Alecsander não apareceu no treino, na verdade. Ele não foi visto o dia todo, o que de certa forma, era estranho já que ele adorava ajudar com os dragões.
O fim da tarde estava próximo, nada do garoto ou dos outros irmãos.
Aemond não sabia o que estava acontecendo, e honestamente, não tinha uma opinião formada do que deveria fazer.
Ir até os aposentos de Alec e pergunta-lo o porque de não ter ido ao treino?
Descartou na hora a ideia.
O cacheado e ele definitivamente não eram amigos, também não eram considerados inimigos.
Apenas se suportavam pela a metade do tempo, e raramente tinham momentos amigáveis entre si.
Então o que ele faria para matar sua curiosidade?
A resposta duvidosa estava na ponta de língua, ou bem a sua frente. Sua mão a poucos centímetros de bater na madeira e anunciar sua chegada.
Não sabia se deveria continuar, sua mãe ficaria chateada de vê-lo conversar com um bastardo.
E em um ato de impulso, ele bateu três vezes na porta com as costas de seus dedos.
Estava pensando seriamente em sair correndo e fingir que nada aconteceu, quando a porta foi aberta.
- Aemond? - perguntou o cacheado, confuso por ver o platinado plantado a sua frente. - Precisa de alguma coisa? - entrou de volta para o quarto, deixando a porta aberta para que o mais velho pudesse decidir se entraria ou não.
- Eu... não vi você - sua voz se tornou arrastada enquanto olhava os livros em cima da cama. - O que tá fazendo?
- Oh, isso? - repetiu sem o olhar, focado demais em levar apenas o essencial. - Eu meio que estou indo embora...
- O quê? - soltou em uma única entoação.
- Dragonstone - respondeu. - Minha mãe... digo, Minha futura rainha acha que é o melhor. E se ela acha, não posso discordar.
- Mas... - ele voltou seu olhar para o chão, tentando desenrolar as palavras de sua língua. - Eu achei que esse fosse o seu lugar, será que você pode olhar pra mim enquanto temos uma conversa decente?
Alec suspirou, se virando e vendo Aemond com os braços cruzados apoiado no batente da porta.
- Assim tá melhor? - zombou o de cachos.
- Muito - respondeu no mesmo tom. - Isso é muito repentino.
- Eu sei - disse o mais novo.
- Você não quer ir, quer? - perguntou o platinado.
- Isso importa? - perguntou simplista.
- É claro que importa, Alecsander! - exclamou enquanto olhava para os lados, exasperado.
- Escuta, não tem motivo algum para o seu alarde - disse enquanto se voltava para os livros. - Eu já aceitei o meu dever, e vou cumpri-lo com obediência se é isso que minha mãe quer.
- Eu diria que você é um pequeno filhinho da mamãe, isso se eu não soubesse que costuma quebrar ao menos quinze regras em apenas uma noite - debochou.
- Ótimo! Você veio aqui para me chamar de vândalo? - perguntou o garoto mais novo em sarcasmo.
- Eu não preciso te chamar de vândalo, você sabe que é um - retrucou balançando os ombros. - E um ladrão também.
- Eu só estava te mostrando os prazeres da vida - brincou Alecsander.
Aemond virou o rosto, soltando o ar de uma maneira irritada.
- Você não precisa ir se não quiser - voltou ao assunto inicial.
- Você não entende, eu não me importa de ir ou ficar, eu não tenho mais nada que me prenda aqui - respondeu. - Graças a sua mãe e os cúmplices dela.
- Do que exatamente está se referindo? - perguntou Aemond.
- Sor. Harwin - disse. - Ele era bom no que fazia, no cargo de comandante, mas Sor. Criston teve que estragar isso. E nós dois sabemos como começou esse boato de "bastardos". A Rainha deve estar orgulhosa de seus filhos por repassar suas palavras.
- Minha mãe não tem nada a ver com isso! - mentiu.
