Parte 1 - A Decisão do General

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Os capitães sangravam. 

Ajoelhados diante do comandante, os dois esperavam sem dizer uma palavra sequer. Uma mistura de medo e vergonha flutuava no olhar de Ukitake, mesmo sabendo que não receberia punição maior do que a derrota já sofrida. Kyouraku, por sua vez, parecia ansioso — queria ver a reação do general.

Uma corrente de vento abriu caminho pelos pilares e, por um breve momento, o símbolo da primeira divisão tremulou sobre o fundo branco das vestes de Yamamoto, até que enfim ele se virou para encarar os ex-alunos. Apesar de pequenos e estreitos, seus olhos julgavam o mundo com firmeza absoluta. Seu semblante era austero, a postura de um verdadeiro líder.

— O que aconteceu com Ginrei? — perguntou o capitão da primeira divisão, sem se sensibilizar com os ferimentos dos subordinados. A pergunta era simples e direta, a voz tinha um tom ríspido e ameaçador, como um golpe limpo de espada.

— Foi feito refém — respondeu Kyouraku, uma gota de sangue escorria da testa e pingava da sobrancelha.

— Então expliquem como vocês estão aqui, diante de mim, se nem mesmo Ginrei foi capaz de fazer frente aos inimigos.

Os jovens capitães arregalaram os olhos. Ukitake instintivamente baixou a cabeça e fitou o chão. Pensaram em uma resposta, mas, antes que se pronunciassem, foram abordados novamente.

— Quantos eles eram?

— Sete — respondeu Ukitake, os fios de seus cabelos alvos esvoaçaram na frente do rosto. O vento parecia ter vida própria naquele dia, e corria livre pela Soul Society, assoviando e soprando frio. — Todos eram...

— Vasto Lordes — completou o amigo, forjando uma voz segura e intrépida, embora a expressão em sua face revelasse que não estava assim tão confiante.

— Vocês tem certeza de que eram mesmo Vasto Lordes? — Yamamoto perguntou, suas palavras eram comuns, mesmo assim, duras como pedra. Apesar da baixa estatura, o general parecia um gigante, era impossível encará-lo nos olhos por muito tempo.

— Sim — os dois responderam ao mesmo tempo.

— E quantos sobraram?

— Juntos, matamos dois — Kyouraku explicou, a dor o incomodava, a voz soava cansada. — Ginrei-san havia matado outro...

— Não imaginávamos que haveria tantos — Ukitake admitiu. — O líder deles chegou acompanhado de seus subordinados. Queríamos ter continuado em batalha, mas Ginrei-san forçou-nos a retroagir. Com uma sequência de kidous, ganhou tempo suficiente para que nós escapássemos. Pedimos perdão, não se abandona um companheiro...

— Tolos! — o comandante rugiu como um trovão. Pela primeira vez, Yamamoto realmente parecia irritado. — Queria ter permanecido lá, para morrer? Então sinta-se livre para voltar — ao perceber o quão abatido o ex-aluno estava, o general resolveu relevar, afinal, não podia culpá-lo por toda aquela situação. — Não chore os sacrifícios de seus companheiros. Valorize-os — era o máximo de gentileza que ele conseguia demonstrar, e mesmo para isso precisava esforçar-se. Os dois capitães ainda eram jovens e tinham muito a aprender. O simples fato de terem enfrentado Vasto Lordes e escapado com vida já era algo digno de admiração. Com certeza os dois se tornariam capitães exemplares no futuro. Yamamoto sabia disso, enxergava em Kyouraku o potencial para um grande líder, embora ele fosse muito preguiçoso. E Ukitake, apesar de sua doença, era, na verdade, o escolhido para suportar um fardo capaz de redimir qualquer pecado, pois em seu corpo residia um poder inigualável, e seus cabelos brancos eram uma prova do quanto ele era benigno e honrado. Aqueles dois eram, indubitavelmente, os seus preferidos. Ex-alunos, mas aprendizes eternos de um líder que os amava como um pai e, por isso, era tão exigente e zeloso para com eles.

Sasakibe, o leal tenente que observara a tudo sem pronunciar-se, aproximou-se do general.

— Devo chamar os outros capitães?

— Não — a resposta veio de imediato, Yamamoto já sabia o que fazer.

— Você ficará aqui, manterá as coisas em ordem enquanto eu estiver fora — ordenou. Olhou para os outros dois, pingando sangue e suor. — Seus ferimentos parecem graves, procurem o Demônio das Fontes Termais, para uma revitalização completa — aproximou-se deles, fez um sinal com a mão para que ambos se levantassem. —Se Ginrei não está morto, eu irei resgatá-lo.

— E se for uma armadilha? — perguntou Ukitake, deixando escapar uma tossida ensanguentada, tendo que pôr a mão sobre a boca para evitar de sujar o general com seu sangue. Kyouraku passou o braço sobre seus ombros e o segurou, ajudando o amigo a permanecer de pé.

— É claro que é uma armadilha — respondeu Yamamoto, categórico. — Mas faz tempo que minha Ryujin Jakka não queima alguma coisa, além do mais — olhou para trás, Sasakibe parecia apreensivo —, há uma besta que eu tenho que libertar, e ela precisa matar de vez em quando.



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