Se você for, eu irei com você

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Eu nunca tinha encostado em uma arma. 

Quando peguei em uma, senti um medo desgraçado. Medo de dar errado, de atirar em alguém ou em mim mesmo sem querer. Porém, quando me lembro do meu objetivo, engulo qualquer resquício desse sentimento inoportuno e me recomponho. 

Depois de ver o que houve com Incheon, fui levado para Bangkok, na Tailândia. Um dos únicos lugares que resiste ao Governo Mundial e que ainda possui certa autonomia. Também é sede do centro da rebelião no sudeste asiático e extremo Oriente. Agora, estou em um tipo de alojamento para militares. Assim, eu não virei exatamente um militar, mas sou treinado para mexer em armas de diversos tipos. Não só eu, Kun, Sungchan e Yuta também. O local paramilitar não é nem de perto tão enorme e majestoso do que a Base da Tranquilidade, mesmo infinitamente mais confortável para mim. Apenas um alojamento com várias camas, banheiro comunitário, locais para treino e refeitório. 

Bangkok não é rica como Hong Kong, mas é mais organizada e pacífica do que Incheon. Na verdade, não sei explicar bem como é o dia a dia doa tailandeses, pois não costumo sair muito. Parte porque não entendo nada da língua, parte porque a vontade de levantar da cama tem sido cada vez mais escassa.

Três meses se passaram e eu só estou um pouco mais tranquilo porque Doyoung, certa noite, me mostrou algo que me aliviou imensamente. O nanochip que ele implementou em meu braço também foi implementado em Ten, Johnny e Donghyuck. Em seu tablet, Doyoung acompanha os sinais vitais de cada um e, incrivelmente, os três estão vivos e saudáveis. Presos ou não, estão vivos e isso já me deixa um pouco mais calmo. 

O que não diminui a minha depressão e angústia, principalmente durante a noite. O medo e a tensão de acordar e descobrir que algum deles não está mais vivo me assombram. Essas noites, no entanto, são amparadas por Yuta, o qual não está tão diferente de mim. Ele teme por sua equipe também, principalmente por Winwin. É quando o Sol se põe que nós dois nos juntamos e dormimos juntos, apesar de termos uma cama para cada um nos beliches do alojamento. 

Dormir abraçado a Yuta não significa que ultrapassamos a linha da amizade, nem nos nossos dias mais carentes. Eu realmente o vejo como um irmão e, apesar de termos a mesma idade, aqui em Bangkok, o protejo como se fosse mais novo. O mesmo Nakamoto Yuta descolado, rebelde e conversador retornou a ser o garoto calado e tímido vindo de uma fábrica do Japão. Os cabelos naturais e curtos tomaram o lugar do colorido comprido, o que é bem chocante à primeira vista.

O japonês realmente não estava acostumado com a “liberdade”, mesmo que limitada apenas ao alojamento. Enquanto treinamos, recebemos uma quantia em dinheiro simbólica para gastarmos em qualquer coisa que queiramos. Eu, sinceramente, não usei nada da minha economia, ainda. Porém, Yuta usou o seu primeiro salário de verdade para me dar um porta-retrato de presente “atrasado” de Natal. Fiquei sem jeito, mas acabei aceitando. Ele sabe que eu queria um lugar mais seguro para guardar a minha foto com Ten e o presente veio bem a calhar.

Pensar em Ten me dá um sentimento de falta. Parece que algo está faltando dentro de mim e esse vazio se estende quando me recolho para ficar sozinho, porque sei que não terei a presença do tailandês para me consolar. Não apenas isso, sinto falta de sua voz, dos seus beijos, do seu corpo, do seu carinho, de tudo. Me pergunto se ele sente o mesmo, onde quer que esteja. 

E é a incerteza de onde ele está que me causa ainda mais tristeza. Ao menos, estou com o suéter que Ten me deu. Dou o meu melhor para lavar direitinho e não deixar ninguém puxar um fio para fora do lugar. É como se fosse a única coisa que sobrou de nós dois e tento ao máximo não deixar isso se perder também, porque, ao menos, eu ainda tenho algo que eu possa me lembrar de Ten.

Até que volto a olhar para Yuta. No momento, ele está comigo no centro de treinamento de tiros. Ao contrário de mim, ele tem uma ótima mira, acertando o alvo a metros de distância com certa facilidade. No entanto, não vejo contentamento nenhum em seu rosto. É, não é como se aprender a atirar fosse algo bonito, de qualquer forma. 

O Lado Escuro do Sol - Livro 2 [TAETEN]जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें