–Deve ser aqui...-Disse Amélia ofegante ao alcançar o local que sua amiga tinha descrito momentos atrás, afinal conhecia aonde era a casa da Jessica, por ser perto da escola, várias vezes faziam os trabalhos escolares lá, logo não foi difícil refazer o caminho da amiga...
–Hum...-Olhou para os lados tentando localizar alguma figura suspeita, segundo o relato de Jess, a dupla estranha tinha adentrado em um dos becos. As ruas estavam meio desertas, já que aquele era um local cujo o comercio só funcionava a noite (normalmente constituído de bares e casas noturnas) , um lugar ideal para se esconder de olhares curiosos, pelo menos durante o dia. Amélia olhou de relance para o seu telefone celular, sentia um impulso para ligar para o Alex, contudo se controlou, não queria ser a humana frágil ... Esse era o seu momento de glória.
O som alto de uma lata de lixo sendo revirada a fez sobressaltar assustada, um gato preto saltou de um dos becos.
–Céus...-Suspirou aliviada, seu coração estava quem nem uma bateria de carnaval, tinha certeza que quase tivera um ataque cardíaco –Foi só um gato...-Se acalmou.
–...orga!
Aquilo não era um miado de um gato... Lentamente se aproximou do beco aonde adveio o som e notou um rapaz chutando um saco de lixo, parecia descontar a sua raiva, enquanto ele chutava sua camisa levantou um pouco e Amélia pode notar o que deveria ser uma arma. Rapidamente se abaixou, por trás de um monte e lixo, temendo que o outro percebesse a sua presença.
–Malditos...Eles simplesmente nos abandonaram, foi isso? –Resmungou o homem dando um ultimo chute que fez o saco estourar –Nenhuma ligação e nenhum reforço... Sem instruções...O que iremos fazer?! –Nisso jogou um aparelho celular no chão, o impacto do eletrônico no chão o fez se quebrar em diversos pedaços –Quer saber? Que se dane! Nós iremos sair desta enrascada sozinhos!
Amélia o observou se distanciando até o limite da sua visão, o possível suspeito tinha adentrando ainda mais no beco.
"Devo segui-lo!" Nisso a garota se levantou e caminhou pelo o estreito beco sujo, esperava que tivesse desenvolvido algumas habilidades ninjas neste curto espaço de tempo... Afinal, o individuo que deve investigar está armado.
"Se ele for o cara responsável pelo o que ocorreu com Sion... Eu devo ligar para Alex imediatamente, mas senão, só tenho que sair tão furtivamente quanto cheguei!". Esse era o plano... Esperava que tudo desse certo.
O beco chegou ao fim e abriu em o que parecia ser um deposito de lixo abandonado. O fedor era muito forte de modo que Amélia teve que levar uma das mãos ao rosto para cobrir o nariz e boca.
–Sinto muito...-Sussurrou o suspeito para alguém que estava deitado em uma cama improvisada de restos de sacos velhos. Amélia teve que suprir um grito ao ver quem era. Um rapaz com o corpo praticamente todo queimado. Podia-se ver a carne escurecida e avermelhada, podia-se ver parte do osso em algumas partes do corpo... Metade do seu rosto estava totalmente disforme. Como ele ainda está vivo? Um medo subitamente dominou seu coração... Aquele homem ficou daquele jeito devido o ataque de Tales... Aquele era o poder real de um dragão de fogo... Eles, apesar de amigáveis e terem aparências humanas, são de fato perigosos. Até o momento, fora o dragão purpura, não tinha observado o poder destrutivo dos dragões.
"N-não... Ele só estava se protegendo e salvando o Sion...Eu não posso esquecer que ele atirou no Tales!" Disse em pensamento para si mesmo "Não posso temer os meus amigos". Aquelas palavras ditas em sua mente não pareciam alcançar o seu coração que ainda parecia impressionado e temoroso com aquela visão horrível do homem convalescente.
–Eu irie te salvar de alguma forma... Posso assaltar uma farmácia ou...Sei lá! –Amélia sentiu um pouco te pena dele, era claro que o cara gostava do seu companheiro, entendia que apesar de tudo que ambos tinham feito de ruim mereciam receber tratamento e serem julgados de forma justa.
"Se os dragões vermelhos os encontrassem ... Será que o queimaria?" Sacudiu rapidamente a cabeça.
"Não! Eles não irão fazer isso! Precisam deles vivos... Mas..." Estava agora confusa, o objetivo era ajudar seus amigos dragões, mas agora sentia um pouco de medo.
–Tola...Eles são sua família! –Falou baixinho para si, para tentar acalmar seus pensamentos e sentimentos.
–Quem está aí? –Perguntou o homem, Amélia mordeu o lábio inferior, será que ele a tinha ouvido? Levou a outra mão a boca para suprimir qualquer outro som que porventura pudesse emitir –Eu sei que está aí! Se mostre!
–Ah...-O moribundo tentou falar alguma coisa, sua voz era fraca e de alguma forma também parecia que ele estava engasgado, como estivesse gargarejando líquido. Será o seu próprio sangue?
–Não se preocupe! Eu sei lidar com isso! Descanse! Eu posso ter causado toda essa confusão...Mas de alguma forma irei compensar tudo! –Depois sua atenção se voltou para o intruso –Onde você está!?
–Vocês humanos falam demais...-Resmungou alguém. Amélia olhou para os lados, havia mais alguém ali além deles?
–Quem...? –O suspeito parecia incerto, talvez confuso quanto ao intruso.
–A tarefa era bem simples, creio que até um cachorro treinado faria melhor. –Continuou a falar o estranho, Amélia ainda não conseguia vê-lo, tão pouco o homem que segurava a arma apontando para locais aleatórios.
–Eu não sabia que se tratava de transporte ilegal de pessoas! Isso é errado!
–Ora, você e seu amigo não são um exemplo de honestidade, afinal quando aceitaram participar de nossa "organização" sabia que não tratávamos de coisas legais.
–M-mas... Trafico de pessoas? Mano...Isso é muuuito ilegal! Cara, ele era ainda uma criança!
–Você ainda acha, depois de tudo que viu, que aquele garoto é humano?
–B-bem...-O homem vacilou, a arma abaixou um pouco e foi nesse momento de fraqueza que um homem surgiu, na verdade ele aterrissou, devia ter pulado do alto de algum das prédios abandonados dali perto. A leveza com o qual pousou no chão era de certa forma assustador, era como se aquele salto, que não foi nada pequeno, não lhe gerasse nenhuma consequência, já que se um humano pulasse da mesma altura teria quebrado as pernas.
–Quem...É você? –Perguntou o homem, o intruso apresentava olhos de íris esverdeada que de alguma forma parecia brilhar no escuro, tal como um gato, já que a pupila tinha o formato fino ao contrário do arredondado (a forma normal).
–Digamos que representado o empregador de vocês, vim aqui ajuda-los.
–Sério? –Suspirou aliviado –Que b...
O dito representante retirou uma arma do casaco que usava, Amélia notou algo acoplado na ponta do revolver, seria um silenciador que tanto vira nos filmes de ação?
–O que pensa que está faz...
O jovem rapaz não teve tempo para formular a sua pergunta já que o intruso de olhos esverdeados atirou na cabeça do homem queimado, deitado no chão. Amélia novamente teve que conter um grito de horror. O tiro foi rápido e limpo, a única indicação que fora dado era o tímido filete de sangue que escorria sob a face disforme do moribundo.
–NÃO! O QUE VOCÊ FEZ? –Gritou e chorou o outro se prostrando no chão ao lado de seu companheiro.
–Eu fui caridoso, lhe dei a paz que necessitava... –Respondeu simplesmente, agora apontando a arma para a sua próxima vitima – Se não tivessem falhado eu não seriamos levados a esse extremo.
–N-não...D-desculpe... –Chorava e tremia, tinha perdido a força das mãos, sua arma cairá no chão.
–Tarde demais, humano...
Amélia não podia simplesmente assistir outra morte... Não! Não podia permitir que aquilo acontecesse. Rapidamente pegou um saco de lixo e lançou no intruso armado e gritou. Isso pareceu ter o assustado, pois o estranho mudou a mira do seu revolver para o saco e atirou, o saco de lixo estourou fazendo que o resto de comida e latas enferrujadas fossem lançadas para todo o lado.
