ANTI - HERÓI

Ato I - Arquivos da Heroína - Nota N°1

É difícil me adaptar a um ambiente tão caótico quanto ao grêmio estudantil. Eu sempre sonhei que era um lugar de ordem, disciplina e pessoas sempre compromissadas com as leis e regras. 

Mas no fim, eu não podia estar mais enganada! O presidente Miyuki até é dedicado, mas adora fazer vista grossa para as transgressões dos membros do conselho. A vice-presidente, Kaguya Shinomiya, sempre me passa a impressão de ser tão promíscua e maléfica. Esses dois realmente merecem. 

O membro mais exemplar, obviamente, é a Chika Fagundes, a secretária do concelho. Sua excelência e elegância a faziam digna de um cidadão extremamente exemplar. 

Ela é nossa última esperança política de um Brasil melhor, eu tenho certeza que ela é o verdadeiro messias! 

E, por último, e com certeza, menos importante, tem o Ícaro Ishigami. De todos os loucos que habitam no concelho, ele com certeza é o pior de todos! Eu não tenho paciência com o jeito que ele me trata, ele é grosso, prepotente e, ainda por cima, não leva seu trabalho nem um pouco a sério. Toda a vez que ele pega o celular e fica jogando freefire dentro dos arredores do colégio, eu tenho a total convicção de que ele só está querendo me provocar. 

De todas as pessoas do mundo, porque ele tem que ser o tesoureiro? Por que meu trabalho depende deste imbecil? 

-Ei! Você devia prestar mais atenção por onde anda, escaladora de meio fio!

Falando no diabo…

-Vê se me erra Ícaro! - levantando os olhos de minha prancheta, eu pude notar que estava cometendo mais uma de suas infrações, como de costume. 

Ele faz isso só pra me provocar! não é possível e nem cabível um negócio desses!

-Eu já sei o que está planejando, e já digo que eu preciso treinar, pois o campeonato é neste final de semana e tá valendo uma boa grana-

-É pela equipe de eSports do colégio? - Notei uma gota de suor caindo de sua testa com uma simples pergunta. Aos poucos eu percebi que ele estava virando seu quadril em direção da porta, se preparando para fuga. Infelizmente, eu fui mais rápida. Agarrei a manga daquele desgraçado e lhe tomei o smartphone. O desespero no jeito em que tentava agarrar minha blusa era simplesmente hilário. 

-Você está sendo muito babaca agora, me devolve meu celular! 

-Eu vou levá-lo à sala do orientador e daí você pode se resolver com ele! Eu só estou fazendo o meu trabalho. A culpa não é minha se você é incapaz de obedecer às regras! - Para a minha infelicidade, ele me segurava pela blusa, impedindo a minha locomoção.

Eu ainda vou quebrar a cara desse otaku fudido!

-Quantas vezes a gente já não fez essa cena? - a questão imposta pelo emo arrancou-me um suspiro cansado. De fato, aquilo já estava perdurando entre nós há um bom tempo. 

Será que é possível ser mais flexível? 

-Sendo honesta com você, eu parei de contar a muito tempo - Tomei coragem novamente para encontrar com os olhos deles, dessa vez, em uma postura completamente defensiva - Sabe, essa idiotice é consequência da sua falta de consideração pelo meu trabalho. Talvez, se você respeitasse um pouco mais as regras, eu poderia ser um pouco mais gentil - Admito que tive que desviar meu olhar enquanto minhas bochechas queimavam um pouco - Porque não fazemos assim: você não joga no período escolar e eu paro de encher o seu saco? É uma boa proposta, não? 

-Nem fudendo. Eu preciso chegar no desafiante logo pra eu entrar num time de verdade - Ele deu de ombros sem qualquer hesitação. 

E pensar que eu tentei dialogar com esse verme!