Psicose (Livro I)

Galing kay andiiep

4M 253K 395K

Melissa Parker é uma psiquiatra recém-formada que encontra seu primeiro emprego em um manicômio judiciário. E... Higit pa

Aviso Inicial
Prólogo
Um - St. Marcus Institute
Dois - A holandesa de Cambridge
Três - Inesperado
Quatro - Sutura
Cinco - Insônia
Seis - Happy Hour
Sete - Progresso
Oito - Passado
Nove - Proximidade
Dez - Embriaguez Acidental
Onze - Hormônios!
Doze - Corey vs Brian
Treze - Fotografia
Quatorze - Helvete
Quinze - Perigo
Dezessete - Sobrenatural
Dezoito - Confusão
Dezenove - Corey vs Brian (parte 2)
Vinte - O plano mirabolante de Corey Sanders
Vinte e Um - Render-se
Vinte e Dois - Bipolaridade
Vinte e Três - Mensagem Sobrenatural
Vinte e Quatro - Intimidade
Vinte e Cinco - O inferno converte-se em paraíso
Vinte e Seis - Não Há Compaixão Com a Morte
Vinte e sete - Quebra-Cabeças
Vinte e Oito - O Passado Condena
Vinte e Nove - REDRUM
Trinta - Veritas Vos Liberabit
Trinta e Um - Plano de Fuga
Trinta e Dois - Luxúria
Trinta e Três - Preparação
Trinta e Quatro - Vai Dar Tudo Certo!
Trinta e Cinco - Um Sonho de Liberdade
Trinta e Seis - Scotland Yard
Trinta e Sete - Reencontro
Trinta e Oito - Vigilância Constante
Trinta e Nove - Corpo e Alma
Quarenta - Encontros e Desencontros
Quarenta e Um - Armadilha
Quarenta e Dois - Salvação?
Quarenta e Três - Tentativa e Erro
Quarenta e Quatro - O Infeliz Retorno
Quarenta e Cinco - Do Pó Vieste...
Epílogo
AUTO MERCHAN

Dezesseis - Triângulo

101K 6.1K 11.5K
Galing kay andiiep


Corey se encontrava particularmente ansioso e inquieto naquela infeliz segunda-feira de tempo feio e chuvoso. A justificativa era simples: não era um dia de consulta com a doutora Melissa Parker. As consultas só aconteceriam nas terças e sextas, para descontentamento de Corey. O que significava que teria apenas dois dias por semana para vê-la sozinha. Só Corey e Melissa, trancados entre quatro paredes, que os esconderiam providencialmente do restante do mundo. Após o inesperado e intenso beijo da última consulta, tudo o que Corey mais desejava era poder estar com ela entre quatro paredes novamente. Sem ninguém para impedi-lo de tê-la só para si.

Jamais antes o movimentar de hormônios foi tão intenso durante um beijo. Jamais antes seu sangue ferveu de modo tão irrefreável. Só aconteceu porque seus lábios acariciavam os macios dela. Corey sentiu-se completo, porque aquele beijo foi a melhor coisa que já teve o atrevimento de fazer em sua vida. Sua mente estava livre, limpa, completamente vacinada contra as loucuras que rodeavam sua sanidade. Era certo que reações desse tipo poderiam ser resultado da falta dos lábios de uma mulher sobre os seus por três longos anos. Ele tinha a impressão, entretanto, de que nem se tivesse todas as mulheres do mundo, a sensação seria distinta daquela que o consumia.

Ele passara o final de semana todo perdido em pensamentos sobre os poucos minutos que durara seu momento íntimo com Melissa. E cada mísero detalhe que sua mente foi capaz de guardar, era o suficiente para acalmar sua cabeça perdida no caos insano. Tinha gravado em seu tato a suavidade da pele dela e a maciez de sua boca. A doçura dos lábios dela virou um vício em seu paladar. O cheiro doce de morango do cabelo dela e de baunilha de seu perfume, domaram seu olfato. A voz rouca dela, dizendo baixinho que aquilo era uma loucura, enquanto por dentro gritava por aproximação, se repetia em sua cabeça como um disco quebrado. E os olhos dela... Os olhos cinzentos e tempestuosos dela... Lindos e confusos, clamando para que Corey os acalmasse.

Corey descobriu, por fim, após longas análises, o fator que mais o atraía em Melissa: ela possuía a simples, porém ao mesmo tempo complexa, capacidade de afastar cada mínimo pensamento insano que queria se rebelar em sua cabeça. E bastava, por enquanto.

A estadia de três anos no St. Marcus era, obviamente, a responsável por causar toda bagunça em que Corey se transformara. Para sua infelicidade, só tendia a aumentar e não chegar a um fim. O estranho lado masoquista que havia sido acordado, a desnecessidade de se comunicar com o mundo, os impulsos de violência, de querer bater e quebrar tudo o que o contrariasse, o estranho ódio nutrido contra pessoas que não tinham culpa pelo que o havia trazido até ali... Corey também não tinha a culpa que injustamente carregava, então talvez fosse esse o motivo de se sentir tão fora de si a maior parte do tempo.

A doutora Melissa Parker, entretanto, com seu tom de voz rouco e quente, que proporcionava ondas calmantes por todos os impulsos nervosos que queriam dominar seu corpo rebelde; com seus olhos acinzentados que o faziam vibrar por dentro, toda vez que o fitavam naquela inocência reluzente; suas atitudes muitas vezes atrevidas, que o desafiavam... Melissa Parker era o seu remédio.

Era sua salvação.

E Corey não poderia se dar ao luxo de perdê-la. Perdê-la principalmente para um imbecil como Brian Peters. A mera ideia de que ele a tivera em seus braços também, causava um maldoso incômodo em suas entranhas. O mesmo tipo de sensação que uma intoxicação alimentar costumava promover, logo antes de ele colocar tudo para fora. Era ciúmes, Corey sabia, embora também soubesse que não tinha o direito. Eles não tinham nada, Melissa poderia estar nos braços de quem quisesse, quando quisesse. Ele só desejava que esses braços fossem os dele, no final. E não pouparia esforços para que os desejos dela se coadunassem com os dele.

O início de seu plano se daria naquela noite. Iria à sessão de terapia em grupo mais uma vez, esperando que nessa fosse ela a responsável por coordená-la. Não aguentaria mais uma sessão de provocações de Brian Peters sem ser dominado pela fera trancada em seu peito, que sempre que ele se aproximava, teimava em se libertar. E se Melissa não estivesse na sessão de terapia de grupo, daria um jeito de encontrá-la pelo prédio administrativo, nem que tivesse que fugir dos guardas para tanto.

Um pouco antes das oito da noite, Pete destrancou os cadeados da porta de Corey.

- Desde quando você é tão interessado nas sessões de terapia em grupo? – ele perguntou, franzindo o cenho, enquanto se aproximava de Corey, que tinha as mãos estendidas.

As algemas reluziam morbidamente em sua mão, embora Corey já não mais estivesse preocupado com elas.

- Desde que eu tenho um motivo para frequentá-las.

Pete fuzilou Corey com um olhar repreensor, que o lembrou muito aquele que sua mãe lançava quando ele aprontava alguma travessura. E, bem, guardadas as devidas proporções, estava mesmo tentando aprontar uma travessura.

- Cuidado, Corey. Você sabe que pode se dar mal... – Pete comentou, puxando-o para que saíssem do quarto.

- Eu não vou "me dar mal", Pete. – Corey respondeu, com um sorriso despreocupado figurando nos lábios relaxados.

Suas mãos estavam na frente de seu corpo, presas pelas algemas que nem ao menos notava a existência.

-Realmente espero que não.

Corey caminhou tranquilamente durante o caminho que ligava o helvete ao prédio administrativo. O ar puro e úmido da noite amaciou suas narinas acostumadas com o cheiro usual de podridão, que dominava as dependências do inferno na Terra.

Ao chegar à sala em que ocorriam as sessões de terapia em grupo, Corey não conteve a expressão de desgosto evidente. Mais uma vez, quem comandava a sessão era o doutor Brian Peters. Corey, ao contrário do que seu instinto natural comandava, ficou preocupado. Já era a segunda sessão que Melissa não aparecia. Talvez alguma coisa estivesse acontecendo com ela... Talvez não estivesse bem, talvez estivesse doente, ou talvez... Estivesse apenas fugindo dele, e tal constatação causou uma estranha dor em seu peito.

