Tensão

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Era por volta de 18h e enquanto todos os seus amigos estavam na piscina, se divertindo, ela estava enfurnada no quarto, chorando. Era dia de eliminação e Alane se sentia ainda mais ansiosa que nos dias anteriores. Depois do desentendimento com Leidy na madrugada, a bailarina tinha mais medo ainda de ser eliminada, do Brasil achar que ela é uma traidora assim como a (ex) amiga afirmou que ela era. Ela mal conseguia respirar.

Pensava que não queria que seu sonho acabasse tão rápido, pensava em tudo de que sentiria saudades: das festas, dos figurinos, da tensão, de tomar banho de piscina todos os dias, da resenha com os seus amigos... Principalmente de Bia. Meu Deus, como sentiria falta dessa bobona! Ela não conseguia ficar nem cinco minutos sem ter a ex-camelô no seu campo de visão, e pedia a companhia dela pra tudo, tomar banho, se maquiar e até beber água! Imagina como iria ser difícil de repente ficar sem ela, só poder vê-la na televisão... Só de pensar isso sentia sua ansiedade aumentar... Inclusive queria ela ali agora, do seu lado, só ela conseguia lhe ajudar a respirar melhor...

Enquanto pensava sobre isso, ouviu a porta se abrir, e para a sua alegria, era exatamente quem esperava, a sua cavaleira do cavalo branco, sempre em sua defesa e proteção. A olhou nos olhos e viu aqueles olhos doces se encherem de preocupação.

- Alane...

Era engraçado como aquela voz grossa e rouca poderia ter um efeito calmante nela. A paraense deu um meio sorriso entre as lágrimas.

- Me dá um abraço? - perguntou, com olhar pidão.

- Te dou mais que um, danada! - e subiu em cima dela como sempre costumavam fazer um grupo, com toda a delicadeza que era característica em Beatriz Reis.

Alane, num primeiro momento, não pôde conter uma risada. Mas a medida que a empolgação inicial da brincadeira ia se apagando, ia aumentando o peso no estômago. "EU NÃO QUERO FICAR SEM ISSO, NÃO QUERO, NÃO QUERO!" E as lágrimas voltaram a brotar em seus olhos.

- O que foi, Alane? Eu te machuquei! Desculpa, não foi a minha intenção! - Bia pergunta, preocupada, se afastando uns poucos centímetros do ombro da amiga, para poder olhá-la nos olhos.

- Não... Eu só tô com medo...

- De sair? Eu também tô, mas você não vai sair. - respondeu, enquanto fazia um carinho na bochecha da morena.

- Como tu pode ter tanta certeza? - A garota ainda tentava seguir a conversa, mas o carinho suave estava lhe desconcentrando, seu foco estava mudando de lugar.

- Meu coração me diz. - Beatriz não elaborou mais. Apenas a olhou e sorriu, passando o dedo indicador suavemente pelo nariz da bailarina, que não pôde evitar sorrir junto. De repente toda a ansiedade tinha ido embora e ela se sentia numa bolha de paz.

Em algum momento os olhos das duas jovens mulheres se encontraram e a bolha só parecia mais aconchegante, Alane só queria morar dentro dela e nunca mais sair. Pra que enfrentar o mundo mau lá fora se ela pode estar segura do lado de um anjo?

Quando Beatriz se moveu, Alane se sentiu desconfortável. Não queria que o momento acabasse. Mas quando viu a garota se aproximando do seu rosto, o desconforto começou a virar pânico. Não um pânico ruim, onde você se sente morrendo. Era aquele pânico que te deixa em alerta, as terminações nervosas como que atuando todas ao mesmo tempo. Sua mente ficou em branco. Parecia que tudo estava acontecendo em câmera lenta.

Finalmente o rosto da guarulhense colou com o seu. Um leve roçar do nariz dela em seu nariz, e seu coração parecia descontrolado, batendo a 100km/h. O toque não durou muito e de repente já sentia os lábios dela tocando sua bochecha, num beijo tão puro quanto ela.

- Bora comer, gurias!

Alane sentiu como se alguma criança atentada tivesse pegado uma agulha e espetado o seu balão. A bolha estourou de repente. Enquanto Beatriz se levantava animada, a paraense sentia ainda um torpor.

- Eu vou já, vou só rezar, ok?

Entendeu que precisava muito rezar. Era muito estranho tudo aquilo que tinha acabado de sentir e não conseguia entender.

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Para a sua surpresa, Tadeu a liberou logo antes dos comerciais. Disse que esse paredão não era sobre ela. Estava salva! Sentiu Beatriz segurar forte a sua mão e a felicidade não cabia dentro do seu peito. Quando seu amigo Davi foi salvo, então, o choque foi duplo. Parece que as pessoas gostavam mesmo do grupinho deles, afinal. A noite foi só festa, resenha e diversão. Enquanto os demais participantes estavam espalhados pela casa, tentando lidar com um resultado ruim, os quatro amigos faziam a festa.

Se preparando pra dormir, Bia e Alane tiravam a maquiagem diante do espelho do banheiro e conversavam sobre desenhos animados. A bailarina revelou que é apaixonada pelo filme Lilo & Stitch e começou a dizer as falas dos personagens, deixado claro que tinha decorado o filme inteiro. Quanto mais a amiga a olhava com admiração, mais ela queria mostrar que sabia. Se alimentava dessa aprovação.

- Você é muito boa, Alane! Já pensou em fazer curso de dublagem?

- Pensei sim, mas ainda tenho que terminar meu curso de teatro...

- Falta quanto tempo?

- Um ano...

- Pois então vamos fazer depois. Eu quero muito fazer o curso de dublagem.

- Vamos fazer juntas? Pode ser qualquer curso, só quero que a gente faça juntas. - a morena afirmou, meio desesperada. Queria ter certeza que aquilo não ia se perder no pós, que elas não iriam virar estranhas que por três meses tinham morado juntas. Queria garantir um espaço na vida dela. Não queria que a amizade esfriasse, muito menos que acabasse.

Logo chegaram Matteus e Davi, que simplesmente não desgrudavam delas. Davi implorou que elas fossem dormir com ele no magia. Alane não gostava daquele quarto mas aceitou ir porque Bia tinha aceitado. Iria pra onde quer que ela fosse. Estava começando a se dar conta do que estava acontecendo, mas não queria. Queria fingir que não estava entendendo. Entender faria sua vida muito mais difícil.

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