Capítulo 05

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        O que vejo agora é completamente novo e diferente de qualquer coisa que a minha visão estranha já me proporcionou. Eu vejo a neve daquele dia, vejo estilhaços de vidro por toda parte enquanto ando. Apesar de ser muito real, ainda tenho a consciência de estar em um estábulo parada, mas também estou andando e apesar de tudo, sinto que é em direção do local onde meu pai está. Eu apenas sinto.

                De repente encontro uma poça de sangue em meio a tanta neve, e decido seguir por ela. O sangue se torna uma trilha que me leva a algo horrendo e melancólico, mas sigo mesmo assim. E estou correndo, ao mesmo tempo em que pareço estar em câmera lenta. Então vejo o que provavelmente era o caminhão do meu pai, mas por incrível que pareça está intacto, sem nenhum amassado ou arranhão. E meu pai não está nele.

                Então eu ouço alguém me chamando, é uma voz feminina e que nunca tinha ouvido antes.

                Alicia... Lice...

 Deixo o caminhão e vou em direção a essa voz. É tão bom ouvi-la, é uma voz doce e acolhedora, e eu não quero deixar de ouvi-la.

                Mas sinto como se fracassasse quando a voz acaba em uma árvore. Uma árvore robusta e com um buraco um pouco acima da minha cabeça. E é de lá que saia o sangue que eu segui. Como que por instinto enfio a mão no buraco, mas tiro na mesma hora. A minha mão sai cheia de algo rubro, sangue. E a voz volta a cantar. Decido enfiar a mão na árvore novamente.

                E dessa vez a voz canta mais fracamente, como se sentisse dor, quase em um sussurro. Continuo com a minha procura, sem saber ao certo o que procuro. Quando ponho a mão em algo redondo, que forma um arco é pequeno e delicado. Um anel. Mas me arrependo, pois quando o toco, a voz que cantava tão serenamente, para abruptamente, como se ao tocar o anel, eu matasse a dona da voz tão bela.

                Apesar de sofrer, pela falta da voz, continuo tocando o anel, e percebo que ao tirá-lo de lá, já não tem mais voz nenhuma, nem neve alguma, nem caminhão, nem árvore, nem um pai morto.

                Só o que resta é uma mão no cavalo negro e outra mão toda suja de sangue e com um pequeno anel na palma. E Eddie olhando pasmado pra mim e de repente escuro.

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                Sinto a minha cabeça latejante e tento focar a visão devo ter desmaiado depois da visita ao cavalo. Quando consigo ver melhor, me deparo com os olhos verdes de Eddie, próximo de mais de mim.

 – Acordou. - Disse Eddie, acho que pra si mesmo.

 – Acordei. – Respondi mesmo ele não tendo falado comigo.

 – Mãe. Ela acordou. – ele gritou pra sua mãe. Ignorando-me completamente.

 – Eddie, eu to bem aqui, dá pra falar comigo? – perguntei irritada.

 – Relaxa Lice, eu to aqui, não fala nada, você está muito frágil.

 – Eu não to frágil. – eu disse, mas ele continuou muito próximo e olhando pra porta.

                Coloquei uma mão de cada lado do seu rosto, pegando-o de surpresa e virando seu rosto pra mim.

 – Eddie Alexander Watson. Dá pra prestar atenção em mim? – rosnei pra ele.

 – Você também chama Eddie pelo nome completo quando ele apronta? – pergunta dona Stella com um sorriso no rosto, vindo em nossa direção.

 – Eddie é bem teimoso ás vezes. – resmungo de bom humor pra ela.

 – Eu sei o quanto Lice.

                Stella tirou Eddie da cama, e se sentou no seu lugar, pegou na minha mão e acariciou por um tempo. Eu me sinto tão cansada que nem protesto ao seu toque calmante.

 – Precisamos conversar querida. – Disse com uma voz suave.

 – Eu sei, estou tão confusa. – admiti num sussuro.

 – Eddie, vai fazer um lanche pra gente. – disse ela, e eu percebi que era apenas pra conversar comigo.

 – Nem vem mãe, eu não cozinho nem miojo. E eu quero ouvir a conversa. – diz Eddie num resmungo.

 – Então faz um suco, vai pegar água. Procura alguma coisa pra fazer. – disse ela, impaciente.

                Eddie saiu resmungando, e eu acharia a cena cômica, se não estivesse tão nervosa como agora.

 – Acho que agora podemos conversar. – disse dona Stella.

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