Os batimentos cardíacos de Kara aceleraram, a ansiedade para descobrir algo sobre Lena estava lhe consumindo. Entrou no local e não conseguiu segurar as lágrimas, tudo estava destruído, não havia nada ali que lhe dissesse algo sobre a família que ali morou. No canto, perto de um amontoado de lixo, havia o porta retrato que tanto Kara amava, ele ficava exposto logo na entrada do apartamento para que todos que chegassem soubessem o quanto eles eram felizes. Agora, a foto estava riscada e corroída pelo tempo. Kara deslizou seu dedo pelo rosto de Lena e Kaled na imagem, chorou baixinho, sentindo-se culpada por tudo.

–Kara?–A voz baixa chamou a atenção da loira nua na sala de estar. Kara estava prestes a usar sua visão de calor para despistar quem fosse, até reconhecer a mulher ali presente.

–Sam?–Sussurrou, feliz ao ver a amiga. Correu para abraçá-la, sentindo um pouco de sua dor se dissipar.

–Você não sabe o quanto eu desejei esse abraço! Quando vi o noticiário, vim correndo pra cá.–Disse com dificuldade, devido ao choro.

–Sam, o que aconteceu?  Como você está? Cadê a Lena? E os meus filhos?–Kara bombardeou a mulher com perguntas.

–Eu vou responder todas as suas perguntas mas, primeiro, você precisa vestir algo.–Avisou, se afastou para vasculhar uma bolsa, que Kara nem havia percebido que estava ali com ela.–Toma!–Tirou de lá uma calça moletom e uma camisa. Kara agradeceu e vestiu-se rapidamente.

Sam se afastou, não queria que Kara lhe encarasse quando soubesse de tudo. Encarou o burraco na parede, que dava a visão para a cidade. Engoliu a seco, não continuaria prorrogando mais aquele sofrimento.

–Consigo ouvir seus batimentos cardiacos.–Kara alertou antes de se aproximar de Sam e segurar em seu braço.–Onde está a Alex?–Engoliu a seco, suas lágrimas escorriam livres em seu rosto.

–A-Alex... –Tossiu antes de continuar, se recompondo.–... –Quando você não respondeu aos tratamentos, devido aos ferimentos, ela ficou apavorada, se sentia culpa e acabou depressiva.–Engoliu a seco.–Salvar o mundo não significou mais nada, já que ela não podia salvar a própria irmã. A bebida foi apenas o começo, logo vieram as drogas. Faz pouco tempo que ela entrou em uma clínica de reabilitação.

Kara fechou os olhos, nem sua super força estava lhe ajudando naquele momento. A culpa sobre seus ombros era pesada demais, seu coração doía de uma forma inexplicável. As lágrimas agora eram incontroláveis. Tinha medo de descobrir mais sobre tudo o que aconteceu e isso lhe ferir, mais do que já estava ferida.

–Eu só peço que você tenha forças, Kara.–Sam segurou ela pelos ombros, sentindo pena do estado da amiga.

–Cadê o Kaled?–Sussurrou em meio a soluços.

–Kaled está bem. Ele só está longe…Em Marte.–Sam sorriu lembrando do garoto.

–Marte? Como isso... ?–Kara deixou sua pergunta no ar, estava, de certa forma, feliz pelo filho.–Eu quero vê-lo! Assim como meus filhos, que eu ainda não conheço.–Um pingo de esperança nasceu dentro de Kara mas se desesperou ao ver a expressão de pesar de Sam.–Onde eles estão?

–O governo levou suas filhas.–A emoção de descobrir que era mãe de meninas foi pisoteada pela raiva em saber que o governo havia lhe roubado esse momento.–Isso foi demais para Alex aguentar, ver as sobrinhas sendo testadas como animais, era cruel.–Sam encarou o chão, lembrando das cenas horríveis em que presenciou.–Estou lutando para salvá-las, mas muita coisa mudou, principalmente a forma de governar e tudo que é de fora não é mais bem-vindo.

–Malditos! Eu vou atrás de cada um que fez minhas filhas sofrerem!–Kara cerrou os punhos sentindo a raiva tomar conta de si. Sua respiração estava alterada, queria enfiar seu punho em algo mas limitou-se a morder seu lábio, precisava saber onde estava Lena.–Sam... –Engoliu a seco, sua garganta doeu como se acabasse de engolir pregos. Sam estava lutando para não chorar pois sabia que se fizesse isso, não conseguiria parar. Fazia muito tempo em que ela não se permitia chorar, estava cansada de lamentar e resolveu agir, mesmo com todas as limitações.

–Sabe, a Alex fez o parto da suas filhas!–Sorriu, pela primeira vez.–Ela me disse que foi o momento mais difícil para ela, nem capturar o mais perigoso extraterrestre superou.–Fechou os olhos e seu sorriso foi morrendo aos poucos.–... A Lena perdeu muito sangue, fiquei assustada quando entrei no escritório dela e vi a cena... 

–Sam!–Kara implorou, seu coração estava em pedaços, suas forças haviam lhe abandonado. Estava mais vulnerável agora do que quando levou um tiro de kryptonita.

–A Lena morreu horas depois de dar entrada no hospital.–Sam finalizou.

Kara rendeu-se, caindo de joelhos ali, fraca e destruída. Era como se parte de si tivesse lhe deixado pra sempre. O amor da sua vida não estava mais presente, a razão para sua existência havia partido, para sempre! 

 Descontrolou-se assim que imaginou Lena sofrendo sozinha em um hospital, sua dor foi expressada através dos gritos e gemidos dela. Seus punhos cerrados chocavam-se contra o chão, Sam precisou correr para fora do prédio antes que tudo desmoronasse em cima de Kara. Era exatamente daquela forma que ela se sentia, seu mundo inteiro havia desabado sobre seus ombros e apenas ela era a responsável.

Após horas ali, lutando contra sua dor, Kara levantou. Seu corpo doía como nunca, se sentia incapaz, frágil... derrotada! Foi fácil para os agentes acertarem seu peito com um tranquilizante, Kara gemeu antes de cair desacordada.

–Encontramos ela, senhor!–Um dos agentes do governo anunciou em seu comunicador.

 

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