Num movimento rápido, o rapaz aproxima a sua espada do meu pescoço, ficando a escassos centímetros de me tocar. Mas que raio? Ele agora vai dar uma de Zorro?

  Solto um fraco sorriso, que soa mais como um suspiro de alivio por ele não me ter decapitado. É o Thomas... não se pode confiar muito nas suas ações. Ainda menos quando ele tem uma arma que me pode matar na mão. 

- Deveria ficar assustada com esse teu entusiasmo por cortar cabeças? - continuo. 

  Enquanto falo o Thomas contorna o meu corpo, parando atrás de mim. A sua mão continua a segurar a espada que, para meu desespero, ainda não se moveu nenhum centímetro sequer, ou seja, ainda me pode matar. 

  A sua mão passeia até à minha cintura para que eu não possa fugir, e ele solta uma pequena gargalhada mesmo ao lado do meu ouvido. A sua resposta vem igualmente na direção do meu ouvido, arrepiando-me. O Thomas tem uma estranha mania de falar ao ouvido das pessoas. 

- Talvez. - diz. - Mas não te preocupes, seria uma pena perder esta linda carinha.

  Isto acabou de ser a coisa mais pirosa que se pode dizer a alguém, e o Thomas tem a plena consciência disso porque no mesmo momento em que acaba de falar, começa a rir-se, tal como eu. Felizmente a sua espada acaba por se afastar do meu pescoço, deixando-me respirar livremente. 

- O que é que estás aqui a fazer? - pergunta, virando-me as costas para se dirigir até um armário onde coloca o objeto, no meio de tantos outros do mesmo género. Depois agacha-se até ao chão onde se encontra o seu saco de desporto, e ele retira uma toalha para limpar o suor. 

- Tenho uma coisa para te entregar. - respondo. Abro a mala e retiro de dentro da mesma, a pasta que eu trouxe emprestada do hospital, e estico-a na sua direção. Os seus olhos voam até à pasta na minha mão, sem entender muito bem o que lhe estou a entregar. - Pega. - incentivo-o, agitando-a.

  Confuso, o Thomas volta a aproximar-se. Ele coloca a toalha no ombro e pega na pasta. Os seus olhos verdes percorrem a primeira página com o seu nome, e o logotipo do hospital. Após breves segundos a observar sem entender o que se está a passar, um sorriso cresce nos lábios do rapaz.

- Tu roubaste isto? - pergunta, surpreso.

  Encolho os ombros.

- Eu não roubei, só pedi emprestado. Tenho a certeza que conseguiremos devolver sem que percebam.

  O sorriso do rapaz só consegue ficar maior, à medida que ele olha para a pasta e nega com a cabeça, incapaz de acreditar no que eu fiz.

- Obrigada. - agradece antes mesmo de me abraçar.

  Os braços do Thomas rodam o meu corpo, apertando-me contra o seu. Esta é uma daquelas poucas vezes em que o Tom está a fazer alguma coisa de maneira genuína, e não numa estúpida tentativa de sedução, como eu lhe chamo.

  O rapaz acaba por se afastar e pousar a pasta em cima do seu saco de desporto.

- Não abres? - pergunto. - Quer dizer, eu pensava que tu querias saber quem era a tua mãe. 

- É claro que eu quero, Rebekah! Mas eu posso esperar mais uns minutos para saber quem ela é. Neste momento eu quero saber o que se passa contigo. Eu conheço-te o suficiente para saber que não irias voltar a um domingo para a Academia só para me entregar isto. Tu podias ter esperado por amanhã, mas não fizeste. 

- Não se passa nada. - respondo. Ando, com cuidado para não ter outra surpresa com um Volk- Espantalho, até ao armário onde o Thomas colocou a espada, e observo as várias armas presentes no mesmo.

The Guardian - The Discovery of a New World (Livro 2)Kde žijí příběhy. Začni objevovat