele sentia apenas um gota de culpa pelo que fazia.
- Eu sou o muro não é pai?! Então sou eu que protejo essa família! - afirmei ficando cara a cara.
- Não mais.
- Então saiam da minha casa. E não me procurem mais.
Sim, aquilo havia me custado a alma.
Minha irmã levou a mão ao peito como se soubesse a dor que sentia.
- Você merece morrer sozinho! - Dakora xingou se levantando.
- Eu fico feliz de saber que não sentirá culpa por me dizer isso. - confessei.
- Do que está falando?
- De nada! - meu pai respondeu apreensivo.
- Asher?
- Cala a boca Allan. E some da minha casa você também! Ou precisa de um convite financeiro para sair?! - olhei para ele severo.
- Cara, não faz isso.
- Esvaziem esse lugar. Eu quero todos fora desse palácio. Acabou a festa!
- Asher não podemos...
- Eu sou o Imperador! E eu dou as ordens por aqui. Quero essa droga vazia em dez minutos. - gritei dando as costas.
Olhei para eles encarando os seus olhares assustados.
- Eu daria a minha vida para não carregar esse maldito sangue venenoso em minhas veias. Se decepcionaram comigo? Fui eu me decepcionei com vocês. Eu acreditei que vocês valiam a pena, e acreditei que eu também valesse.
- Asher ainda não acabamos. Saíam todos. - meu pai disse.
Todos acataram seu pedido.
- O que mais quer conversar? - perguntei rude.
- Sobre a expansão.
- Nós já falamos sobre isso. E eu...
- Você vai morrer. Talvez hoje ou amanhã quem sabe. Mas e quanto ao seu filhinho bastardo? E o que você tinha na cabeça em trazer um mendigo para dentro de casa?
- Lava a boca pra falar dele! Ele não é um mendigo. Filho não tem nada a ver com sangue! - afirmei nervoso.
- Olha só, o gatinho vira leão para defender as crias. - zombou. - Mas me diz, e depois que ele partir?
- Onde quer chegar?
- Quem irá protegê-lo depois que você partir? Vincenzo? Você não tem vergonha na cara mesmo não. Seu avô deixou bem claro que não queria nenhum envolvimento com essa família!
- Está me ameaçando?
- Não. Estou te alertando. E você sabe que é verdade.
- Quer trocar a expansão em troca da proteção de Nann?!
- Exatamente.
...
Eu vi Nann partir. Eu vi a minha família partir. Eles levaram junto toda a minha esperança.
Eu estava sozinho no meio de toda a minha bagunça.
O silêncio era o único presente, o palácio estava vazio.
Não se ouviu um ruído além do vento.
Estava tudo uma imensidão de nada.
Meu ser foi consumido do por raiva, ódio e uma fúria incontrolável.
Eu destruí tudo que estava a minha frente. Todo um andar despedaçado.
Arremessei cadeiras, mesas para fora das janelas que se espatifaram em mil cacos.
Eu estava cego.
Rasguei os sofás com minhas garras e destruí tudo até sobrar mais nada.
A adega foi a única intacta. Peguei um garrafa de Everclear e segui em meio aquela destruição.
- O que faz aqui? - perguntei encarando o jardim de meu escritório por onde antes havia uma janela.
- Se sente melhor em bancar o demolidor? - ele perguntou ainda a porta com as mãos ao bolso.
- Vai embora John. Preciso de um tempo! - afirmei bebendo mais um gole.
- Para que me chamou? - o encarei sério.
- Tudo bem, se quer assim. - me virei em sua direção. - Eu quero ser como antes!
- Um monstro?
- Não! Eu!
- Sabe como foi tranformá-lo de volta Asher? Foram anos. E agora quer voltar a ser um sanguinário.
- Eu quero ser como eu fui criado para ser.
- Não é tão simples. Você era ruim, pelas coisas ruins que passava. Por suas memórias marcadas.
- Então as reviva em mim. Me leve ao meu passado!
- Asher, se fizermos isso agora pode ser que você nunca mais volte a ser como é hoje.
- Já está tudo escuro aqui. Não há escuridão maior que possa me destruir.
- Não faça isso com você mesmo.
- Eu estou morto. Não tenho nada a perder.
- E Nann? Ardena? Sua família? Sua alcatéia?
- Eles me abandonaram. Foram seguir suas vidas sem mim, na tentativa de serem felizes.
- Ah meu Deus. Você foi banido! - ele completou.
- Vai o não me fazer ser invencível outra vez?
- Será insuportável. Doloroso ao extremo. Irei cavar até o fundo e enterrar a sua alma.
- Não há mais alma. - confessei.
- Sempre há esperança.
John era um grande positivista. Mas eu já havia tomado a minha decisão.
- Eu vou voltar a ser aquilo que as pessoas temem. - meus olhos clamavam ódio.
- Você vai conhecer o seu lado negro que ninguém nunca conheceu.
- Estou preparado para ser...
- Ser...?
- Escuro!
- E o que pensa em fazer? - havia medo, incertezas e receio em seus olhos negros.
- Vou começar uma... Guerra.