CAPÍTULO ÚNICO

16 7 9
                                    

Era uma noite chuvosa e escura quando Laura chegou à casa de sua tia Clara, que havia falecido há uma semana. Ela tinha herdado a velha mansão, que ficava no meio de uma floresta isolada. Laura estava curiosa para conhecer o lugar onde sua tia havia vivido por tantos anos, mas também sentia um arrepio de medo ao se aproximar da porta.

Ela abriu a porta com a chave que o advogado lhe havia entregado e entrou na casa. A primeira coisa que ela notou foi o cheiro de mofo e poeira. A segunda coisa foi a escuridão. Não havia luzes acesas, nem janelas abertas. A casa parecia abandonada há muito tempo.

Laura acendeu uma lanterna que trouxera consigo e começou a explorar a casa. Ela viu uma sala de estar com móveis antigos e quadros na parede, uma cozinha com panelas e pratos empoeirados, um banheiro com uma banheira enferrujada e um espelho rachado. Ela subiu as escadas e encontrou três quartos, um deles trancado. Ela tentou abrir a porta, mas estava emperrada.

Ela se perguntou o que havia naquele quarto e por que sua tia o mantinha trancado. Ela lembrou que o advogado lhe dissera que havia um sótão na casa, mas que ela não deveria subir lá. Ele não explicou o motivo, apenas disse que era uma recomendação da própria tia Clara, que deixara uma carta para Laura.

Laura decidiu procurar a carta e ver se ela continha alguma pista sobre o quarto trancado e o sótão. Ela desceu as escadas e foi até a biblioteca, onde o advogado disse que a carta estava. Ela abriu a porta e entrou na sala cheia de livros. Ela viu uma mesa com uma pilha de papéis e uma caixa. Ela pegou a caixa e abriu. Dentro, havia uma carta com seu nome.

Laura pegou a carta e começou a ler. Era a letra de sua tia Clara, mas estava tremida e borrada. A carta dizia:

"Querida Laura,

Se você está lendo esta carta, significa que eu já não estou mais neste mundo. Eu lhe deixo esta casa como herança, mas também como um aviso. Esta casa guarda um terrível segredo, um segredo que me atormentou por toda a minha vida e que pode colocar a sua em perigo.

Há algo no sótão, algo maligno e poderoso, que se alimenta do medo e da dor. Eu nunca soube o que era, nem como chegou lá, mas sei que é a fonte de todos os males que aconteceram nesta casa. Eu tentei me livrar dele, mas não consegui. Ele é forte demais.

Eu nunca subi no sótão, mas ele sabia que eu estava aqui. Ele me assombrava com sons, vozes, visões, pesadelos. Ele me fazia ver coisas horríveis, coisas que eu não quero lembrar. Ele me fazia ouvir gritos, sussurros, risadas. Ele me fazia sentir dor, frio, medo. Ele me torturava de todas as formas possíveis.

Eu tentei resistir, mas ele me quebrou. Ele me deixou louca, fraca, doente. Ele me consumiu por dentro, até que eu não tivesse mais vontade de viver. Ele me matou aos poucos, e eu sei que ele fará o mesmo com você, se você der a ele a chance.

Por isso, eu lhe peço, por tudo o que você ama, nunca suba essas escadas. Nunca entre no sótão. Nunca tente descobrir o que ele é, ou o que ele quer. Ele não tem piedade, nem razão. Ele só quer destruir, e ele não vai parar até conseguir.

Eu sinto muito por lhe deixar este fardo, mas eu não tinha outra escolha. Eu espero que você me perdoe, e que você seja feliz longe desta casa. Eu te amo, minha sobrinha, e eu rezo por você.

Sua tia Clara."

Laura terminou de ler a carta e sentiu um calafrio na espinha. Ela não sabia se acreditava no que sua tia havia escrito, ou se era apenas o delírio de uma mente perturbada. Mas ela sentiu uma estranha sensação de que havia algo de errado naquela casa, algo que a observava e a esperava.

