Capítulo 46

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Enquanto os meus dedos apertam delicadamente cada tecla de letras em meu notebook, sinto um arrepio dentro de mim me alertando que cada vez mais eu estava perto da minha auto afirmação.

Eu passei semanas sem conseguir pensar em nada pra escrever, como se tivesse um bloqueio em minha mente que me impedia de colocar as minhas ideias em práticas. Parece que os últimos acontecimentos foram as chaves que eu precisava pra continuar e lá estava eu escrevendo.

Meus amigos decidiram sair aquele dia pela cidade, então eu os levei para a cachoeira que eu sempre vinha com a minha irmã quando éramos crianças.

Eles parecem gostar, Gustavo não saia da água fria que caia, enquanto Isabella estava sentada em uma das pedras apenas molhando os pés e André acariciava a sua barriga dentro da água, enquanto eu os observava de longe.

Eles tentaram me convencer a entrar, mas eu fui bem incesiva ao dizer não. Rio só de pensar que provavelmente Danilo já teria me feito cair sobre aquelas águas.

Ele foi embora ontem de manhã, e numa despedida calorosa, o nosso abraço pareceu durar horas pra mim, parecia que nenhum dos dois queriam se afastar e depois de todas as palavras ditas o que deixou tudo ainda mais confuso parecia que aquilo era mais do que uma despedida.

– Vim saber se está tudo bem com você – André diz o que me faz levar um susto por estar totalmente aérea.

– Estou sim, tenho que aproveitar esse momento de luz que se acendeu na minha mente.

– É só isso mesmo? – Ele pergunta olhando em meus olhos e eu apenas rio por não conseguir sustentar a mentira.

– Eu penso o tempo todo no Danilo, e sinceramente eu não me arrependo e tudo bem que eu não me arrependo.

– Você não precisa se culpar por isso – André me confortou. – Seria hipocrisia da minha parte se eu falasse isso pra você, talvez você passe tempo demais se pergunto se as suas atitudes em relação a ele são certas ou erradas.

– A minha vontade era pedir pra ele ficar, mas eu não posso prender ele aqui se vamos continuar andando em círculos. É um pensamento egoísta da minha parte.

– Relaxa Paola, tudo sempre fica no seu devido lugar. – André me abraça e por fim delicadamente beija a minha testa.

Largo o meu computador na intenção de ler um pouco mais do diário da minha vó que desde de quando eu comecei eu não consigo parar.

Eu acho graça só de pensar que todo esse tempo vovó escondeu esse segredo da gente e só de pensar nesse presente que ela deixou pra mim me deixa cada vez mais emocionada. Talvez fosse a alternativa que ela achou para que eu não sentisse tanto a sua falta ou estivesse perto dela e da cada pensamento que ela teve.

Eu fiquei feliz de saber como ela e vovô haviam se conhecido, a cada palavra que ela descrevia desse amor genuíno dos dois me fez entender que a cada troca de olhares, cada sorriso, cada aperto de mão valeu a pena no fim. Eles demoram pra se falar finalmente, minha vó diz que foram três meses o olhando de longe por serem vizinhos, ela deu o primeiro passo o chamou pra tomar um café, aonde ela conta que queimou todos os biscoitos que ela havia preparado por ter ficado nervosa, suas bochechas ficaram vermelha, meu avô comeu mesmo assim e mentiu dizendo que era os melhores que ele já havia provado.

O primeiro beijo só veio depois de 4 meses, naquela época tudo era diferente, antes vinha o beijo na mão, o diálogo, os primeiros encontros, a permissão dos pais.

E inevitável não me imaginar nessa época e como seria se Danilo tivesse que pedir permissões pro meus pais antes de qualquer coisa.

Logo me vem a cabeça Dany Zuko numa versão do Danilo naquele casaco dos T-Birds, ele provavelmente seria o garoto bad boy da escola que adora dançar e cantar mas esconde tudo por dentro não deixando ninguém o conhecer de verdade.

Eu seria uma versão da Sandy, que com certeza se apaixonaria perdidamente pelo Dany mesmo negando bem no fundo do seu coração, ao invés de carta eu cantaria canções de amor do porquê é tão complicado gostar de um cara como ele e esconderia toda a vontade de ser como uma menina daquela época. Guardaria meu primeiro beijo para alguém que eu amasse e provavelmente cantaria Summer nigths na varanda de casa, meus vinis só seria do Elvis e provavelmente eu teria uma paixão platônica por ele.

Na volta pra casa meus fones gritam Hopelessly devoted to you em meus ouvidos na voz doce da Olívia Newton John. Gustavo dorme com a cabeça encostada no meu ombro, enquanto logo nos bancos da frente André dirigia concentrado enquanto Isabella reclamava que sua pele ardia por conta do contato que havia feito com o sol, mesmo passando o protetor solar.

E não demorou para chegarmos em casa e logo fomos correndo em direção a entrada da minha casa.

A única coisa que pensava era entrar e dormir, mesmo com os meus amigos querendo loucamente conhecer a cidade a minha mente e meu corpo estavam exaustos e nesse momento eu só pensava em dormir na minha cama.

Assim que entramos em casa, meu pai tinha os olhos marejados enquanto minha mãe chorava ele tentava a acalmar. Eu estava confusa, tinha medo de algo a mais ter acontecido e por isso fiquei sem entender do porquê meus pais estavam daquele estado.

Meus amigos logo subiram na desculpa de que iriam tomar banho, me deixando sozinha com os meus pais.

– Aconteceu algo? – Pergunto imediatamente.

– A sua irmã teve aqui – Meu pai responde calmo – Ela e a sua mãe tiveram uma briga feia.

Minha mãe não fala nada e então apenas continua encarando o nada, enquanto meu pai a confortar.

Eu decido ir atrás de Marina para saber o que estava acontecendo com a minha irmã e o porquê dessa mudança repentina de sua personalidade.

Pego os chaves do carro do meu pai enquanto mando uma mensagem pra mesma, perguntando aonde ela estava e sou surpreendida com a sua rápida resposta. "Estou no hotel do centro", ela responde eu vou dirigindo até lá.

Assim que a minha abre a porta, a primeira coisa que eu reparo é nos seus olhos cansados e inchados de tanto chorar.

Ela não pensa em mais nada e me abraça, um abraço forte e apertado enquanto se acabar de chorar em meus ombros.

– Me perdoa, me perdoa, me perdoa – Ela dizia. – Eu sou uma péssima filha, péssima neta, péssima irmã. – E então ela chorava.

Eu a apertei ainda mais em meus braços a consolando e dizendo que estava tudo bem e que tudo uma hora ou outra ficaria bem.

– Eu errei Paola eu coloquei as minhas ambições em primeiro lugar e agora meus pais não olham na minha cara e não vou me perdoar se eu perder você também, você é tudo o que tenho.

– Você não vai me perder, estamos juntas nessa – Beijo a sua testa.

Querida Eu!Where stories live. Discover now