A cura

By PG2022

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Um conto de fantasia e mistério, no qual a vida de uma criança dependerá das visitas misteriosas de uma estra... More

Nota da autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 12

Capítulo 11

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By PG2022


(final alternativo – Parte 1)

Nas quatros semanas que se seguiram o conde não disse uma palavra que não fosse direcionada à Alice. Ele a abraçava e mimava. Fazia brincadeiras e contava histórias. Mas, assim que se afastava, trancava-se novamente em seu mundo silencioso.

A condessa o observava ao longe, com o coração se partindo a cada dia que via o filho sofrer. Desde o momento em que viu Ayla, temeu que isso fosse acontecer. Agora, via que o inevitável lhe indicar que sua maldição não terminara com a melhora de Alice. Nos fins de tarde, enquanto observava o filho caminhar até a floresta, ela repassava todos os seus conhecimentos do passado para tentar ajudá-lo.

Precisava haver uma cura real!

Em pouco tempo a Condessa Viúva percebeu que não haveria mais como convencer o filho a seguir com a vida e não tentou mais persuadi-lo a buscar consolo em Clara. A própria Clara percebera que jamais poderia ocupar um lugar no coração do conde. Erick se tornara um fantasma do homem que já foi um dia e ela sentia apenas compaixão por ele. Com o pouco de dignidade que lhe restava, Clara se despediu da família, desejando que a pequena Alice permanecesse saudável daquele dia em diante.

Erick nem sequer notou o dia em que Clara de Windsor deixou o castelo. Sua aparência já começava a ficar desgrenhada e ele não cuidava mais da saúde. Dormia pouco e comia pouco. Ele passava a maior parte dos dias trancado no escritório, olhando fixamente para a floresta na mesinha encostada à janela. Como companheiros ele tinha um diário do pai, todos os livros que pode encontrar sobre as lendas da floresta presente em sua propriedade e a flor branca que fora encontrada com ele depois que Ayla se foi. A dama-da-noite.

Todos os dias, no fim da tarde, a flor soltava seu perfume e ele lembrava dos breves momentos que teve com a moça. Ele tinha consciência de que seu amor era insano, que não poderia sentir algo tão forte por alguém que ele conhecera em tão pouco tempo, mas ainda assim, ele sentia. Na primeira semana ele foi à floresta frequentemente, várias vezes ao longo dos dias. Chamava por Ayla, gritava com a as árvores, amaldiçoava os espíritos presos no lago. Mas a floresta só lhe respondia com silêncio.

De volta ao seu escritório, ele transitava entre momentos de picos de adrenalina, em que ele investigava tudo que podia sobre a floresta e criava planos para invadi-la, e momentos de profunda depressão e introspecção.

-- Erick. – a voz da condessa preencheu o escritório atrás dele, mas ele não se virou. – Querido... Isso precisa parar.

O conde não respondeu. A condessa se aproximou e tocou seu ombro com delicadeza.

-- Pense em Alice. Pense no condado e na responsabilidade das terras.

-- Ela não murcha... – Erick disse sem emoção.

-- Como? – a condessa perguntou, confusa.

-- A flor. Ela não murcha. Porque ela não murcha? – Erick perguntou debilmente e completou sem sentido. – Tem o cheiro dela.

A condessa olhou para a flor branca ao lado dos livros. Viçosa e fresca como no momento em que a encontraram com Erick caído na floresta. A condessa levou a mão aos lábios para segurar um arfar surpreso. Então era real.

Tantos anos se passaram, tantas histórias que se tornaram lendas, lendas que um dia foram profecias. Agora, bem na sua frente, ela via que parte delas era verdadeira.

Sem dizer nada ao filho, ela saiu do escritório e atravessou as portas do castelo, seguindo decidida em direção a floresta. A cada passo, seu coração parecia pulsar mais rápido, mas ela não se deixou levar pelo medo. Ela parou no limite da fileira de árvores e observou a silhueta das copas. Elas estavam inertes, observando-a, esperando que a condessa ousasse fazer o que desejava.

A condessa fechou os olhos e, puxando o ar em uma única respiração profunda, deu um passo para frente. Assim que ultrapassou o limite das sombras da floresta, o ar ficou mais denso e a superfície de sua pele arrepiou. Uma eletricidade invisível contornou seu corpo e, no mesmo instante, a floresta caiu em profundo silêncio.

O completo vácuo e estagnação não a surpreendeu. Era uma das condições de seu banimento. Ela estava completamente isolada do lugar que um dia chamou de lar. Mas isso não a deteria. Havia muito mais em jogo do que o seu exílio.

-- Onde ela está? – A condessa perguntou, tentando manter a voz firme.

A floresta permaneceu em silêncio.

-- Eu preciso vê-la, deixe-me falar com ela!

Silêncio...

O coração da Condessa Viúva pareceu ficar mais pesado. Ela conhecia seu povo, conhecia a arrogância e teimosia dos que um dia chamou de família. Mas também conhecia seu poder, e, por isso, manteve-se firme no lugar. Ela não recuaria.

-- Vocês também perceberam, não é mesmo? A história é verdadeira. Eles são a prova disso! – a condessa gritou. – Deixe-me vê-la! Sei que ela também está definhando.

Um leve farfalhar de folhas indicaram que suas palavras foram levadas para deliberação. A condessa esperou.

-- Indis... – uma voz feminina grave e tranquila disse às costas da condessa.

A condessa voltou-se em direção à voz e viu o rosto jovem e gentil de sua melhor amiga, a mãe de Ayla. O rosto ovalado, a pele brilhante e os olhos amendoados da mesma cor dos de sua filha mostravam ternura. A jovem ninfa sorria, feliz em rever sua amiga, mas seus olhos denunciavam a tristeza que recaiu sobre toda a floresta nas últimas semanas.

