A CIDADE DOS FLUXOS

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Com uma garrafa de água nas mãos, Valerie observava o imenso céu repleto de estrelas, no entanto um lugar cheio de estrondos, e com a mente repleta de indagações.

-Onde eu estou exatamente?-Perguntou a menina esperando por respostas da Inteligência Artificial.

-Você está viajando pela quarta dimensão para cumprir sua missão de mudar o futuro da humanidade. - respondeu a gentil voz.

-Sempre achei que vivemos apenas em três dimensões!-respondeu a garotinha com braços cruzados.

-Oh! É a primeira física que noto não crer que o tempo seja a quarta dimensão no espaço. -respondeu a IA em tom de espanto.

-Para mim o tempo é uma ilusão, embora biologicamente exista, é de fato constantes humanas desnecessárias marcadas por eventos ou objetos.-disse Valerie deixando lágrimas rolarem pelo rosto.

-O Universo está em constante expansão, assim como seu sistema está sujeito à constante entropia, e isso implica no progresso do tempo, mas nem por isso humanos não podem ser impedidos de mudar a si.-correspondeu a IA.

Valerie agora se questionava como poderia algo que está em entropia constante, mas na busca da neguentropia final pudesse ser mudada no futuro e não no presente, se o futuro já existe então tudo determinado está.

-Ondas transportam energias mas não matéria, enquanto se olha a dualidade do estado das partículas que formam a matéria, então nota-se que o futuro afeta o passado. Sua missão aqui é salvar a humanidade das competições intra específicas que levam à guerras territoriais.-disse a IA acordando Valerie de seus pensamentos.

Valerie queria mesmo era ir embora viver seu luto, deitar no colo de seus pais, no entanto lembrava-se da busca constante da avó pelo conhecimento, e embora tivesse muito conhecimento e fosse muito sábia parecia não notar isso, então se a doutora Helen a tinha colocado naquela jornada das eras isso significava que acreditava em suas capacidades, enquanto isso lembrava-se das boas vibrações da avó.

Com o dedo indicador onde estava seu biochip tocou a central de software do air car, e agora ela e a IA estavam unidas rumo ao palacete, os bombardeios haviam parado, era mais seguro, todavia a garota aproveitou sua pequenez para esconder-se entre as largas folhas tropicais, porém ao chegar na alvorada do palácio percebeu o quão difícil seria entrar no lugar vigiado por máquinas, homens e mulheres autômatos.

-Ondas transportam energia sem transportar matéria visível, então vamos adentrar como ondas.-falou a IA em sua cabeça apontando para o novo nível que acendia no mapa do tablet.

Ao projetar-se no grande salão a menina notou um grande debate político, era por isso que pararam, os que se conheciam agora brigavam entre si, mas os guerreiros ainda se odiavam. Pararam ao verem a menina, para alguns era a mulher da profecia que dominaria todos os homens, para outros era a mulher marcada para vir de outros tempos salvar a humanidade.

A menina sabia que não poderia mudar ninguém, muito menos comunicar-se naquele lugar, mas sabia que poderia induzir o subconsciente daquelas pessoas concentrando em transmitir ondas de trabalho eletroquímico das redes neurais do cérebro com ideias e pensamentos positivos de paz e respeito para os ali presentes.

Dada a relatividade do tempo quando a pequena garota de cabelos negros e escorridos abriu seus olhos não sabia quanto da demarcação do tempo tinha se passado naquele coliseu dos debates, mas diante de si tinha-se homens e mulheres ajoelhando-se diante de seus pés, as mães e pais com filhos pequenos no colo choravam encarando-a, era como se ela fosse alguma divindade, embora não fosse. Ela podia sentir uma conexão com aquelas pessoas como se já lhes fossem conhecidas, não costumava ver muitas pessoas que não fossem pelo complexo acadêmico do qual morava desde que nasceu, era educada diariamente para promover a academia intelectual, mas acima de tudo seu pai sempre lhe dissera que a ciência é feita para e por um povo, e portanto é dever de um cientista saber comunicar e levar da forma mais verdadeira e simples aquilo que provou dentro da academia à qualquer leigo referente a sua área de atuação, logo agora era seu dever comunicar-se com aquele povo.

Ao olhar ao redor viu homens e mulheres, governantes, líderes e soldados cumprimentando-se e sorrindo, dava para saber que eram lados opostos daquela guerra em decorrência das diferentes cores das roupas que separavam uma única espécie em conceitos sociais distintos. Quando as autoridades notaram a pequena garotinha os observando pararam suas incessantes ondas mecânicas vindas da boca que se propagavam por todo aquele espaço, Valerie não conseguia entender o idioma do povo da cidade cibernética, eles eram bastante ligados ao mundo virtual, mas mesmo programadores e operadores de máquinas pararam para olhá-la com admiração, ela sentia-se honrada, mas de fato não sabia como falar com eles.

-Corre em seu sistema nervoso a linguagem comum entre todos os seres humanos, use-a!-ordenou sua IA em seu interior.

Mais uma vez Valerie concentrou seus esforços para transmitir as energias dos seus impulsos neuronais, dessa vez para comunicar que não era nenhuma salvadora ou divindade, era uma mera viajante do tempo em busca de mudar o futuro de sua espécie para uma convivência melhor, carregada de harmonia, e no auge da troca de energias tocou em um pote intitulado "Táquions", sendo mais uma vez levada pela linha do tempo, dessa vez tinha caído em um lugar alegre e povoado.

Sua avó tinha criado todo aquele universo ou ela estava em alguma espécie de reação em cadeia dos portais pelos quais cada um a levava para diferentes eras da humanidade, só precisava entender tudo aquilo.

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