Ela olhou para a escada que levava ao sótão e sentiu uma curiosidade irresistível. Ela queria saber o que havia lá em cima, o que era o segredo de sua tia, o que era o mal que a assombrava. Ela pensou que talvez fosse apenas uma lenda, ou uma brincadeira, ou uma coincidência. Ela pensou que talvez não houvesse nada no sótão, ou que fosse algo inofensivo, ou que ela pudesse enfrentar.

Ela decidiu subir as escadas e ver com seus próprios olhos.

Foi o maior erro de sua vida.

Laura subiu as escadas que levavam ao sótão, ignorando o aviso de sua tia. Ela achou que era apenas uma história para assustá-la, ou uma forma de esconder algum segredo de família. Ela queria descobrir a verdade, e não tinha medo do que pudesse encontrar.

Ela chegou ao final da escada e viu uma porta de madeira com uma fechadura enferrujada. Ela tentou abrir a porta, mas estava trancada. Ela procurou pela chave, mas não a encontrou. Ela se lembrou de que havia uma caixa na biblioteca, onde estava a carta de sua tia. Talvez a chave estivesse lá.

Ela desceu as escadas e voltou à biblioteca. Ela pegou a caixa e a abriu. Dentro, havia uma chave de metal com um pingente em forma de caveira. Ela pegou a chave e sentiu um frio na mão. Ela achou estranho, mas não se importou. Ela subiu as escadas novamente e foi até a porta do sótão.

Ela colocou a chave na fechadura e girou. A porta se abriu com um rangido. Ela empurrou a porta e entrou no sótão. Ela acendeu a lanterna e olhou em volta.

O sótão era um espaço amplo e vazio, com vigas de madeira e telhas quebradas. Havia teias de aranha por toda parte, e um cheiro de mofo e podridão. Não havia móveis, nem objetos, nem nada que indicasse que alguém usava aquele lugar. Apenas uma coisa chamou a atenção de Laura: um espelho grande e oval, que ficava no centro do sótão, apoiado em um cavalete.

Laura se aproximou do espelho e se olhou nele. Ela viu seu reflexo, mas também viu algo mais. Ela viu uma sombra atrás dela, uma sombra negra e sem forma, que se movia lentamente. Ela se virou, mas não havia nada atrás dela. Ela olhou de novo para o espelho, e a sombra estava lá, mais perto.

Laura sentiu um calafrio e um medo inexplicável. Ela pensou em sair do sótão, mas algo a impedia. Ela sentia uma atração pelo espelho, uma curiosidade mórbida. Ela queria saber o que era aquela sombra, o que ela queria, o que ela era.

Ela se aproximou mais do espelho, e a sombra também. Ela estendeu a mão para tocar o espelho, e a sombra fez o mesmo. Ela tocou o espelho, e sentiu um choque. Ela tentou se afastar, mas não conseguiu. Ela estava presa ao espelho, como se fosse um ímã.

Ela olhou para o espelho, e viu a sombra se transformar. Ela viu um rosto, um rosto horrível e deformado, com olhos vermelhos e dentes afiados. Ela viu o rosto de sua tia Clara, mas não era ela. Era algo pior, algo maligno, algo que usava sua aparência para enganá-la.

Ela ouviu uma voz, uma voz que vinha do espelho, uma voz que era um sussurro e um grito ao mesmo tempo. Uma voz que dizia:

"Bem-vinda ao meu inferno, Laura. Eu estava esperando por você. Eu sou o que você procura, o que você teme, o que você é. Eu sou o mal que vive nesta casa, o mal que matou sua tia, o mal que vai matar você. Eu sou o espelho, e você é o meu reflexo."

Laura gritou, mas ninguém a ouviu. Ela chorou, mas ninguém a ajudou. Ela lutou, mas ninguém a salvou. Ela foi arrastada para dentro do espelho, para dentro do inferno, para dentro do mal.

Ela nunca mais saiu de lá.

NUNCA SUBA ESSAS ESCADASحيث تعيش القصص. اكتشف الآن