Não respondi a Liam. Não soube o que lhe dizer.
Alana estava a dançar com Thomas na pista de dança como se fossem namorados, e algo em mim me diz que é exatamente isso que eles são. Parece que têm cola e confesso que fico com uma pontinha de inveja por todos terem um par e eu estar sentada ao balcão a beber um pornstar martini após ter ingerido dois samplers.
Paige e William desapareceram durante uns vinte minutos e quando reapareceram vêm com ar de quem acabou de dar uma queca. Pervertidos!
O meu irmão e a Alexis não ficaram até muito tarde pois a minha cunhada estava cansada e foram para casa. Mas o meu irmão estava teimoso e não estava com grande disposição para me deixar sozinha a beber sabendo o que Barry tinha feito. Ficou prometido então que assim que chegasse a casa lhe dizia que tinha chegado bem.
De: Vicky Renner
Para: Liam Hunter
Assunto: Idade
Data: 18 de setembro, 2016, 00:59 am
Quando me vais dizer a tua idade?
Vicky
Com outro pornstar martini, decido ir também para a pista de dança. As músicas que o DJ local passava eram conhecidas mas todas em remix. O ambiente do bar é sempre agradável, com boa música e boas bebidas.
De: Liam Hunter
Para: Vicky Renner
Assunto: Idade
Data: 18 de setembro, 2015, 01:05 am
Caramba, Victoria! Que porcarias andas tu a beber?
O que interessa a minha idade?
Liam Hunter CEO, Hilarious, Hunter Participações e Empreendimentos Inc.
Rio com o seu e-mail no meio da pista de dança e penso em tudo o que bebi. Dois copos de vinho, dois shots samplers e dois pornstars martinis.
William pagou a última rodada de shots para todos e depois a Alana e Thomas foram embora. Dançámos mais cerca de vinte minutos e depois de muita insistência de Paige, ambos foram levar-me a casa.
- Estás com péssimo aspeto, Vicky. - ouço a minha melhor amiga dizer enquanto me descalça as sandálias.
Não tenho sequer forças para mais do que um resmungo. William é que me carregou até à cama pois não sei se conseguiria tampouco chegar até lá.
- Ficas mesmo bem, Vicky? - Paige pergunta tampando-me com os cobertores.
- Hm... - é a única resposta que consigo dar.
Os meus olhos pesados fecham-se num suspiro longo e desligo completamente.
(...)
Quando acordo apercebo-me que estou vestida apenas com o top que escolhi para combinar com a saia e que estou de cuecas, nada mais.
Esfrego os olhos e merda, estou de ressaca.
Não sei como é que cheguei a casa e o que fiz. Lembro-me que não avisei o meu irmão de que estava bem.
Levanto-me a muito custo e vou para a cozinha à procura de uma caixa de Advil para tomar.
Procuro por todas as gavetas e prateleiras mas nada.
- Aqui. - ouço uma voz rouca e familiar dizer atrás de mim.
Viro-me abruptamente e à minha frente está Liam sentado num dos bancos ao balcão. Levo um susto. Como é que ele entrou aqui? Que horas são?
Liam estende um copo de água para mim. Caminho meio desconfiada até ao balcão mas acabo por aceitar o copo de água, assim como os dois comprimidos vermelhos que ele me dá.
Engulo os comprimidos com a água e quando pouso o copo, faço um rabo de cavalo. Estou com péssimo ar e ainda por cima o meu chefe está em minha casa.
- O que fazes aqui? - a minha voz é baixa.
Dou a volta ao balcão e ficou de frente em pé para Liam que me olha de cima a baixo. Faço o mesmo que ele e merda! Eu estou de cuecas. Não quero saber.
Ele agarra-me pela cintura e puxa-me para si, posicionando-me no meio das suas pernas longas. Não faço qualquer tipo de tentativa para me soltar dele.
- Vim-me certificar de que estavas bem. - ele afasta alguns fios de cabelo dos meus lábios que ficaram soltos do rabo de cavalo.
- Hmm... - é a única coisa que sei dizer.
- Não me respondeste e eu fiquei preocupado. O que foi que bebeste?
