9. Sofrimento adora companhia

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— Allyson — Um homem se aproxima de mim enquanto nos dirigimos para o túmulo.

Meus pais ficaram para trás, me dando o tempo que eu precisava para ficar sozinha. Eu aceno com a cabeça, cumprimentando um desconhecido pela milésima vez. Mas quando seus olhos azuis encontraram os meus, eu arfei.

— É o homem do meu sonho.

— Meu nome é Peter Blake, é um prazer finalmente conhecer você.

— Você é meu pai — Engulo em seco — Você realmente não morreu. Até hoje eu achava que o que eu tinha ouvido na floresta era coisa da minha cabeça.

— Ah, Ally, não sabe o quanto é bom ouvir essa palavra.

— Mas... o que está fazendo aqui? O que... Como...? — Olho para trás, para saber se meus verdadeiros pais estavam cientes do que estava acontecendo, mas eles estavam conversando com Hazel.

— Eu sei que parece confuso agora — Ele sussurra, mas eu ainda estou de boca aberta — Mas eu posso te ajudar, posso te ajudar a encontrar quem fez isso, e juntos podemos...

— Saia daqui — Consigo dizer baixinho, escondendo dos outros a raiva das minhas palavras.

— Mas eu posso mesmo te ajudar.

— O amor da minha vida acabou de morrer, tenha um pouco de compaixão e me deixe chorar em paz.

Depois de um momento Peter assente, percebendo o que está fazendo de errado, a dor que está me fazendo passar. Mas ele coloca um pedaço de papel em minha mão e segue seu caminho contrário aos outros. Eu o perco no meio da multidão, e os braços de Hazel me encontram, prontos para me guiar para mais uma onda de choro.

Quando estou mais livre eu abro o bilhete, nele está um endereço que não reconheço com a seguinte frase: Juntos podemos detê-los. Sorrateiramente, dobro o papel e o coloco no bolso do meu vestido, prometendo a mim mesma que pensaria no assunto mais tarde.

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— Se quiser conversar, estamos aqui, ok? — Papai diz com a mão em meu ombro e faço que sim com a cabeça. Ele dá um mínimo sorriso e sobe as escadas afrouxando a gravata. Mamãe se senta ao meu lado no sofá e coloca chá para nós duas. Abraço minhas pernas.

— Eu devia ser capaz de impedir, mãe, foi pra isso que eu nasci assim né, pra ajudar as pessoas, pra acabar com essa guerra, então por que...? Meu Deus, eu devia ter sido melhor.

— Seu avô costumava falar uma coisa sobre a palavra "devia". Sabe o que acontece quando se diz devia com frequência? Acaba devendo a si mesmo — Sorrio e balanço a cabeça, apertando ainda mais as pernas contra meu peito, ansiando que o gesto sufocasse a dor no meu coração — Eu sei que não consigo ser a mãe que pede pra você não fazer nada a respeito, porque você sempre vai se envolver, eu sinto isso. Não só porque tem o poder pra isso, mas porque se importa o bastante com as pessoas a sua volta pra se envolver sim, pra lutar. Então o que tem que se perguntar é: O que eu vou fazer?

— Eu vou descobrir quem fez isso — Levanto o olhar para minha mãe e ela pega minha mão, apertando em um gesto de carinho — E eu vou deter eles, nem que seja a última coisa que eu faça.

A escola nos deu um dia de luto, mas tenho que voltar no dia seguinte, sustentando olhares de todos quando passo pelo corredor. Eu sabia que estava com os olhos inchados, mas não consegui me preocupar em cobrir com maquiagem, não consegui me preocupar com nada, na verdade.

Me sentei com Adam no intervalo de novo, não queria pensar em encarar minha mesa e perceber que tinha um lugar vazio, não queria encarar meus amigos mórbidos, sem nenhum ânimo.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now