Para descontentamento de Corey, o único lugar disponível no círculo de loucos, era bem ao lado de Brian. Quando se deu conta, suas mãos estavam livres das algemas, e Pete o havia deixado na sala. Quis virar as costas como da outra vez, e infelizmente, como da outra vez, Brian percebeu sua presença. E lhe sorriu desafiador, de modo que Corey não teve outra escolha, senão caminhar a passos decididos pela sala e ocupar o lugar vago.

- Achei que havia desistido depois do que viu... – Brian disse em tom baixo, para que apenas Corey o ouvisse, uma vez que os demais pacientes conversavam naquele tom insano de alguns decibéis a mais.

- É preciso mais do que um beijo para me fazer desistir. – Corey, sentado despojado sobre a cadeira, apenas virou o rosto na direção de Brian, falando no mesmo tom baixo.

Os olhos dos dois eram um par de globos desafiadores que brilhavam, lutando silenciosamente um contra o outro.

- E quem garante que foi apenas um beijo? – Brian abriu um sorriso de lado.

- Você precisa urgentemente parar de se gabar pelas coisas que diz que faz, Peters. – Corey rolou os olhos, analisando com interesse os arredores da sala. – Cresça! Ainda não aprendeu a agir como um profissional? Se eu fosse um pouco mais chato, já teria te ferrado para o Dr. Thompson.

- Você não faria isso, não combina com você, Sanders. Além do mais, por que eu deixaria de me gabar por ter algo que você não tem? É da natureza humana, não posso evitar.

- Você não a tem! Que pensamento mais ridículo, não é o dono dela.

Naquele exato instante, o olhar de ambos os rapazes foi atraído até a porta da sala da sessão de terapia em grupo. Sob o batente da porta estava ela, a razão de seu ódio recíproco, motivo de seus desentendimentos e provocações.

Melissa viu Brian primeiro, e sorriu para ele de modo certamente muito mais "educado por encontrar meu colega de trabalho" do que "estou feliz por vê-lo, quero dar uns beijos de novo", circunstância tal que fez o coração de Corey pular dentro do peito. Gostaria que suas percepções estivessem certas, muito embora ele soubesse que não era tão intuitivo assim. Então apenas esperou pelo momento em que Melissa colocaria seus olhos sobre ele.

Infelizmente, o sorriso dela se desfez quando isso aconteceu. E sua expressão não se tornou nada como "estou feliz por vê-lo, quero dar uns beijos de novo". Na verdade, a doutora o encarou num misto do que parecia ser medo, e depois hesitação. Em seguida, o brilho que tornou suas íris acinzentadas reluzentes, Corey entendeu como... Excitação. Ah, sim, quase podia tocar a tensão que se espalhou pelo ar.

Melissa inflou o peito e recompôs sua pose, como se, inconscientemente, tentasse chamar a atenção de Corey para si. Ela não precisava disso. Teria a atenção de Corey em qualquer lugar, sempre que quisesse, ou mesmo quando nem se desse conta de sua presença.

Brian falou ao lado de Corey, tirando-o o do devaneio que a presença repentina de Melissa havia lhe imposto:

- Posso não ser o dono dela, Sanders... – ele sussurrou, voltando sua atenção para Corey – Mas é o meu nome que ela chama quando está na cama perto do prazer.

Dois tipos de pensamentos se rebelaram na cabeça de Corey quando assimilou o sentido da frase dita por Brian.

O anjinho em seu ombro direito fez piada, perguntando-se se o doutor tinha alguma capacidade de interpretar a expressão facial quase insossa que Melissa lhe dedicara. Era certo que ela não parecia o tipo de pessoa que chama o nome dele "quando está na cama perto do prazer". A frase, além de brega, parecia passar bem longe da realidade. Ou ele era muito idiota, ou só estava fazendo aquilo para tirar Corey do sério e lhe causar algum problema.

