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Point Of View: Newt — O Começo

Era uma noite qualquer. Mais uma vez, decidi aparecer no mundo humano, só para checar a família da criança que eu escolhi.

Era uma criança promissora, os país tinham Newts um tanto acima da média, boas condições financeiras e eu sentia, através da pré-Ligação que se fazia entre nós, que aquele menino seria forte, sim, muito forte. Um menino promissor.

Eu o queria, queria me alimentar da força dele, nossa conexão favoreceria a ambos, ele teria o mundo a seus pés e eu uma criança forte para apagar a abominação da minha primeira escolha.

Pensar nisso me trazia fúria, eu era jovem e tolo.

Os mais velhos me alertaram que aquela não era uma boa escolha. Que um iniciante, como eu, deveria escolher alguém comum, passar longe das famílias pobres e miseráveis, afinal, aqueles humanos eram quebrados e indignos de usar toda a força que podemos manifestar no mundo humano.

Eles não nos fortaleceriam, nós Newts mais evoluídos devemos procurar humanos evoluídos, com as melhores chances de cultivar nosso poder. Por ser um jovem tolo eu paguei da pior forma, manchei minha honra na primeira vida que tive e levei outras sete vidas para me livrar do estigma que recaiu sobre mim.

Havia escolhido esse menino, ele me faria brilhar e ascender, havia disputado com outras dezenas de Newts e ganhado de todos o direito de me manifestar no mundo humano através da força vital dele, a nona criança, a nona vida que eu me ligo.

Tudo ocorria muito bem e ele já estava em seu último mês de gestação, esse era um mês perigoso, a criança poderia nascer a qualquer momento e Newts mais baixos ficavam por perto, esperando o Newt da ligação cometer algum erro para eles usurparem a conexão.

Eu me mantive atento, a mãe do menino entrou em trabalho de parto. Os médicos falaram que ainda estava com pouca dilatação e iria demorar. Fui sondar o perímetro, ver se não tinha alguém de níveis interiores por perto, decidido a esmagar qualquer um que tentasse roubar aquela criança de mim.

Horas se passaram, o menino ainda não nascia, minha presença no prédio era o suficiente para intimidar os Newts mais baixos e os que já estavam conectados a um humano permaneciam como eu, atentos aos predadores.

Mais uma enfermeira entrou na sala. Olhei a humana e seu marido, os futuros pais do menino, era a primeira cria deles e então eles estavam um pouco preocupados com a demora do nascimento, seus Newts estavam ali também. Invisíveis aos olhos humanos, eles conversavam e riam sobre alguma coisa que eu não prestava atenção. Pareciam se conhecer a bastante tempo.

Mesmo que eles quisessem, não poderiam conversar comigo, só quando o meu humano nascesse, regras do nosso mundo. Fiz como os últimos messes e observei calado.

A enfermeira saiu da sala e mais uma vez a segui, preocupado em fazer mais uma última ronda antes que as contrações chegassem em um ponto no qual eu não poderia sair do quarto.

Uma comoção de humanos passou correndo pelos corredores, a enfermeira seguiu na direção deles e eu peguei o caminho oposto. Sabendo que se tratava de mais um trabalho de parto, ignorei a comoção. Já havia visto varias crianças nascerem, não precisava de mais uma à lista.

Mais uma ronda concluída, estava voltando para o quarto para ver como o parto do menino andava quando algo estranho me atingiu.

Um grito. Um choro. Tinha algo errado.

Muito errado.

Uma agitação percorreu meu corpo, algo que eu nunca senti antes em nenhuma outra vida, como uma urgência agoniante. Olhei rapidamente ao redor e percebi que eu não era o único, humanos e Newts pareciam confusos, catatônicos, sem entender o que acontecia e eu também.

Os Newts e o Sopro de VidaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz