Capítulo 1

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Niels definitivamente não queria ir para aquela festa.

Não que ele fizesse o tipo de cara caseiro que não gostava de festas, muito pelo contrário. Ele adorava uma boa farra. Porém, Niels simplesmente não estava com a menor vontade de sair. Na verdade, Niels não estava com a menor vontade de seguir com a própria vida. Ele estava crente de que o Universo, provavelmente não tendo nada melhor pra fazer, ia seguir pisando nele se ele continuasse a existir fora da própria cama.

— Cala a boca. Você vai e ponto final! — Varden, um dos seus melhores amigos, disse após uma série de reclamações, argumentos e tentativas frustradas de Niels para não ser arrancado do conforto do seu cobertor.

— Não. Você não é minha mãe. — Niels retrucou, melancólico.

— Graças a deus que não. — Varden continuou, sarcástico. — Você vai colocar uma roupa decente e sair dessa cama agora, ou eu não respondo por mim, Niels.

— Vamos lá, cara. Vai ser legal! — Joan, seu outro amigo, disse, tentando animar Niels. — É uma festa perfeita pra você, no momento em que você está agora, sabe? Várias mulheres que também levaram um toco. Sozinhas, solitárias, carentes. Não parece uma boa oportunidade para seguir em frente?

Niels soltou um resmungo inaudível. Ele não queria seguir em frente. Não queria conhecer outras mulheres sozinhas, solitárias, carentes, que estavam no mesmo barco da fossa que ele estava. Só havia uma mulher com quem ele queria estar naquele momento.

Só que Niels não estava conseguindo fingir bem o suficiente de que sim, estava tudo bem com ele, que ele só queria ficar em casa deitado na sua cama assistindo filmes de comédia romântica em que tudo dá certo no final até perder a consciência, em vez de ir a uma festa cujo tema era "eu odeio o dia dos namorados" que a Rachelle, sua prima, estava dando naquela noite.

Niels nunca teve nada contra o dia dos namorados; na verdade, tinha bastante simpatia pela data. Desde os 14 anos — quando descobriu que garotas eram interessantes, e não chatas; e quando as garotas descobriram que Niels era bonitinho, e não um menino que comia meleca e não trocava de cueca por 4 dias —, não houve um único ano em que ele passou desacompanhado. Sempre, até mesmo nos últimos minutos, ele encontrava alguém com quem passar a data e trocar chocolates, cartinhas e um pouco de saliva e outros fluídos corporais.

Porém, aquele era o primeiro ano em que ele ia passar o dia dos namorados sozinho. E não apenas por isso ele estava melancólico. Mas porque sua namorada, Cinel, tinha terminado com ele uma semana antes.

Niels simplesmente não conseguia entender o motivo. Eles estavam juntos há dois anos. Estudavam na mesma universidade e tinham o mesmo planejamento de vida, já tinham olhado um catálogo de uma imobiliária com apartamentos à venda para comprar no ano seguinte e morarem juntos. Niels, que havia jurado não se casar, que acreditava que casamento era uma roubada, estava até ensaiando seu pedido de casamento para Cinel, porque ela era simplesmente perfeita para ele.

Cinel era maravilhosa: tinha uma pele morena, que parecia sempre brilhar como um bronze recém-adquirido, cabelos negros na altura do queixo e que caíam em leves ondas, olhos igualmente negros, enigmáticos e extremamente sensuais, os lábios carnudos, um nariz delicado, um corpo maravilhoso. Ela corria todas as manhãs e se empanturrava de bolo de chocolate quando voltava. Odiava usar salto alto, e amava um chinelo de dedo; na sua formatura do terceiro ano, havia usado um lindo vestido Sheri Hill com All Stars. E mesmo desarrumada, de cabelo bagunçado, de shorts de moletom e regatas, ela ainda tinha o poder de continuar linda.

Niels estava tão perdidamente apaixonado por ela que não se lembrava mais de uma vida em que Cinel não esteve presente. Parece que, antes de ele ter finalmente beijado ela — depois de muitos encontros com pizza e cinema —, ele não havia vivido, e tudo tinha simplesmente se apagado de sua memória.

As seis loucuras de amor [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now