O que levava ao diabinho em seu ombro esquerdo: sim, ele disse para tirá-lo do sério, e era muito provável que conseguiria. Apesar de Corey ter plena consciência de que não deveria fazer o que planejava fazer, não era forte o suficiente para fugir da confusão, quando ela batia com tanta insistência em sua porta. Confusão era seu nome do meio, e quanto a isso, não havia nada que pudesse fazer. O diabinho no ombro esquerdo sempre procurava um motivo para sair no braço com o doutor Brian Peters, e aquele não era mesmo um perfeito? Quando está na cama perto do prazer... Não era o tipo de coisa sobre a qual Melissa deveria ser mencionada, não com aquele tom sujo, obsceno, como se fosse um objeto.

Por isso, o diabinho, mais uma vez, foi o vencedor.

Os músculos de Corey se movimentaram como se estivessem programados para atacar. Ele não sentiu seu corpo saindo da cadeira, impulsionado por suas pernas, e quando se deu conta, já havia jogado Brian no chão. A última coisa que ouviu, antes de perder completamente o senso de sanidade, foi a voz preocupada e rouca de Melissa gritando seu nome em alerta.

Então ele se atracou no chão com Brian. Ambos os corpos lutando para ficar por cima um do outro, buscando a vantagem necessária para desferirem os socos que tanto desejavam. Corey obteve uma pequena vantagem de início. Acertou em cheio um soco no olho de Brian, que pareceu levemente tonto por um instante. O instante em que Corey se aproveitou para desferir outro soco, que não acertou em cheio o queixo dele.

Corey, contudo, preso naquela bolha de ódio, se distraiu quando ouviu Melissa chamar seu nome outra vez, e foi pego de surpresa por um soco de Brian. Foi atingido no mesmo supercílio ainda em recuperação da outra briga. Então sentiu um osso doer próximo ao seu olho. Uma dor aguda do outro lado, quase no mesmo lugar, bem menos preocupante, no entanto, uma vez que ele se esquivou parcialmente. Em resposta, acertou um soco no meio das costelas de Brian. E recebeu um soco bem mais forte no mesmo lugar. A boca de Brian ainda foi acertada parcialmente e começou a sangrar.

E tão rápido como começou, chegou ao fim.

Corey sentiu duas mãos fortes segurarem seus dois braços, prendendo-os atrás de suas costas. Brian, por outro lado, era amparado por outro guarda, que lhe batia nas costas e perguntava se estava tudo bem.

Quando voltou à realidade, notou que o doutor o encarava surpreso, ao mesmo tempo raivoso, limpando o sangue que lhe escorria pelos lábios com as costas das mãos. Corey sorriu ao observar o estrago que foi capaz de produzir, sabendo que ele mesmo não poderia estar com uma aparência menos sofrida. Tudo o que ouvia era o zumbido proporcionado pela raiva em sua mais pura essência, embora tivesse consciência de que os demais pacientes berravam em uníssono, assustados com mais uma briga repentina na tão monótona sessão de terapia em grupo.

Quando Melissa falou próxima a ele, entretanto, o zumbido sumiu.

- Cadê as enfermeiras? – foi o que ela perguntou

Encarava Brian de um modo irritado, que fez Corey se sentir mais quente por dentro.

- Elas estão no helvete no período da noite, sabe disso. – Brian resmungou de volta, passando o dedo pelo interior dos lábios, encarando o sangue que se acumulava ali.

Melissa bufou inconformada, então virou na direção de Corey e do guarda que o segurava em um aperto de ferro.

- Venha comigo até a enfermaria. – ordenou e o guarda assentiu imediatamente, já arrastando Corey para fora.

- Melissa! – Corey ainda ouviu Brian protestar indignado.

- Agora não, Brian! – foi o que ela respondeu, e Corey não conteve o sorriso maroto para deixar como última visão do doutor Brian Peters, que, por sua vez, sustentava a maior expressão de desgosto e indignação do mundo.

Melissa caminhou determinada até a enfermaria, abrindo a porta quando chegaram ao seu destino. Corey e o guarda vinham logo atrás, acompanhando seu ritmo.

- Está tudo bem, pode deixar ele comigo. – Melissa disse ao guarda, quando ele a encarou desconfiado.

O guarda assentiu, no entanto, e liberou Corey, que acariciou os pulsos doloridos. Adentrou a enfermaria, seguido pelo perfume doce de Melissa, que o inebriava.

- Senta na maca, Sanders. – ordenou, sem olhar em seus olhos, dirigindo-se ao armário de medicamentos.

- Sim, senhora, doutora. – Corey assentiu, fazendo o que havia sido mandado.

Melissa não se demorou na busca dos instrumentos necessários para fazer os curativos em Corey, caminhando na direção dele. Ele sorriu, quando ela finalmente fitou seus olhos, algo que Corey tanto desejava. O contato visual durou poucos segundos, entretanto, e foi tão frio, que desmazelou o sorriso dele no mesmo instante.

Corey pigarreou, analisando o movimento dela para molhar o algodão em álcool, sentindo-se na estranha necessidade de falar:

- Seu namoradinho não vai ficar bravo por você ter escolhido cuidar de mim, ao invés dele? – perguntou, em tom calmo e altamente provocativo.

Melissa suspirou, antes de responder. Suas mãos tremiam levemente, enquanto limpavam o sangue que se espalhava pelo rosto de Corey.

- Brian sabe se virar.

- Eu acho que ele deve estar necessitado dos cuidados da namorada em um momento crítico como esse, não é mesmo?

- Ele não é meu namorado. – Melissa respondeu, rispidamente.

- Não é o que parece. – Corey deu de ombros, observando atentamente ela jogar o algodão ensopado de sangue no lixo.

- Sua percepção das coisas é muito falha, Sanders. – Melissa comentou, ainda sem olhá-lo nos olhos, preparando o material para a nova sutura.

- Por que preferiu cuidar de mim? – Corey ignorou a rispidez de Melissa e fez a pergunta que tanto o incomodava.

- Se não quer que eu cuide de você, vou até ele agora mesmo. – ela finalmente levantou os olhos, a linha e agulha de sutura em mãos.

- Não. – Corey negou com a cabeça. – Quero que cuide de mim.

- Então fica quieto e me deixa fazer meu trabalho. – Melissa respondeu mal educada, chegando próxima a Corey de um modo que deixou seu perfume intensificado perigosamente.

As mãos quentes de Melissa, cobertas pelas luvas, tocaram o local onde Corey, alguns dias atrás, já havia adquirido uma sutura. Que deveria ser refeita e provavelmente teria um acréscimo em número de pontos. Corey não conteve a vontade de observar com atenção cada mínimo detalhe do rosto de Melissa, enquanto ela concentrava os músculos de sua face doce e encantadora no trabalho que estava prestes a começar.

- Vai doer. – anunciou, então Corey sentiu a primeira picada aguda em sua pele.

Enquanto um lado apreciava a dor, o outro sofria fechando os olhos e apertando as mãos em punhos, soltando um suspiro sôfrego pelos lábios entreabertos.

- Outch! Da última vez você foi bem mais cuidadosa. – Corey protestou, enquanto sentia o movimento da linha em seu interior.

- Da última vez você não agiu como um rebelde sem causa. Estava protegendo a minha honra.

- E quem garante que eu não estava protegendo dessa vez também? – Corey arqueou a sobrancelha que não estava danificada por um corte profundo.

Mantinha sempre o olhar invasivo sobre Melissa, sabendo que ela percebia e começava a se deixar corar nas bochechas. Corey sorriu ao perceber isso.

- Brian não ofenderia a minha honra.

- Acho que você pode estar bastante enganada sobre seu namoradinho.

- Eu já disse que ele não é meu namorado! – Melissa retrucou irritada, parando o seu trabalho para fitá-lo de modo repreensivo – Será que dá para trocar o disco?

- Tudo bem! – Corey ergueu as mãos espalmadas para frente, na altura dos ombros, como quem se defende inocente de uma acusação infundada – Como foi seu dia?

Melissa bufou, rolou os olhos, negou com a cabeça e continuou seu trabalho. Corey não gostou daquele silêncio repentino.

- Por que está tão calada? Não quer me contar sobre seu dia?

- Veja você a ironia da vida, Sanders. – disse ela finalmente, depois de alguns minutos, finalizando a sutura com o corte da tesoura – Há algumas semanas era eu quem estava tentando fazer você falar sobre seu dia... Engraçado como o mundo dá voltas, não é? – ela sorriu irônica, livrando-se do material utilizado e da luva.

