E pelo que pude perceber, ele escolheu o nada. Meu nada.


Por isso me afastei. O dia da festa dele foi o suficiente para que eu notasse o quão estupida eu estava sendo ao me rebaixar daquela forma. Única vez que havia brigado foi na segunda série. Quando uma garota pegou o meu lápis de colorir sem minha permissão. Fiquei tão irritada que a xinguei (palavrão ao nível da idade, é claro) e então ela puxou meu cabelo.


Desde então aprendi a controlar minha raiva. Até que, sob o efeito de alguma coisa, ela se libertou da prisão e foi movida pela paixão sufocada e ira pela Cecilia. O final, eu prefiro não lembrar.


Agora tudo que tenho pensado é em terminar esse ano e poder voltar para São Paulo. A essa altura minha "carreira" (termo mais usado pela Vanessa para os pequenos trabalhos que eu faço) anda do mesmo jeito. Uma pequena campanha aqui e outra ali. Confesso que agradeço muito a Vanessa por me inserir nesse mundo. Vejo-me cada dia mais apaixonada por tudo isso. Sempre achei que carreira de modelo fosse a coisa mais fácil e fútil do mundo. Até entrar nesse mundo e me surpreender.


É preciso dedicação total e muitas vezes pode ser extremamente cruel. Ao ver uma foto tudo parece natural, prece que a modelo apenas parou ali em frente a câmera e fez aquele carão, mal se sabe quantas fotos foram necessárias para chegar naquela ali. Quantas poses foram feitas. Quantas vezes mudaram as luzes. Quantas vezes o fotógrafo teve que se ajustar.


Mas, apesar de admirar muito esse trabalho, ainda não tenho certeza se é isso que eu realmente quero para mim. Está certo que todos me apoiam (tirando meu pai, que ainda tem o sonho de que eu faça medicina/direito/engenharia), e que o trabalho de modelo é incrível, principalmente a parte de viajar e conhecer diversas pessoas. Mas não sei se eu me enquadro nesse perfil, até seis meses atrás nem imaginava que era possível eu ser modelo, justo eu, desengonçada e baixinha. Nunca havia me imaginado nisso, e ser jogada assim, parece, no mínimo, assustador.


- Já estava na hora né Rebeca! - A Vanessa se levanta assim que entro na sala, ela está com a mão no relógio e pela sua roupa percebo que devo ter esquecido alguma coisa. Faço uma careta e ela me olha com reprovação, seguido de um suspiro de decepção. - Você esqueceu, não foi? Eu te avisei tantas vezes!


- Algum jantar? - Pergunto e ela nega com a cabeça. - Reunião? - Novamente um aceno de reprovação. - Ensaio? - Mais um balançar de cabeças. Solto um suspiro frustrado. Minha memoria anda realmente muito ruim... AI MEU DEUS! - O aniversário do papai!


Sabe quando aquela pequena luz acende em sua cabeça e tudo parece acender junto? Foi exatamente assim, uma pequena que essa luz não trouxe uma ideia maravilhosa e que ela tenha acendido tão tarde.


- Não acredito que você esqueceu Becky! A festa é em uma hora e você ainda está parada aqui na minha frente com essa cara de arrependida. E pode ir correndo para o banheiro que ficar com cara de cachorro que acabou de comer as cortinas não vai adiantar nada. - A Vanessa tenta continuar brava, mas posso ver seus lábios se contorcendo em um pequeno sorriso.


Corro para o banheiro e algum minuto depois já estou com o cabelo arrumado (de um jeito louco, afinal ele ainda está um pouco molhado, a maior vantagem de estar com cabelo curto) e a maquiagem feita. A Vanessa escolheu a roupa enquanto eu estava no banho e o vestido preto fez um contrate perfeito com a maquiagem. De uns tempos para cá tenho me acostumado cada vez mais a usar maquiagem, roupas apertadas e saltos. Às vezes, até mesmo consigo me sentir confortável assim!

Just a Year - (COMPLETA)Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα