Sob o furor da descoberta.

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O amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe. São o verso e o reverso da mesma moeda de paixão. O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença

(O Arquipélago - Érico Veríssimo)

A semana dos N.O.M’s era deseperadora. Os alunos estudavam como se suas vidas dependessem disso — porque dependia— e como se o futuro profissional de cada um estivesse cravado naqueles pergaminhos —  e surpreendentemente estava.

Hermione cumpria com seu cronograma diário. Às vezes estudava com Ronald e Harry, às vezes preferia ficar sozinha. Harry estava estranho, se comportando de maneira agressiva e um pouco mais reclusão, evitando a companhia dos amigos. Era um período difícil para ele, com todas as acusações, o descrédito da comunidade bruxa e a maciça falta de apoio dos colegas da casa. Hermione tentava ajudar como podia, e ele recusava as tentativas da amiga de aproximação.

O sol já estava se pondo quando ela resolveu fazer uma derradeira visita à biblioteca. Sentia que precisava revisar o conteúdo de Defesa contra as artes das trevas, pois o volume de teoria e técnicas explicadas nos livros pouco ajudava na retenção do conhecimento. Páginas e mais páginas com letras miúdas embaçavam a visão de qualquer aluno que ousasse se debruçar sobre os livros maçantes.

Hermione sabia que o ânimo para se dedicar à disciplina também dependia do professor e seu compromisso com a arte de lecionar. Não era o caso de Umbridge, a nova professora pomposa e rechonchuda que parecia achar divertido o ato de impor regras ditatoriais e castigos violentos. Ela contrastava em absoluto com com os babados e acessórios cor-de-rosa.

Hermione não ficaria muito tempo na biblioteca, pois precisava voltar ao dormitório antes do severo toque de recolher que a rabugenta professora  — e diretora de Hogwarts— havia imposto.  Portanto, atravessou o salão principal correndo e acabou por esbarrar na última pessoa que esperava ver voltando da biblioteca.

Malfoy.

O encontrão foi violento, de modo que ambos caíram no chão. E teria sido uma queda normal se não fosse a ideia estúpida e repentina de Crabbe e Goyle que, a fim de agradar e vingar Malfoy da ousadia de Granger em esbarrar nele, lançaram o feitiço do adesivo permanente ao mesmo tempo para prendê-la ao chão em posição vergonhosa.

Qualquer um poderia prever uma desgraça, tendo  em vista os portadores da varinha. Por isso, o feitiço ricocheteou para todos os lados, atingindo não só Hermione, mas Draco deixando ambos colados no chão.

Com violência ele tentou se desgrudar, mas acabou se complicando ainda mais, pois a posição em que se encontrava era humilhante. Colado ao chão com o corpo de Hermione Granger sob o seu.

Qualquer um que olhasse para ambos naquela situação diria que as têmporas e músculos de Draco estavam tão  contraídos porque tocar em qualquer parte do corpo daquela garota seria como contaminar a si mesmo e queimar no inferno da purificação do sangue. Mas, estranhamente, não era esse o pensamento que consumia os miolos do garoto, e sim algo muito mais inapropriado.

Ela era fria, ou estava fria, ele sentiu quando os braços acidentalmente se tocaram. As roupas que ela vestia eram comuns e não as habituais vestes escolares. Se Umbridge visse, ficaria uma fera.

Hermione estava segurando a respiração com tanta disciplina que parecia não querer sentir o perfume de Malfoy. Ela estava com o rosto virado, evitando encará-lo e todos os seus esforços estavam concentrados em não ser submetida a qualquer contato físico.

Aquilo irritou Draco. As reações da garota impura, e não merecedora dos privilégios dos genes mágicos, o afrontou de forma perigosa.

—Não torça esse nariz nojento para mim, Granger, pois eu estou me segurando para não vomitar em sua cara. — ele falou com a voz trêmula.— SEUS IDIOTAS, BUSQUEM A AJUDA DE ALGUÉM.

Tabula Rasa - DramioneWhere stories live. Discover now