Primeiros Encontros

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           Ailwyn suspirou e cruzou o portal, chegando ao mundo humano pelo que ele esperava que fosse a última vez nesse dia. Ele recitou mentalmente sua lista de compras e saiu em direção à taverna local, esperando que encontrasse tudo e não precisasse passar em outro local da cidade, seu dia já teve muitas paradas desnecessárias.
           O  feiticeiro entrou na taverna, e andou até o balcão torcendo para ter somente uma interação rápida com a garçonete e poder voltar pra casa. Se sentou em uma cadeira e bagunçou seus cabelos roxos, em um hábito nervoso que desenvolveu durante sua infância. Ele abaixou sua cabeça, sem perceber que estava sendo observado por um garoto loiro na outra ponta do balcão
          - Greene? - Ailwyn se virou ao ouvir seu nome, percebendo que a garçonete atrás do balcão o observava com um olhar impaciente.
         - Hm?
         - Você é Ailwyn Greene, certo? Que encomendou as ervas e a mistura pra chá?
        - Sim, esse sou eu, tem tudo que eu pedi?
        - Bom, quase tudo. O fornecedor não tinha alecrim e arruda, mas isso você deve conseguir em qualquer loja da feira. - A esse ponto estava óbvio que a moça queria acabar essa transação e ir para casa - Você deveria tentar amanhã.
         - Vou manter esse conselho em mente. - O feiticeiro pausou por alguns segundos, que em sua cabeça pareceram uma eternidade. - Você tem chá de lavanda?
         A morena em sua frente deu um suspiro, deixando seu cansaço ainda mais aparente.
        - Tenho sim.
        - Pode me trazer uma xícara, por favor?
        - Claro. - Com um sorriso falso em seus lábios a moça foi até o fogão ao fundo do balcão, pôs uma chaleira no fogo e colocou algumas folhas e flores numa xícara.
        Ailwyn puxou um pedaço de pergaminho e um kit de escrita de sua bolsa, para anotar os ítens que não conseguiu comprar, em uma tentativa de evitar que os esquecesse, de novo não percebendo o menino loiro, que agora estava em pé ao seu lado. Percebendo uma sombra em seu papel, o bruxo se virou, encarando o outro, que retribuiu o olhar sem dizer nada.
Se passaram segundos antes que o loiro falasse alguma coisa
        - Você já veio aqui antes? Eu sou cliente dessa taverna há muito tempo e nunca te vi...
       - Eu tento não passar aqui mais de uma vez por mês, e nunca vim tão tarde, mas por algum motivo minha encomenda atrasou dessa vez. E você, por que está bebendo sozinho?
Nesse momento a garçonete apareceu, segurando uma bandeja com uma xícara, um bule e um pote com mel.
      - Ainda vai querer o chá?
      - Ah, sim, obrigado. - Ailwyn deu um sorriso, e a garçonete se afastou murmurando.
      - Menino estranho
O menino de cabelos roxos voltou seu foco para o loiro
      - E então?
      - Então o que?
      - Você não respondeu minha pergunta.
      - Ah, sim, claro. Eu vim com um amigo, mas ele ficou bêbado e teve que sair antes, o desgraçado.
      - Faz sentido - O bruxo riu e olhou para sua bebida - Eu posso te fazer companhia, se você quiser.
       O outro garoto se sentou. -Isso seria ótimo.
       - Meu nome é Ailwyn, e você é..?
       - Leif.
       - Seria muita indelicadeza se eu te perguntasse que tipo de criatura você é?
       - A-ah, não - O loiro olhou para baixo - Mas você tem que prometer que não vai me olhar estranho nem rir.
       Ailwyn sorriu. -Não vou te olhar estranho, mas não posso prometer nada quanto as risadas.
        - B-bom, eu... eusouumasereia - O loiro parecia envergonhado, e o bruxo podia jurar que viu a ponta de suas orelhas corarem.
        - Oh! Uma sereia? Nunca conheci uma antes. Eu sou humano, mas estudo bruxaria dês da minha infância.
        - Um bruxo, hm? Ser seu amigo pode ter utilidade depois - Leif brincou, se sentindo mais confiante depois de ouvir a risada do menino ao seu lado
        - Eu digo o mesmo, Sereiazinha.
        A conversa fluiu facilmente, Ailwyn se sentiu à vontade com o outro, mesmo só o conhecendo por poucos minutos. Ele pensou que a garçonete poderia ter colocado algo em seu chá. O bruxo não percebeu a passagem do tempo e se espantou quando olhou seu relógio de bolso e percebeu que já passava de meia-noite.
        - Meus Deuses. Meus Deuses. Tá muito tarde, eu não dei comida pro meu gato, vai ser praticamente impossível achar o caminho pro portal nesse escuro e eu ainda tenho que separar esses ingredientes quando chegar em casa e- A fala do menino de cabelos roxos era rápida e embolada, beirando o pânico, sua mente corria.
         - Calma, calma, calma. Pra que esse desespero?
         - Eu tenho que ir.
         Jogando um saquinho de moedas no balcão, Ailwyn se levantou, ajeitando seu capuz e deixando o local em seguida. Encontrar o caminho que levava à sua casa seria um desafio.

         Depois de muito tempo cambaleando pela escuridão e tateando a procura de um caminho familiar, Ailwyn encontrou a estrada que levava a seu chalé no pântano, e finalmente conseguiu se acalmar de verdade. Sua calma foi interrompida pelo pensamento da reação de Abraham à sua chegada. Aquele gato era praticamente um demônio quando estava cansado e com fome. O feiticeiro suspirou e andou os passos que faltavam para chegar em sua porta.
        - Abraham, chegue- Sua frase foi interrompida pela bola de pelos laranja que se jogou em seu colo, miando de forma impaciente.
        - Calma, gato do capeta. Eu cheguei, agora sai do meu colo pra eu encher sua tigela de comida.
        O gatinho pulou dos braços de seu dono e andou até o potinho de metal ao lado do balcão da cozinha, ainda miando.
         - Ou você para ou eu te transformo numa cabra e te vendo no mercado, demônio - Ailwyn disse enquanto andava em direção ao pote onde guardava a comida de seu gato.
        O menino encheu o pote de ração e abaixou para fazer carinho no animal a seu lado.
        - Abraham, eu acho que me apaixonei de novo.
        Com mais um miado irritado, o gato começou a comer, ignorando seu dono completamente.

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