-- Indis... – a jovem ninfa repetiu. – A mortalidade e as rugas não diminuíram sua beleza.

-- Feyre... – a condessa sentiu lágrimas saudosas correrem pelo rosto enquanto se aproximava da figura esbelta e etérea à sua frente.

As amigas se abraçaram, misturando o choro e o sorriso aliviado de um encontro aguardado ansiosamente. Para a condessa, aquele toque simples, de um passado onde já fora feliz, foi o conforto necessário para renovar suas forças.

-- Eu senti tanto a sua falta... – a condessa disse, limpando as lágrimas.

-- Eu sei. Ayla me contou... – a ninfa respondeu com tranquilidade.

A condessa deu um passo para trás e se recompôs. O tempo afastada de seu povo, vivendo no seu exílio, a havia feito esquecer do quanto os seres da floresta eram menos emotivos que os humanos.

Depois de um momento recuperando o senso necessário para a situação, a condessa repetiu a pergunta:

-- Onde ela está?

-- Está descansando.

-- Não há descanso que a cure. Você sabe disso. Ela precisa dele.

A expressão da ninfa ficou apática e ela disse friamente:

-- Ela não precisa de um humano, Indis.

-- Você sabe do que estou falando, Feyre. É real. Eles estão definhando um sem o outro. O sangue deles se conectou da forma como os antigos contavam.

-- Não! – a ninfa disse ríspida. – Isso nunca aconteceu. São lendas.

-- Não é uma lenda, é uma profecia. Você não pode ignorá-la!

-- Mesmo que a profecia fosse real e acontecesse, uma ninfa não se conectaria à um humano.

-- Ele é um híbrido.

-- Um híbrido humano. Nosso povo não se conecta com humanos. – a ninfa disse ainda mais indignada.

-- Eu sou a prova do contrário! – a condessa quase riu, misturando desespero e deboche.

-- Você escolheu amar um humano, Indis. – a ninfa retrucou.

-- E eu não tenho escolha a não ser amar a sua filha! – a voz de Erick soou atrás delas, surpreendendo-as.

Diferente das vezes em que foi sozinho para a floresta, agora, a presença de Erick reverberou na floresta e fez as folhagens, antes estáticas, de repente rugirem em agitação. Uma eletricidade quase palpável pulsou ao redor deles e um suspiro vindo de muito longe parece dar vida à floresta.

Erick sentiu seu sangue aquecer e o coração pulsar com a mesma intensidade de quando beijou Ayla. Dessa vez ele podia senti-la. O sopro de vida havia vindo dela, no momento em que ficaram mais próximos. Ela também o sentiu, ele sabia.

A ninfa se aproximou de Erick lentamente, examinando o rosto cansado, a barba de dias sem fazer e as vestes amassadas. Por alguns segundos ela sentiu pena do jovem à sua frente, notando seu sofrimento, mas logo retornou à urgência da situação.

-- O que você faz aqui? – ela perguntou aflita. – Não deveria se aproximar de nós.

-- Não há nenhum outro lugar em que eu deva estar neste momento. Não vou mais ficar afastado dela. – Erick respondeu firme, contrariando sua aparência cansada e desgrenhada.

A floresta voltou a pulsa ao redor deles e a condessa sorriu. Erick não sabia, mas estava fazendo exatamente o que era preciso.

-- Você também está percebendo, não está, Feyre? – a condessa disse. – É real!

-- É só uma profecia. Ela nunca aconteceu em milhares de anos... Não pode ser real. – a ninfa respondeu transparecendo, pela primeira vez, um lampejo de medo.

-- Meu amor é real! Posso garantir isso! – Erick disse e estendeu um livro para a ninfa.

O livro era um diário. O diário do seu pai.

-- Meu pai amava minha mãe – Erick começou a dizer. – e mesmo vocês a tendo exilado, ele estendeu esse amor ao seu povo, pois era parte do que ela era. Ele pesquisou e compilou tudo o que encontrou sobre vocês em seu diário. E sabe o que ele encontrou? – Erick encarou a ninfa que arregalou os olhos espantada. – Ele encontrou a profecia. A profecia que dizia que dois mundos se ligariam em um laço inabalável e trariam a paz através de uma nova linhagem.

A ninfa deu um passo para trás, abalada, e Erick avançou mais para o interior da floresta.

-- Os dois mundos se ligaram quando eu nasci. – Erick continuou. – Eu faço parte dos dois e era preciso que um hibrido nascesse para que a profecia se concretizasse. Eu senti o exato momento em que eu e Ayla nos tornamos um só. Soube quando ficou claro que eu não poderia mais viver sem ela. – com muita delicadeza ele tirou do bolso uma flor branca, a dama-da-noite de Ayla, e a observou com carinho. – Ela não murcha.

A ninfa fechou os olhos, temerosa, e Erick a encarou, agora com um novo fogo nos olhos.

-- Você sabe porque ela não murcha, não é? Minha mãe também soube quando a viu, mas eu só percebi um pouco depois. Quando peguei o diário do meu pai novamente para ler. Por causa da profecia que vocês estão negando agora. Porque eu sou o híbrido que nasceu para unir os dois mundos definitivamente. Ela não murcha porque nossa magia nos conecta e a mantém viva.

-- Ayla é filha de Aslan, não é? – a condessa perguntou de repente para Feyre. – Você se uniu ao nosso príncipe, não é mesmo?

-- Sou rei agora! – uma voz grave e masculina reverberou, deixando toda a floresta estática. 

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