PRÓLOGO:

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Férias - Janeiro, 2010.

  A areia molhada dificulta minha corrida, coloco mais força em meus pés e ganho impulso, acelerando. Escuto os resmungos de meus dois primos, gêmeos e um ano mais novos do que eu, espio por cima do ombro para observá-los ficando para trás, alargo meu sorriso em satisfação. Grito para que desistam e voltem para sua mãe, eles se olham por um segundo antes de concordar e traçar o cominho de volta para minha felicidade. Sorrindo em alívio, desacelerao meus passos, já estava ficando sem fôlego fugindo deles, estávamos uns quinze minutos nisso e a brincadeira que os deixou tão irritados já até tinha perdido a graça.

- Aí. - Gemo, esfregando minha testa e me levantando do chão.

Que diabos. - Resmungo, limpando a areia do meu shorts e tentando entender o que aconteceu.

- Você não olha por onde anda, não? - Alguém grita.

Levanto as vistas seguindo a direção da voz. Um menino, da mesma estatura que eu me encara com uma expressão de poucos amigos.

Bufo

- Você não me viu chegando? - Retruco.

O rosto do menino se enfurece, recebendo tonalidades avermelhadas e ele parte pra cima de mim e me empurra, sem nenhum aviso prévio, de volta para a areia. Sua imagem, bem maior vista desse ângulo paira sobre mim, tampando o sol e impedindo que os raios solares atrapalhe minha visão.

Quase agradeço.

- Me peça desculpas! - Exige. Pronto para uma briga.

Fecho meus punhos em resposta, perdendo a paciência e pronto para terminar com isso e descontar o empurrão. Idiota, ele não deveria ter posto suas mãos sobre mim. Levanto e já parto para cima, fazendo-o tombar alguns passos parar trás, ergo meu punho em uma ameaça nítida e vejo o brilho de desafio cintilar em suas pupilas marrons, pelo visto, não é a primeira vez do otário em uma briga, mas eu não sou nenhum novato nisso também. Bom.

- Dudu, Dudu, Dudu...

Uma voz estridente e infantil grita, chamando nossa atenção para a dona dela. Uma menininha magra e toda descabelada corre de encontro a nós. Franzo o cenho confuso sobre quem raios é esse Dudu...

- Safira, o que você está fazendo aqui? Te mandei ficar com a mamãe. - O menino fala, saindo em direção à ela.

A garota respira irregular. Ainda ofegante ela me encara irritada, os olhos graúdos e mais claros do que os do garoto me deixam encabulado.

Abaixo meu punho, de repente me sentindo constrangido.

Analiso sua figura pequena, ela parece ser mais nova do que eu alguns anos, os cabelos castanhos e rebeldes são longos e chegam até sua cintura.

- Você ia bater no meu irmão, menino? - Ela esbraveja.

Tudo que eu faço é dá de ombros, encabulado pela maneira que estou sendo encarado.

- Safira, vamos. - O menino, que agora descobri ser o irmão dela e o tal de Dudu a puxa pelo braço.

- Solte ela. - Falo, incomodado com a força que ele está colocando sobre o braço fino.

- Ela é minha irmã, não sua. Vá embora.

Reviro os olhos..

- Você está machucando ela. - Aponto para o local onde ele mantém seu aperto.

A garotinha reclama baixinho e o garoto larga seu braço, segurando-a pela mão e pedindo desculpas.

- Seu nome é Dudu? - Pergunto, não querendo que eles partam ainda.

Bufa.

- Que tipo de pessoa se chamaria Dudu. - O menino faz uma careta em reprovação.

- Ela te chamou assim. - Digo, maneando a cabeça na direção de sua irmã.

- Meu nome é Eduardo, mas a Safira se acostumou a me chamar assim. - Explica.

Safira. Encaro a menina por mais alguns segundos, ligando o nome à ela. Sim, parece se encaixar.

Assinto.

- Quer jogar? - Pergunto, indicando com a cabeça a bola alguns centímetros de distância e torcendo para que seja dele e sua resposta seja um SIM.

- Pode ser, mas antes tenho que levá-la de volta para minha mãe. - Fala.

- Eu sei voltar sozinha, Dudu.

- Não, você ainda é muito pequena.

Uma breve discussão se inicia entre os irmãos e uma pontada de inveja me atinge com a cena, apesar de gostar de ter cem por cento da atenção dos meus pais, muitas vezes o desejo de ter um irmão para dividir as coisas me atinge.

- Ok, mas fique quieta.

A menininha assente e dá um sorriso alegre, mostrando a falta de um dos dentes da frente. Ela venceu a briga. - Contenho um sorriso com a cena.

- Ela vai ficar. - Eduardo diz.

Não questiono, o seguindo em direção a bola.

- Então, qual é o seu nome? - Pergunta.

- Érick.

- Você mora por perto? - Volta a perguntar.

- Uns vinte minutos, e você?

- Estamos passando as férias, mas meu pai tem planos de se mudar próximo ano.

Ele coloca a bola no meio,e indicando onde serão os pontos de gol. Mas antes de começarmos a partida ele pergunta, com brilhos de curiosidade nos olhos:

- É verdade?

- O quê? - Pergunto.

- Toda aquela história sobre tubarões e tudo mais...

Ah, sim.

Turistas.

- Sim, um surfista quase foi morto aqui anos atrás. Ninguém mais entra na água, além dos idiotas, claro.

- Uau. - Exclama admirado. - Você já viu algum?

Nego com a cabeça, entediado com todo aquela falação. Eu queria jogar.

- Não, mas a história é verídica e o governo de Boa viagem restringe que a movimentação da praia fique apenas na areia.

- Que saco, esse lugar é tão lindo. Olha só essas ondas. - Encaramos o mar por alguns segundos, deslumbrado com toda a imensidão de água.

- Eu gostaria de surfar aqui um dia. - Ele diz.

- Você sabe surfar? - Pergunto, curiosidade e admiração me acertando.

- Ainda não, mas serei um dos melhores surfistas algum dia. - Diz.

Concordo, voltando as vistas para a imensidão meio esverdeada meio azul.

Surfista, eu nunca pensei sobre isso antes.

- Vamos jogar. - Eduardo fala, já chutando a bola e iniciando a partida.

 - Eduardo fala, já chutando a bola e iniciando a partida

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⏰ Last updated: Jun 23, 2020 ⏰

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Sol poenteWhere stories live. Discover now