- Você está brava comigo? – Corey perguntou preocupado. Sua expressão ficou tensa pelo instante em que ela hesitou em responder.

- Tenho algum motivo para estar?

- Não sei, diga você. – Corey deu de ombros.

Melissa hesitou e umedeceu os lábios com a língua, antes de responder:

- Você tem que parar de brigar com o Brian.

- Desculpa, mas eu não pude evitar, ele me provocou.

- Se continuar brigando desse jeito, daqui a pouco não tem mais um rosto. Só um bando de cicatrizes espalhadas por todos os lados.

- Ah, eu não fiquei tão feio assim, fiquei? Quer dizer, o Peters vai precisar de uns pontos também, não vai? – Corey sorriu brincalhão.

Melissa não conseguiu conter um sorriso tímido de canto de lábio, que sumiu tão rápido, que foi quase como se não tivesse aparecido.

- Eu acho que vocês empataram. – foi o que ela disse, sem emoção, virando de costas.

Foi até o armário de medicamentos guardar o que não havia utilizado. Corey sentiu um clima de tensão ainda espalhado pelo ar.

- Ainda está brava comigo? – perguntou, levantando da maca e caminhando um passo na direção dela.

- Qual o seu problema, Sanders? – Melissa perguntou indignada.

Corey não entendeu sua reação.

- Qual o seu problema, doutora?

- É você o meu problema! – ela acusou, apontando um dedo indicador na direção de seu peito.

- O que eu fiz? – Corey pareceu ofendido.

- O que você fez? – ela riu irônica - Acha mesmo que eu sorriria toda meiga e pularia nos seus braços a próxima vez que te visse? Você me beijou, isso é errado, é perigoso, é uma loucura, não poderia ter acontecido. Ou já se esqueceu? – ela sussurrou urgente, tomando o devido cuidado de não ser ouvida pelo guarda.

- Nem que eu quisesse teria como esquecer. – Corey sorriu maroto, cruzando os braços. Melissa engoliu em seco e corou levemente. – E você adorou, que eu bem sei.

- Você é louco. – ela rolou os olhos.

- Já disse que não é à toa que eu estou num manicômio judiciário.

- Já acabou com a sua ladainha? – Melissa colocou as mãos na cintura – Então acho que podemos ir. Já está devidamente medicado. – ela disse, jogando um comprimido para dor na direção dele.

- Ainda não. – Corey balançou a cabeça lentamente, de um lado para o outro, sorrindo ainda naquele jeito malicioso característico.

- Está machucado em mais algum lugar?

- Sim. – Corey afirmou com a cabeça, indo sentar na maca outra vez.

- Onde?

- Aqui. – disse, levantando a camisa em uma lentidão que a fez acompanhar seu movimento com extrema atenção.

Os olhos cinzentos de Melissa se perderam por um segundo no pedaço de músculos que Corey descobriu propositalmente, deixando de lado o lugar em suas costelas levemente avermelhado que ele apontava. Corey se sentiu quente por dentro. Melissa engoliu em seco, umedeceu o lábio com a língua novamente, então o mordeu, respirando fundo. Seus olhos se fecharam por um instante. Ela hesitava.

- Pode chegar perto, doutora. Eu não vou te atacar. – Corey soou persuasivamente atraente, do modo que sabia que a teria ao seu lado em menos de dois segundos.

E foi o que aconteceu. Três passos depois, Melissa estava à sua frente, encarando-o intensamente. Com simples gestos como aquele, ela o deixava simplesmente louco de vontade de agarrá-la. E Corey o faria, assim que tivesse a chance.

- Você não tem um bom precedente. – Melissa respondeu, com a voz mais fraca.

Por dentro, Corey se sentiu em êxtase. Sabia que, aos poucos, a ganhava. Sem hesitar, levantou com rapidez, agarrou a cintura de Melissa e a girou. Seu corpo prendeu o dela contra a maca.

- Eu não fiz nada que você não quisesse, doutora. – Corey sussurrou no ouvido de Melissa.

Ela estremeceu entre suas mãos, que apertavam sua cintura. Corey sorriu, lançando um jato de ar quente sobre o pescoço dela, apenas para apreciar a maravilhosa cena que era Melissa se arrepiando aos poucos.