- Se você diz - se cansou do assunto. - Agora, por que está aqui?
- Porque... - sua voz sumiu enquanto seus olhos focavam o nada. - Eu... hum...
- Você? - pressionou o Targaryen mais novo de braços cruzados. - Você o quê, Aemond? Por que está aqui?
O platinado não respondeu, nem ele mesmo sabendo o porquê de ter vindo pessoalmente, o garoto poderia ter esperado as fofocas correrem soltas pelo o castelo.
Mas não, ele estava parado ali, bem em frente a Alecsander sem dizer uma única palavra.
- Temos uma luta a ser concluída, eu só vim checar você - respondeu por fim. - Mas agora que sei que não iremos mais lutar, por motivos óbvios. Eu vou indo.
Alec baixou o olhar, esperava mais do que isso. Talvez um aperto de mão como despedida?
O cacheado soltou um sorrisinho quase imperceptível de canto, despedidas não eram fáceis de lidar.
- Adeus, platinado estúpido - disse.
O mais velho o olhou antes de se virar e passar para fora do quarto. Mas não antes de pronunciar calmamente:
- Adeus, ratinho idiota - respondeu e seguiu caminho.
[...]
Chegaram a Dragonstone quase anoitecendo, Laenor tocou no ombro de Alecsander, o confirmando que a moradia seria boa.
O garoto assentiu, confiando em seu outro pai.
Luke e Jace correram pelos os corredores do castelo de pedra, ansiosos para procurar algo minimamente incrível.
- Jace! Luke! - chamou Rhaenyra. - Não corram pelos os corredores, podem acabar se machucando.
- Deixe-os aproveitar o novo lugar - disse Laenor. - Você não quer ir com eles, Alec? - voltou seus olhos para o mais novo.
- Claro, mas irei a biblioteca primeiro - respondeu antes de pedir licença e seguir seu objetivo.
Passou pelos os corredores com aberturas e barreiras de pedra, o lugar realmente era majestoso.
Mas tudo parecia tão vazio.
- Não deveria ser tão silencioso... - sussurrou, olhando para fora da janela e vendo estátuas de dragões.
Merda, ele se sentia tão sozinho.
Se encaminhou para a biblioteca, passando pela a porta gigante e pesada de mármore.
O lugar era grande, não tanto quanto a outra que havia estado. Mas grande e confortável.
As estantes com livros indo até o fim da parede, uma mesa de madeira grande e espaçosa, poltronas aconchegantes em frente a lareira.
- Por que você gosta tanto de ler? - perguntou Jace enquanto entrava na biblioteca.
- Gosto de pensar que as vezes o mundo possa ser diferente - respondeu se virando para os garotos, Lucerys estava com ele. - Acabaram de passear pelo o castelo?
- Não, queríamos saber se quer vir com a gente - disse Luke, o sorrisinho estonteante no rosto.
- Isso significaria que vou ter que passar o resto da noite com vocês, parece aterrorizante - brincou.
- Drake é aterrorizante, e mesmo assim você ainda quer montar nele! - apontou Jace.
- Ele é só um bebê! - retrucou.
- Um bebê que é considerado selvagem pelo o simples fato de ser um canibal! - acusou.
- O que é um canibal? - perguntou Lucerys.
- São espécies que se alimentam de sua própria raça - respondeu Alec. - E Drake pode ser "consertado", ele só precisa de cuidado e um cavaleiro que realmente se importe com seu estado.
- Que seja! - Jacaerys balançou os ombros. - Você vem ou não?
- Não sei, deixa eu pensar - fingiu. - Quem chegar por último é o admirador secreto da Alicent! - não usou formalidade, já que estava apenas entre os irmãos. - Um... três!
Ele correu, sendo o primeiro a passar pela a porta.
- Ei! Você não disse dois! - gritou Jace indo atrás. Luke sorriu antes de correr rindo como um louco.
Adorava quando os irmãos se juntavam na brincadeira.