— Já te falaram que você tagarela quando fica nervosa? — sopro na boca dela.

— Desculpa, estive preocupada com isso a noite toda.

— Gata, eu não faria nada para te deixar preocupada. Relaxa. Vamos para o Massachusetts juntos, e vamos viver na casa cultural que me foi oferecida junto a bolsa de estudos parcial.

Ela se afasta e me encara. O silêncio incomoda, mas tento ignorar isso. Encaro de volta, aguardando a reação.

— MIT? Você foi aceito no MIT?

— É. Por que a surpresa?

— Eu não passei lá. Não recebi nada. Você... nós vamos ficar separados por uma distância grande. Eu aqui, você lá. São muitas milhas. Jésus-Christ.

Sorrio, limpo as mãos e retiro o papel que estou guardando desde cedo no meu bolso. A Jeanne me entregou enquanto eu e a Gwen caminhávamos para a escola, pedindo que eu desse à filha, já que provavelmente veria ela primeiro.

— Gata, você não tem como saber se passou se colocou o endereço da sua casa como o endereço do restaurante. A resposta está aqui. Se houver um não aí, então nos preocuparemos com como será, mas leia a resposta primeiro.

— Está aberto. Minha mãe deve ter ficado curiosa. — diz, não fazendo ideia do que está atrás dela. Faço um sinal para que se aproximem e ela puxa a carta.

Trêmula, ela não consegue segurar o papel, e eu leio para ela.

— Noelle Tulipe Betrand, — digo no meu melhor sotaque francês, que é tão ruim que faz ela rir em meio ao nervosismo — você foi convidada a cursar medicina veterinária no Instituto de Tecnologia do Massachusetts no próximo semestre, depois de concluir o semestre na Southeast, após as festas. Você é oficialmente uma caloura, gata. Cuidado com o pó colorido.

O sorriso dela vira uma coisa confusa após essa última frase, mas o balde de pó colorido nas mãos dos pais logo explica para ela o que não posso dizer. Sem notar, também recebo um na cabeça, de um funcionário da oficina. Minha roupa, antes toda preta, agora está parecendo uma arte da Gwen. Limpo os olhos e vejo a Jeanne correndo da ruiva com o dólmã branco usado. O Maurice vem me cumprimentar enquanto a mulher e a filha disputam uma corrida.

— Parabéns, garoto. Sei que você não esperava passar e que só se inscreveu para a minha filha não fazer sozinha, mas tive que enviar uma carta de recomendação para eles, o mundo não pode perder a chance de trabalhar a sua inteligência. Use ela para o bem, oui?

Ja. Obrigado, Maurice. Você é o melhor chefe que já tive. — e que o chefe da polícia do meu condado não saiba disso.

Ele encosta no carro que estou consertando, observando as duas garotas da vida dele correndo em círculos, até a Noelle parar, confundir a Jeanne e conseguir dar o abraço.

— Deixa eu levar a Jeanne para casa. Passe lá essa noite com a sua filha, vamos comemorar as boas notícias, depois de tanta coisa ruim.

A Noelle fica comigo, e eu dou ordens sobre o que fazer, vendo que ela faz antes de eu mandar. O silêncio não é desconfortável, pelo contrário, carrega uma paz que eu não sentia há dezoito anos. Ela quebra o silêncio um tempo depois.

— É estranho estar na faculdade, eu nunca planejei isso direito. Desde o início da minha adolescência eu achava que alguma coisa que eu fizesse me privaria de alcançar isso, e eu fiz ao quebrar o nariz da Brittainy. Naquele momento eu entendi por que quem vê um ataque evita falar comigo. Eu senti medo de mim. E no fundo, fiquei feliz por estar privada da vida social, assim não machucaria ninguém. Aí, uma hora depois, lá estava você quebrando a minha bolha e insinuando coisas.

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Where stories live. Discover now