505 [EM ANDAMENTO]

Track 20 - Side A

- Se não gostar de nada daqui ou vier em pouca quantidade me avisa que a gente foge pro KFC mais próximo. – Ele sussurra um pouco antes de eu me sentar. Dou uma leve risadinha, me contendo para não soar extremamente escandalosa como eu normalmente faço e aceno positivamente com a cabeça tentando parecer o máximo chique que posso. Chris estava planejando aquele almoço há uma semana, porque a mesa que ele reservou foi justamente a que ficava de frente para a janela com aquela vista maravilhosa.

- Fiquem a vontade para fazer seus pedidos. – O garçom diz assim que entrega o menu e se afasta, dando espaço para que possamos pensar em paz. Respiro fundo e pego o menu, tentando encontrar o melhor prato pra mim.

Nunca vi tanta coisa requintada na minha frente na vida. Rolou um puta frio na barriga, mas tento me controlar, a ideia de fugir pro KFC me pareceu bem sedutora naquele momento, enquanto sentia a saliva descer seca pela minha garganta.

- Eu também subornei o dono do bar pra que ele colocasse uma playlist que fosse mais nossa cara. – Chris fala mais uma vez, me tirando do meu transe de nervosismo, dessa vez ele não sussurra, mas fala baixo para que os outros clientes não possam nos ouvir.

- Quê? – É tudo que tenho a dizer enquanto no fundo consigo ouvir a música Wish You Were Here do Pink Floyd começar a tocar.

- Você me surpreende. – Comento. Ele simplesmente dá de ombros, cruza os braços e coloca uma perna apoiada na outra enquanto move seu corpo levemente para trás e diz com um sorriso convencido em seu rosto.

- Até parece que você não me conhece.

***

Estou cheia quando o almoço termina, caminhamos mais alguns metros até o píer quietos. Nunca fui aquela pessoa que constantemente era convidada para jantares românticos, principalmente com a minha larga experiência em ser a garota estranha que ninguém queria chamar para sair.

Chris chega na barra do píer, coloca seus óculos escuros e se apoia na grade, de frente para mim enquanto cantarola While My Guitar Gently Weeps dos Beatles, faço um sinal com o dedo na frente dos lábios que é para ele se calar. Chris puxa os óculos para baixo, me encarando em dúvida com seus olhos castanhos enquanto ergue uma de suas sobrancelhas.

- Não gosta de me ouvir cantar? Assim fico até ofendido. – Seguro um punhado de cabelo com a mão no topo da cabeça, um pouco chocada com a pergunta sem pé nem cabeça que ele me faz. Chris dá uma breve e grossa risada enquanto eu nego desesperadamente com a cabeça.

- Não é isso. É que você fica cantando aí, daqui a pouco vai chegar um monte de gente pra ficar em volta de você e te ver cantar. – Chris coloca os óculos e movimenta os braços.

- Qual o problema disso? Eu cobro pelos shows, posso fazer de graça também. – Mordo o lábio inferior, estou pronta para dar uma resposta daquelas para ele.

- Poder pode, mas hoje eu quero você só pra mim. – Digo o "só pra mim" pausadamente, deixando meu desejo bem explicito em minha fala. Chris dá um sorriso malicioso que só se intensifica pelo fato dele estar de óculos escuros.

- Vem cá, seu signo é Leão? – Rolo os olhos.

- Ah não, você também tem essa palhaçada de signo? – Digo irritada com meus olhos para cima e a boca aberta com a minha melhor expressão de deboche.

- Ah não você é de Áries. – Coloco uma mão no meu rosto e deixo ela arrastar, até esqueço que estou de maquiagem, mas esse papo supersticioso me enchia o saco. Eu não acreditava nessas porcarias, principalmente porque a vida havia feito questão de ser cruel comigo de tidas as maneiras possíveis. Não consigo acreditar que um Deus, ou o destino, ou o signo, qualquer merda dessa que as pessoas acreditam, esteja por de trás de tanta maldade.

- Sou de Escorpião. Satisfeito? – O sorriso malicioso de Chris se alarga ainda mais, ele está imensamente satisfeito em me deixar irritada.

- Hm isso explica, porque você é toda selvagem na cama. – Me aproximo dele, coloco as mãos em seus ombros e digo:

- O que explica eu ser selvagem na cama é a forma como você faz comigo. – Chris segura meu queixo e tira seus óculos. Nesse momento começo a pensar em como estou irritada com ele e como eu quero quebrar aquela porcaria em um milhão de pedacinhos por causa da insolência dele.

- E como eu faço com você? – Sua voz sai grossa, profunda e nossos rostos estão bem colados. Dou um suspiro, eu não queria, mas agora estou com os olhos presos nos dele, não consigo parar de olhar. Sua voz naquele tom me deixou completamente arrepiada. Infelizmente ele tinha essa magia, essa coisa que só os rockstars tem, essa pulsão sexual que consegue deixar meninas de 13 a senhoras de 70 completamente malucas, e agora eu tinha todo aquele feitiço só pra mim e confesso que vicia um pouco.

- Estamos em lugar público, Christopher. Agora não. – Ele sorri abertamente, me dá um breve beijo nos lábios enquanto tento me afastar lentamente para me recuperar daquela situação. Pego minha bolsa ao lado do meu corpo e tiro de dentro dela uma câmera polaroid. Chris rapidamente se posiciona, entendendo meu recado e coloca os óculos nos olhos.

Melhor assim. Menos contato visual, menos desejo, menos distração.

- Diga xis. – Falo com um tom animado, disfarçando completamente o furacão que está habitando dentro de mim e tiro uma foto dele. Logo a foto sai e eu começo a sacudi-la enquanto vou na direção dele.

Ele pega a foto da minha mão e olha, já está revelada.

- Por quanto será que dá pra vender isso na internet? – Tiro a foto da mão dele e coloco na minha bolsa num golpe só, apesar da brincadeira dele, que por algum motivo eu acreditava que ele estava falando sério, porque ele era esse tipo de pessoa.

- Não dá, porque é minha. – Ele ri e pega a polaroid da minha mão.

- Então eu quero uma foto sua também. – Chris se afasta e apesar de eu detestar fotos eu não nego o desejo dele, até porque já não dá mais tempo. Tento fazer a melhor posição possível e dou um sorriso para ele, ele adora meus sorrisos.

- Ok, essa não tem valor nenhum na internet então vou guardar pra mim. – Ele diz com um sorriso faceiro enquanto sacode, olha a foto e guarda a foto no bolso da calça, ao lado do seu maço de cigarros.

- Vá se foder, Christopher! – Ele segura meu rosto com as duas mãos e me dá um beijo longo e extremamente agradável. Sua língua está com gosto de cerveja, talvez ele seja o único que beba cerveja num restaurante caro e é por essas pequenas singularidades que eu me pego gostando dele.