- Ah, não, isso é tão errado... – ela sussurrou fraquinho.

Ele levantou o rosto e pôs-se a encará-la no maior nível de desejo que conseguiu expressar. Ela hesitou, claramente tentando refrear o claro desejo que nutria por Corey, para que aquele beijo acontecesse de novo.

- É errado, mas é gostoso, doutora... – foi o que disse, em um sussurro baixo e sensual.

Em seguida, Corey levou as duas mãos que agarravam a cintura de Melissa até seu rosto, tomando-o como se fosse um objeto precioso e muito raro, que precisava do máximo de delicadeza. Seus quadris, entretanto, pressionaram com força os dela, impedindo-a de realizar qualquer movimento a não ser o subir e descer descompassado de seu peito, que buscava o ar quase em desespero. Corey se deleitava com as reações que causava nela.

Ele se aproximou. Os rostos tão perto um do outro, que seus narizes não se tocavam por um triz. Ele passou os olhos por cada mínimo traço do rosto de Melissa, na intenção de gravá-los com perfeição na memória. Melissa, por sua vez, estava de olhos fechados, os lábios entreabertos, permitindo a passagem do ar que parecia lhe faltar.

- Olhe para mim. – Corey pediu, a voz doce, sendo obedecido no mesmo instante.

Os dois grandes globos acinzentados de Melissa faiscaram em sua direção, meio perdidos, completamente entregues. Corey sorriu, e, em seguida, passou o nariz levemente pela bochecha de Melissa, buscando a pureza de sua fragrância, aquele perfume que era só dela, natural. Fez a mesma coisa do outro lado, atraindo a intensidade de seus olhos, que o observavam ansiosos. Beijou a ponta de seu nariz, suas pálpebras que se fecharam por um segundo, seu queixo, então chegou ao canto de seus lábios, depositando um selinho demorado em cada um deles, pincelando-os com sua língua de modo quente e calmo.

Sorriu ao senti-la estremecer novamente. Corey beijou os cantos da boca de Melissa outra vez, como se não achasse o lugar certo de fazê-lo. E quando Melissa avançou o rosto em sua direção, ele a impediu, afastando o seu próprio. E então avançou, quando ela recuou, para depositar uma mordida em seu lábio entreaberto, finalmente iniciando o beijo com boa dose de vigor. A língua de Corey buscou a de Melissa com pressa, urgência, fazendo as duas respirações, que se descompassaram, saírem juntas em um suspiro pesado.

Corey levou uma mão à cintura de Melissa, apertando com avidez. A outra, aos fios de cabelo dela, agarrando com força, de modo que ditava o ritmo intenso e caloroso do beijo. Corey sentia Melissa apertar seus músculos do braço com tanta força, que chegava a doer. Sua boca e língua correspondiam ao gesto de Corey com o mesmo desejo que ele empregava. Sentir o gosto dela misturado ao seu mais uma vez, era algo que necessitava de uma apreciação especial.

Seus olhos fechados, apertados como nunca, permitiam a exatidão do cheiro dela, do gosto, dos sons que sua respiração falha produzia, do coração batendo alto em seu peito. Daquela loucura instalada nele se acalmando a cada segundo.

Pela primeira vez, em três anos, Corey estava tranquilo, sem nada perturbando a mente. Um silêncio pacífico acalmava cada músculo seu. Foi a confirmação de que a doutora Melissa Parker era, definitivamente, seu remédio.

O beijo, infelizmente, teve fim. A mão de Melissa que agarrava sua nuca foi direto ao seu peito, para afastá-lo.

- Você precisa urgentemente parar com isso! – foi tudo o que Melissa disse, em um tom trêmulo de voz, apontando um dedo na direção de Corey.

Então virou as costas.

Melissa abriu a porta da enfermaria, e resmungou para o guarda do lado de fora que já havia terminado seu trabalho. Corey sorria satisfeito e convencido, enquanto suas mãos eram presas pelas algemas e ele era guiado novamente até a solitária. Seriam dois dias tranquilos, desde que a lembrança daquele beijo ainda estivesse consigo.