- Dois copos de vinho, três shots samplers e dois pornstars martinis. - respondo apreciando a sua beleza.
Ele tem a barba por fazer como das outras vezes e que lhe fica muito bem, tem o cabelo todo penteado para trás e dos lados praticamente rapado.
Está vestido com uma t-shirt cinza, umas calças justas de ganga e tem calçado umas botas castanhas. Ele está todo quente mesmo à minha frente e eu num estado lastimável.
Ele está a usar o mesmo perfume de sempre e jamais conseguirei esquecer a quem pertence esta frangância.
- Como é que sabias a minha morada? - questiono-o de cabeça encostada ao seu peito enquanto ele esfrega as minhas costas delicadamente.
- Liguei à Alana. Eu estava mesmo preocupado. - ele dá-me um beijo no cimo da cabeça.
Que situação mais estranha mas nem estou para aí virada.
Fui tomar um duche e vestir uma roupa mais apresentável. Deixei os cabelos soltos para secarem naturalmente sem me preocupar em esticá-lo e vesti umas calças desportivas com uma blusa.
Enquanto fui fazer isso deixei Liam na minha cozinha a preparar o pequeno-almoço. Fez-me um batido qualquer para a ressaca que desceu divinamente e umas torradas com pão integral tal como eu gosto. Tenho que confessar que foi muito atencioso da parte dele e até me poderia acostumar a isto todos os dias.
- Como é que te sentes? - ele pergunta com atenção em mim.
Termino de mastigar a última torrada.
- Sinto-me bem. Eu não devia ter bebido tanto. Eu sei que a bebida não resolve problemas mas todos estavam acompanhados e eu sem ninguém com quem me divertir. Para estragar tudo, ontem antes de ir ter contigo à editora o meu ex vem ter comigo com ar de louco e à noite descobri que ele abusou de uma rapariga... - bebo o resto da minha bebida só para não ter que olhar para o moreno à minha frente porque sei que iria chorar.
Ele suspira e vira-se para mim, fazendo-me olhar para si.
- Só estavas sozinha porque quiseste, Victoria. - ele pousa o meu copo no balcão. - Tens medo do teu ex?
Um arrepio atravessa o meu corpo. Assinto levemente.
- Ele alguma vez fez contigo algo que não fosse consensual? - Liam está nervoso pela resposta. Consigo ver nos seus olhos.
- Não exatamente. Ele era bruto. - respondo com sinceridade.
- Ele magoou-te?
- Às vezes. Mas não foi nunca como aquilo que ele fez com a rapariga. Eu penso que poderia ter sido a rapariga. Vivemos juntos, dormíamos juntos... Ele podia ter-me forçado e eu nunca o iria conseguir parar... - lágrimas escorregam pelas minhas bochechas que são rapidamente limpas pelos dedos enormes de Liam de forma carinhosa.
- Pronto. - ele beija-me suavemente nos lábios molhados pelas lágrimas. - Está tudo bem.
Acho que me poderia habituar a que Liam cuidasse de mim.
- Como é que entraste? - inquiro.
- Fiz uma ginástica. - Hunter sorri.
Rio levemente.
- Preciso ligar ao meu irmão. Ele deve estar preocupado. - digo soltando-me dos braços de Liam.
- Está tudo bem, garota. O teu irmão ligou há bocado e eu disse-lhe que estavas bem. - ele responde fazendo-me aproximar dele novamente.
Oh. Meu. Deus. Liam falou com o meu irmão. O que terá ele pensado?
Levei-o até à sala, sentamo-nos entrelaçados literalmente. Ele fazia-me festinhas nos cabelos e eu podia sentir o seu hálito quente e mentolado perto do meu pescoço.
- A Alana anda a dizer a toda a gente que eu e tu temos um caso. - comento envergonhada.
- E que mal tem? - ele não vê mal nisso?
- Nós não temos nenhum caso. - resmungo.
-Tens razão. Estamos a começar a ter algo mais do que isso. - ele responde com um beijo.
- Quantos anos tens, Liam? - beijo a sua mandíbula de forma a incentivá-lo a contar-me.
- Porra. - ele geme. - Trinta e oito.
