treze

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Outer Banks

  A melodia relativamente alta do canto dos pássaros foi a primeira coisa que me fez despertar. E assim que abro os olhos vejo uma figura loira com a cara amassada e a boca entreaberta na minha frente, o idiota continuava bonito assim. Um sorriso idiota surge no meu rosto assim que lembro de um dos acontecimentos de ontem.

Olho no relógio de pulso, são 7 horas da manhã, tenho certeza que nenhum deles vai acordar tão cedo.

Esfrego os olhos e me levanto da rede com cuidado, JJ nem se mexe, e todos continuavam dormindo. Saio prendendo meu cabelo em um coque e preparo um pouco de café, o suficiente para todos.

Coloco na xícara e me sento na cadeira olhando para o jardim de John B pela janela, ontem foi um dia estranho. Sabe quando tudo parece ser uma mentira? Pra mim, ainda é estranho pensar que o meu pai morreu.

Morte.

A evocação reiterada sobre a morte é algo que vai totalmente contra o significado da lei natural, mas é um ato totalmente condizente com a humanidade. Inconformismo, lamentação, lamúria, a morte é o fim de um ciclo que muitas vezes não foi completo, algo que retrata que nossa eternidade não é eterna, mas sim uma chave que abre a porta para a eternidade finita de muitos.

É uma característica natural do ser humano o arrependimento, ao perder o almejado, o arrependimento fica preso em nossa estrutura de maneira definitiva. Talvez não fôssemos uma entidade coesa, ações geradas por impulsos como o último recurso de camuflar a escassez de coragem, matamos, roubamos, machucamos, nos arrependemos de ações feitas por nós mesmos, ficamos tristes com auto sabotagens de diferentes níveis. Não somos coesos já que se quer conseguimos manter a nossa própria felicidade com nossos próprios atos. Morremos várias vezes, a morte de cada partícula está no arrependimento, mas por que o ser humano que deseja a morte dela foge quando está prestes a morrer? Seria o instinto, ou somente mais um arrependimento que será colocado em uma estante de palavras não ditas e pensamentos mau cogitados?

Me pergunto agora se meu pai pensou da mesma maneira. Se meu pai quando estava prestes a morrer se arrependeu de não ter deixado um bilhete, ou se quisesse ter dito a verdade para mim desde o início.

Suspiro. Essas respostas nunca seriam respondidas, e eu tenho que começar a me conformar.

Passo os olhos por todos dormindo, um sorriso acaba saindo da minha boca, é uma sensação estranha finalmente deixar alguém conhecer você. Mas eu estou gostando disso.

Termino o café, lavo a caneca e saio da casa, que agora estava arrumada, traçando o mesmo caminho que tinha feito ontem correndo. Foi um dia de várias descobertas, meu pai encontrou o ouro, meu pai morreu e eu beijei o JJ. Fora que parti para cima do meu tio, não me arrependo, talvez só de não ter batido nele. Mas, infelizmente e querendo ou não... Ele agora é a única pessoa da minha família que eu tenho certeza que está vivo.

Será que meu irmão está? Será que ele vai descobrir que nosso pai morreu?

De qualquer forma, tenho que esquecer das pessoas que estão longe e aproveitar mais as que estão perto de mim, principalmente meu emprego.

Entro pela janela do quarto, tranco logo a porta e vou direto para o banheiro tomar um banho, não quero que o espírito de John B me afete também, queria saber como ele vai acordar, nunca pensei que passaria pelas mesmas coisas que alguém, mas, John B é um garoto legal, dedicado a fazer oque acha certo, não tem medo, mesmo que acabe colocando todos em "um pouco" de risco, todos continuavam com ele, por serem amigos de verdade, principalmente o JJ, que não ligava para o risco e se dispunha a fazer coisas idiotas para os protegerem.

Nothing To Lose¹  • JJ Where stories live. Discover now