Todos os músculos de Melissa vibravam por dentro. Não sabia como era capaz de andar calmamente, descontraída, como se nada tivesse acontecido, enquanto seu interior estava... Queimando. De desejo e arrependimento, tudo ao mesmo tempo. Todos os lugares em que ele a havia tocado ainda formigavam deliciosamente.

Melissa passou as mãos pelo cabelo, respirando o ar puro. Um ar que não era infestado por aquele maldito perfume afrodisíaco de Corey Sanders. Ele simplesmente a deixava sem reação, completamente à mercê de todas suas vontades. E isso era absolutamente ridículo. Tudo o que queria, naquele momento, era se trancar em seu quarto, sozinha, tomar um banho e tentar, de algum modo, colocar as ideias no lugar. A tarefa seria difícil, entretanto. Primeiro, porque, já em sua essência, era praticamente impossível, levando em consideração as circunstâncias. Segundo, porque, antes que chegasse ao seu quarto, Brian a parou no meio do caminho.

Seu olho direito estava inchado e levemente arroxeado nos arredores. Tinha um corte profundo no lábio. O queixo também roxo. Melissa quis suspirar compadecida, mas o tom com que Brian falou a deixou muito irritada, para que se desse ao trabalho:

- Eu realmente gostaria de saber o que se passa pela sua cabeça?!

- Agora não, por favor, Brian.

- Agora, sim, Melissa. Como você tem coragem de me deixar para cuidar dele? Logo dele?

- Ele é um paciente, Brian. – Melissa rolou os olhos.

- E eu sou seu... – começou, mas parou.

Melissa postou as mãos na cintura e adotou uma postura mais agressiva.

- Você é meu o quê? – perguntou, o tom de voz frio.

- Tenho prioridade. – Brian cruzou os braços.

- A prioridade é dele, porque eu sou paga para cuidar dos pacientes, não de você.

- Mas nós estamos juntos... – ele resmungou, e seu timbre soou bem menos firme, mais emocional.

Melissa suspirou, e fechou os olhos por um instante, antes de responder:

- Eu realmente não estou com cabeça para isso hoje, Brian. Boa noite. – disse e virou-se, caminhando na direção de seu quarto.

Não olhou para trás e nem parou quando ele chamou seu nome baixinho.

Tinha problemas mais importantes para resolver do que o ciúme de Brian. Corey Sanders precisava parar de beijá-la daquela maneira inesperada.

Imediatamente.

Antes que fosse tarde demais e a situação se tornasse incontrolável. Um relacionamento com um paciente... Preso em um manicômio judiciário... Que supostamente assassinara a namorada três anos antes... Isso era tão grave, que ela resmungou sozinha, bem alto. Andou de um lado para outro, porque não sabia muito bem o que fazer.

Queria tanto transferir a necessidade de Sanders para necessidade de Brian. Seria tudo tão mais fácil, se não estivesse tão enlouquecidamente atraída pelo prisioneiro. Poderia ser pelo médico encantador, não poderia? Contudo, havia uma grande diferença entre os dois, que poderia ser resumida na simples sentença: Brian Peters não era Corey Sanders.

Era forte, bonito, simpático, charmoso. Mas com Sanders o sentimento era dobrado e, depois daquele segundo beijo, percebeu que queria estar junto dele o tempo inteiro. E isso era um inferno.

Errado, perigoso, imprudente...

Tudo o que sua mãe dizia que não devia procurar. Estava envergonhada. E metida em um maldito triângulo amoroso.

Ipagpatuloy ang Pagbabasa

Magugustuhan mo rin

905K 72.2K 57
Melanie Everett sempre levou uma vida normal e agitada como qualquer outro adolescente da sua idade. Após o fim do colegial, Melanie se prepara para...
2.4K 575 96
A Guilda de Aventureiros é uma organização respeitada, principalmente no reino de Yogratax, onde foi fundada. Sua fama se estende além das fronteiras...
989 98 10
Violet e uma modelo linda aonde passa chama atenção é de muitos homens que matariam para ter ela, ela tem a vida estável até um acontecimento que vir...
421K 36.3K 49
LIVRO COMPLETO Naquela noite, suas almas deram início a uma busca incansável pela sua outra metade. Conforme os anos se passavam, elas lutavam a cada...