–Vamos! Por aqui! –Gritou a menina para o rapaz que ainda estava chorando ao lado do companheiro, toda aquela cena parece o ter despertado do seu desespero momentâneo, logo pegou a sua arma e atirou no intruso.
–Maldito...-Rosnou, seus olhos agora pareciam brilhar ainda mais, faiscavam na penumbra do beco, a bala passou de raspão pelo o seu ombro, todavia parecia ter gerado bastante dor já que o semblante calma agora fora substituído por fúria.
–V-vamos logo! –Chamou Amélia, o homem parece ter entendi que não adiantaria lutar... Não teria chance, o jeito seria fugir, por isso, não pensou duas vezes e correu.
Amélia e o suspeito que agora ela tinha total certeza se tratar do "caçador" que estariam procurando...
Esse era o momento de ligar para o Alex!
Enquanto corria buscou o seu celular, era meio difícil buscar seus contatos e ao mesmo tempo correr desviando dos montes de lixo que dominavam o chão do beco.
–Meu deus...Meu deus...Se eu escapar dessa eu juro nunca mais me meter com essas roubadas! –Choramingava o rapaz –Serei um bom garoto...Até irei a igreja!
Amélia conteve um resmungo, aquele não era o momento para ficar se lamentando por suas ações... Teriam que escapar de um provável dragão que tinha habilidade meio que ninjas misturadas com estilo James bond! A chance deles não parecia ser muito boa...
Um rugido ecoou. Sem dúvida o dragão estava irritado.
–Alex...-Finalmente encontrara o contato já iria apertar o ícone verde para ligar quando seu aparelho celular começou a vibrar a tela a piscar. Estava recebendo uma ligação? Em uma hora como aquela?
–AH! O capeta está vindo! –Gritou o outro começando a atirar de forma aleatória para atrás deles.
–N-não gaste munição! –Agora era a vez de Amélia gritar, uma fala muito comum em filmes de ação... Nunca imaginara que um dia iria falar algo assim!
Dragão idiota
Era o nome que piscava na tela do seu smartphone, esse era o nome de Alex que ela tinha salvado em seu aparelho. Ele estava ligando?! Isso era uma incrível coincidência!
–Alex! –Atendou rapidamente, ofegante –Er... Acho que preciso de ajuda...
A voz do dragão negro não alcançou seus ouvidos... Pois sua atenção estava voltada para alguém que interrompia a sua passagem, na saída do beco estava o intruso.
–Eu queria lhe dar uma morte rápida... Era a sua melhor opção, mas pelo visto optou pelo o caminho mais difícil de doloroso. –Além dos olhos faiscantes agora Amélia notara os dentes incrivelmente brancos do inimigo, os caninos tinham crescido, tal como um vampiro, liquido esverdeado escorria do canto da boca.
–E-ele é um dragão verde...-Sussurrou totalmente alheia que ainda falava ao telefone.
–AHHHH! –O rapaz atirou de forma descontrolado no seu oponente, desta vez o dragão estava preparado e desviou das balas...Ele era extremamente rápido, Amélia somente via borrões em sua visão... Se continuassem assim além de perderem toda a munição também perderiam as suas vidas!
"Pense, Amélia...Pense!" Seus olhos logo encontraram um cano azul, era o cano de gas... Aquele era um bairro comercial, cheio de bares e restaurantes que muitas vezes não recebima a vistoria dos bombeiros e de outros órgãos de segurança e higiene. Um cano de gás não deveria ficar exposto assim , porém ali estava... Esse era a oportunidade!
A garota por fim pegou o revolver do outro e atirou em um cano de gás, teve que atirar duas vezes para acertar o alvo, mas por fim quando o acertou uma explosão ocorreu lançando ambos para trás... Seu telefone? Havia caído de suas mãos quando pegara a arma... E agora?
A explosão... O impacto da onda de choque... O fogo e cheiro forte de lixo queimado e gas de cozinha agora dominavam o ar e embaralhavam sua visão e pensamento. Seu corpo doía, tinha sido lançada de encontro a uma parede.
No meio das chamas pode ver o inimigo se levantando...Seus olhos verdes agora iluminavam tal como raios lasers... Podia estar exagerando...Seus sentidos falhavam...
–Alex...-Foi que sussurrou antes de desmaiar...
Esse deveria ser o seu fim...