Paraliso e fico à espera que ele pare com a brincadeira.
- Merda, Victoria. Tenho trinta e oito anos. - ele suspira. - Diz alguma coisa. - ele pede.
São doze anos a mais que eu. Caramba. Eu jamais lhe daria trinta e oito anos. Mas calma, eu já sou adulta, que mal tem?
- Eu tenho vinte e seis... - murmuro.
- Eu sei. - esclarece. - Isso assusta-te?
Nego com a cabeça. Mais ou menos.
- Por que é que um homem de trinta e oito anos anda atrás de uma rapariga de vinte e seis, quando devia estar casado e já ter filhos?
Ele para os seus movimentos nos meus cabelos.
- Já fui casado... - ele admite.
Ele já foi casado? Foi isso o que eu ouvi?
- Já? - o meu tom é baixo.
Como é que de repente ele me conta estas coisas assim?
- Sim. - ele agora está sentado, encostado no sofá. - Não funcionou.
- Porquê?
- Ela desistiu. Só eu é que tentava que entre nós as coisas resultassem, só eu é que demonstrava interesse e um dia fartei-me e pedi o divórcio. Mas antes disso ela já tinha decidido ir-se embora. - ele não parece realmente importado com isso.
- Oh, eu lamento. - não que lamente a cem por cento porque se as coisas entre ele e a mulher tivessem funcionado nunca estaria com ele agora.
- Então e por que é que as coisas entre ti e o Barry não funcionaram? - ele encara-me e eu fico desconfortável.
Primeiro pergunto-me como é que ele sabe o nome do meu ex mas depois recordo-me que lhe disse no dia anterior.
Segundo, fico a olhar para ele sem saber o que responder. Para lhe falar da minha separação de Barry tenho que falar do aborto, e eu não sei se lhe quero falar disso.
Fico a olhar para ele pelo que parecem uns dez minutos até ele decidir intervir.
- Não te obrigo a contar, Victoria. - ele tenta acalmar o meu pânico mas eu sei que ele quer saber.
Respiro fundo e decido contar. Já passou.
- Eu e o Barry não tínhamos uma relação nada saudável... o meu chefe arqueja o cenho e eu prossigo. - Ele era muito controlador, era insensível e bruto, e já andávamos mal há algum tempo e eu queria terminar com ele mas adiei quando descobri que estava grávida. - a sua expressão muda para surpreendido e chocado, pelo menos é o que acho.
- Então e separaste-te dele quando o bebé nasceu? - ele quer saber.
Abano a cabeça e olho-o nos olhos. Não quero saber se chorar à frente dele.
- O bebé não nasceu... - ele apercebe-se que tocou num assunto delicado. - Era uma gravidez ectópica...
- Deus, eu sinto tanto. Deve ter sido difícil para ti. - ele morde o seu lábio inferior.
- Não foi uma gravidez nada esperada. Não sei como é que aconteceu. - confesso.
- Não? - está de cenho franzido.
- Foi melhor assim. O Barry não iria saber ser pai, e eu também não estava preparada. - admito.
- Eu acho que nunca há momentos certos. - ele diz.
- Então tu e a tua mulher não pensaram em filhos?
- Sim, eu e a Miranda pensámos...
Miranda! Afinal o nome dela é Miranda. Nome de piranha.
- Achas que te sentes bem para eu te levar a sair mais logo? - ele convida.
- Acho que sim... Que horas são? - pergunto confusa.
Estou de costas para a parede onde tenho o relógio grande.
Ele olha para o relógio que tem no pulso e depois responde enquanto se deita por cima de mim e me rouba um beijo.
- São quatro, amor.
Amor!
Retribuo o seu beijo mentolado e coloco as minhas mãos na sua nuca e puxo alguns dos seus cabelos maiores. Sim, eu posso ter alguma coisa com este homem sexy, quente, sensual, cortês, atencioso, amável, generoso, carinhoso, preocupado, cuidadoso, protetor e lindo, doze anos mais velho do que eu e divorciado.
- Eu quero ser tua, Liam. - afasto os nossos lábios e coloco as minhas mãos no seu rosto.
Ele sorri e aprofunda o nosso beijo.