quatro

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Capítulo número quatro: Então deixa-me fazer o que eu quiser com ele.

Alexys ainda esfregava levemente o seu pulso direito que ainda conseguia sentir aqueles esguios e longos dedos ao redor dele, embora já ali não estivessem. Suspirou ao sacar do seu telemóvel e esperar por alguma chamada de Jade que indicasse que ela já estaria a caminho, ou que por algum milagre, chegara cedo e que já a aguardava em algum estacionamento próximo. Mas é claro, é claro, que isso não poderia acontecer, pois era de Jade que estamos a falar. 

A brisa cumprimentou o rosto da morena que não demorou nem dois minutos a abandonar o grande edifício construído com quase apenas vidro. O que não fazia qualquer sentido pois quando acontecesse um terramoto, para onde esperavam que aquela substância sólida e cortante fosse parar? 

Suspirou pesadamente antes de digitar o número de Jade e colocá-lo em alta voz. O bip irritante fez-se ouvir pelo menos cinco vezes antes da loira responder.

- Eu juro que estou a chegar Alexys! - Foi a primeira coisa que Jade disse mal atendeu a chamada. O facto de se ouvirem carros a buzinar como fundo provou a afirmação da rapariga, ela de facto estava mesmo no carro pelo menos. 

Alexys não respondeu, optando por apenas olhar na direção da estrada que indicava a chegada dos carros que vinham pela direita, que era, supostamente por onde Jade viria. O seu olhar penetrante esperava quase ansiosamente ver o jipe preto que a loira conduzia desde os seus vinte anos. Jade pussuía agora vinte e dois anos, assim como Alexys.

- Certo, - Jade tossicou ligeiramente. - E então? Como correu? - Tentou soar animada.

- Igual. - Respondeu de forma rápida, curta e aborrecida.

- Igual como? Louis fez as mesmas perguntas? - Alexys não conseguia ver, mas Jade ergueu uma das suas sobrancelhas. 

- Igual. - Repetiu, ligeiramente mais rude. Alexys não queria comentar a sua consulta, não queria sequer falar de Louis ou das suas estúpidas perguntas.

Jade sabia que não ia muito longe. Desde que conhecia a morena que a mesma era de poucas palavras, logo, isso não a surpreendia. 

- Eu estou a chegar. - Suspirou derrotada. O que fez com que Alexys desligasse a chamada e guardasse novamente o telemóvel no bolso enquanto mirava na mesma direção que antes. Para a direita.

Não demorou muito para que o tal familiar jipe preto aparecesse na sua visão, no máximo uns sete minutos, não que Alexys estivesse mentalmente contando.

- Então, correu bem? - Jade sorriu com os dentes todos, alinhados e animados, enquanto a morena entrava e se assentava melhor no carro. Quando a morena olhou séria para a loira, Jade soube logo no que a mesma estava a pensar. Acabaste de fazer-me essa pergunta e eu não irei gastar palavras para responder o mesmo. Era inevitável e parecia instantâneo, nunca se sabia o que falar com uma pessoa que mal fala, não pela timidez mas apenas pela rudeza de não querer falar, e que não responde às questões. Um cérebro normal, automaticamente, fará a mesma pergunta pelo simples facto de anteriormente não ter obtido uma resposta agradável ou coerente o suficiente para se satisfazer. Jade não estava satisfeita, mas conhecia Alexys o suficiente para não se importar naquele momento, talvez mais tarde ligá-se a Louis para perguntar.

A viagem foi de exatamente vinte e quatro minutos, e cada um desses segundos, nenhuma delas pronunciou uma única palavra. Jade cantarolava cada música conhecida que passava na rádio enquanto que Alexys apenas mirava na direção dos prédios e casas que passavam. 

Ambas moram na Clifton Hill House, uma residência perto da universidade que frequentam em New Jersey, Seton Hall University. Embora a palavra perto justifique cinquenta minutos de viagem, nenhuma delas se parece queixar. E foi exatamente por isso que Alexys franziu a testa. Os números não coincidem. Do consultório de Louis até Hill House são pelo menos trinta e sete minutos. Alexys faz cálculos, conta os percursos e sabe que no mínimo seriam trinta e cinco minutos, ninguém a pode culpar por gostar de números. Números são bons.

- Porque paramos? - Perguntou virando-se para encarar Jade.

- Porque tem trânsito. - A loira apontou para a frente do carro, onde vários outros já buzinavam irritados. - Estamos em hora de ponta.

Boa. Hora de ponta. Agora nem os números poderiam ajudar.

- Finalmente tiraste aquele relógio horrível, - Jade tentou meter conversa, sorrindo carinhosamente e revelando uma voz calma e doce, como se Alexys fosse explodir caso alterasse o tom de voz.

- Eu ainda tenho o meu relógio, - comentou por alto, olhando discretamente para o seu pulso e percebendo ele não estar ali. - Onde está o meu relógio? - Olhou desesperada para Jade que encolheu os ombros e a observou apreensiva. O carro andou ligeiramente mais para a frente indicando que o trânsito estava em andamento. - Diz-me onde está o meu relógio! - Alterou a sua voz, umas oitavas.

Jade olhou incrédula para Alexys. Ok que ela nunca foi de apreciar aquele relógio sem cor e gasto, mas isso não deveria de ser uma das causas de não ter sido ela a tirá-lo? Como poderia? Alexys está sempre com ele, sempre.

- Eu. Não. Sei. - Falou pausadamente, querendo deixar claro que realmente não sabia.

- Eu tinha-o quando saí do consultório de Louis, isso não faz qualquer sentido Jade. - Números, onde estão os números quando se precisam deles? 

Alexys tinha uma enorme tendência de ficar desesperada quando não encontrava as suas coisas. Odeia simplesmente perder algo que lhe pertence, ou que tenha algum significado para ela. Embora ela ainda não saiba. 

No entanto, aquele era um mero relógio de loja que conseguiu sobreviver todos os dias durante um ano e sete meses. Isso, números.

- Eu olhei para ele, sei que estava aqui. - Apertou o seu pulso, como se assim ele fosse magicamente aparecer. Suspirou pesado e olhou desiludida para a janela. - Deixa estar. 

Louis sempre dissera a Jade para perguntar a Alexys o que ela estava a sentir, ou se algo no seu estômago estava a revirar, de maneira a pesquisar sintomas que ela consiga descrever e chamá-los pelo verdadeiro nome - tristeza, raiva, desilusão, desespero, felicidade, indiferença, entre outros -, e ajudá-la a compreender melhor as palavras. Mas naquele momento, simplesmente não pareceu o momento certo para se pronunciar. O relógio com toda a certeza não tinha um significado tão importante assim, mas Jade sempre soube que Alexys odiava perder as suas coisas. Era uma das suas características mais forte.

- Eu compro-te outro. - Sorriu docemente.

- Eu não quero outro.

- Mas eu vou comprar mesmo assim.

- Vais perder o teu tempo. 

- É o meu tempo, não o teu. Então deixa-me fazer o que eu quiser com ele. 

Alexys piscou duas vezes para Jade antes de olhar pela janela e esperar que o maldito trânsito avançasse. Só queria poder chegar à residência e ficar sozinha no seu quarto. Embora isso fosse impossível, pois partilhava o mesmo com Jade e Yasmine. E com esse pensamento em mente, suspirou mais uma vez, mostrando-se mentalmente desgastada. 




To już koniec opublikowanych części.

⏰ Ostatnio Aktualizowane: Jul 02, 2016 ⏰

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