Capítulo 30

556 34 1
                                    

Matteo

Não sei ao certo quanto tempo demorei para pegar no sono mas assim que consegui adormecer tenho vontade de não ter feito isso

Estou parado numa rua deserta, não há sinal de nada ao meu redor, nem mesmo as luzes conseguem parar acessas mas enquanto elas oscilam consigo avançar alguns passos e conforme vou andando tento reconhecer aonde estou mas não tenho muito sucesso até ouvir o som das ondas se chocando com a areia 

Mais uma vez estou no cais da cidade, todo o ambiente ao meu redor começa a se dissolver conforme paro a beira da praia olhando para o horizonte negro, nem mesmo as estrelas ou a lua se mostram presentes essa noite, me concentro em encontrar alguma fonte de luz ou algum vestígio de vida quando avisto em meio as ondas movimentadas uma fraca luz 

Nego com a cabeça tentando ignorar o pequeno barco distante o suficiente para eu não conseguir distinguir mais do que a débil luz e assim que eu tento me afastar dessa paisagem sou trazido de volta pra a praia não importa o caminho que eu tome eu sempre retorno para o mesmo ponto de partida

Como não tenho escapatória procuro alguma coisa para me levar até aquele barco e não demoro a achar um bote de madeira encostado na beira da areia e com um pouco de esforço consigo pô-lo na água e remo em direção ao meio do mar

As ondas que já estavam difíceis de lidar agora se tornam impossíveis de ir contra sua vontade por mais que tente controlar, cada onda que se forma tenho a sensação que logo o bote irá virar e estarei perdido na escuridão do mar

Consigo avistar uma grande onda se aproximar de mim e do outro barco que agora consigo identificar com o barco de passeio em que Klara e eu estávamos e tenho tempo apenas de fazer uma pequena reza antes de sentir o impacto virar ambos os barcos um em cima do outro

A água gelada faz com que meu corpo todo entre em choque e me debato freneticamente procurando chegar de volta a superfície quando vejo outra silhueta próxima a mim se perdendo na escuridão e apenas mergulho para pegá-la e assim que consigo segurar sua mão tudo ao nosso redor muda e me encontro na sala da UTI aonde Klara está

Olho para ambos percebendo que estamos encharcados e me aproximo dela para chegar seus batimentos cardíacos quando ela se levanta e me olha furiosa 

- Você ! isso tudo é culpa sua ! Você fez isso comigo ! Eu nunca mais que ver você Matteo, eu estou internada nesse hospital em coma porque você como sempre só pensou em si mesmo, só quis se esconder atrás de uma garrafa de bebida ao invés de perguntar o que eu queria fazer e olha o que fez comigo ! Você quase me matou !

Recuo um pouco assim que ouço seu tom acusatório e tento dizer algo mais ela se levanta vindo até mim enquanto me acusa de todas as coisas ruins que já fiz a ela, todas as idiotices e todas as vezes que já fui egoísta com ela que só me preocupei comigo mesmo sem ao menos se tocar que ela é uma pessoa também e como ela tem razão apenas abaixo a cabeça concordando com tudo

Sinto meu peito apertar de angústia e mágoa ao perceber que eu nunca poderei ao menos chegar perto de alcançar o seu perdão mesmo que tente de todas as formas tanto ela como eu sabemos que eu sou o causador de tudo e eu sei que tudo poderia ter sido completamente diferente se eu apenas tivesse me afastado dela quando fui recusado 

- O que...eu posso fazer pra me redimir com você ? Vamos, diga o que eu tenho que fazer para esse peso saia dos meus ombros !

- O que !? Depois de tudo o que você fez acha que pode apenas fazer alguma coisa e estará tudo perdoado ?! Não Matteo...Essa foi a gota d'água, se você quer mesmo fazer alguma coisa pode morrer ! Só assim eu vou ter paz 

Engulho em seco sem saber o que fazer, minha cabeça está confusa e não consigo acreditar no que ela disse, ela prefere que eu morra ao ficar mais um minuto perto dela

Começo a chorar pedindo em prantos para ela pedir qualquer coisa mas que me dê alguma chance de me redimir com ela, por menos que seja eu preciso tentar alguma coisa mas assim que olhos em seus olhos meu sangue congela ao vê-la segurando uma arma 

- Eu já te dei todas as chances que poderia....Adeus Matteo -  Não tenho tempo de dizer mais nada antes de ouvir o som da bala e logo depois o ardor dela perfurando minha cabeça

Acordo com o som do trovão atrás de mim e olho ao redor com o coração disparado, toco o local aonde a bala deveria estar várias vezes tentando me convencer de que aquilo tudo não passou de um sonho, me levanto ainda trêmulo e caminho até o banheiro para ter certeza de que ainda estou vivo 

Jogo um pouco de água no rosto e penso no que acabei de sonhar, percebendo a verdade, não adianta eu tentar esconder as coisas, eu não consigo mais viver assim. Consigo ouvir a forte tempestade que insiste em cair enquanto volto para o quarto pegando os envelopes já nomeados e os colocando sobre a mesa antes de pegar as chaves do carro 

Não me importo muito com a tempestade, até me sinto mais confortável ao saber que não sou o único em fúria nesse momento e assim que paro o carro no cais da praia procurando o primeiro barco livre para adentrar na água

Sei que há jeito mais fáceis de fazer isso mas quero terminar isso da mesma forma que começou, já que eu deveria ter morrido quando criança no acidente que matou meus pais nada mais justo que eu acabar a minha vida da mesma forma

Consigo pegar um pequeno barco e avanço para o meio do mar sem me importar em lutar muito com as ondas que se formam a cada instante ficando maiores e mais inquietas deixando que tudo aconteça como deveria

Navego para o mais longe que o barco consegue ir antes do motor parar e quando isso acontece não me resta muita alternativa a não ser caminhar até a proa deixando que a chuva me molhe por inteiro, olho para a água fria que me aguarda e procuro uma corda e algo pesado para levar comigo arrumando um jeito de não voltar atrás

Com as mãos trêmulas consigo dar alguns nós na corda e passá-la em volta do meu pescoço e do cilindro o apoiando na beira do barco respirando fundo pensando em tudo o que eu fiz, em tudo o que eu poderia ter feito diferente e em todas as vidas que seriam muito melhores se não tivessem me conhecido 

- De tudo o que eu fiz nessa vida eu só me arrependo de não ter sido bom suficiente para merecer o seu amor minha doce Klara

Seco uma única lágrima que cai antes de fechar os olhos e me jogar me juntando a escuridão gélida das águas torcendo para tudo acabar logo e eu me juntar com meus pais de uma vez e ver se assim eu encontro alguma paz

Rei da noiteΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα