43.º Capítulo

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O feiticeiro já de pé observou a namorada no chão e quando levantou o olhar na direcção da Borboleta Morta, os pequenos confrontos que ainda decorriam, cessaram. Os seus olhos brilharam e Ana atirou-lhe o tridente, devolvendo-lhe a arma que ele cravou no solo e de imediato, a terra que tinha ficado de aparência infértil, voltou às suas cores verdejantes. De seguida, deslocou-se rapidamente até ao seu irmão Tiago e tocando-lhe no braço, murmurou poucas palavras que fizeram o seu irmão abrir os olhos e sorrir ao vê-lo. Seguiu-se o outro feiticeiro do fogo. Um simples toque em Filipe o despertou. Ele perguntava-se o que se havia passado. Ricardo não respondeu e virou-se na direcção da Borboleta Morta.

- Vais desafiar-me? Não vais conseguir aquilo que os feiticeiros mais poderosos que enfrentei, falharam.

Quando as bruxas tentaram atacá-lo, ele atirou-lhes o tridente que limitou-se a partir-lhe as varinhas que tinham nas mãos e depois como um boomerang voltou para as suas mãos.

- Vais fazer o mesmo que tua mamã? – Ironizou a bruxa com um sorriso desafiante.

- Segundo o Karma, a Água representa o “cíclico”, ou seja, o que se repete. Contudo, vou provar que já ultrapassei essas ideias absurdas. Posso ser a mudança se quiser. – Desapareceu e reapareceu mesmo à frente da bruxa que tentou afastar-se, mas ele segurou-a pelas duas mãos. – Purificação!

Ela procurou libertar-se das mãos dele. Porém, logo, sentiu o seu poder tomar conta do seu corpo. Não conseguia fazer nada contra a força que rapidamente livrava o seu corpo de toda e qualquer magia que pudesse ser prejudicial para outros ou mesmo para ela. Era como se uma imensa corrente de água percorresse todo o seu corpo e tal como a maré furiosa, fosse incapaz de ser parada.

- Irás viver. Porém como e entre humanos numa vida que te dou através desta purificação. – Falou Ricardo, ainda sem largar as suas mãos.

- Ela fez demasiado mal a este mundo! – Argumentou um dos anciões.

- Ela destruiu parte da minha família. – Disse, não deixando que caísse no chão e segurando-a pelos braços. – A vingança não os trará de volta. Matá-la não os trará de volta.

- Isso é um disparate! – Disse a sua avó aproximando-se.

Ela que se mantivera sempre à margem dos acontecimentos viu de imediato vários feiticeiros, nomeadamente nobres, colocarem-se no seu caminho. Todos conseguiam pressentir a energia que ao mesmo tempo era intensa e suave. As duas dicotomias tocavam-se tão perfeitamente que seria impossível, alguém não reconhecer o feiticeiro como uma entidade a ser respeitada e protegida a todo e qualquer custo.

- Sei como me educaste, sei que foi tudo para este momento. – Respondeu o feiticeiro, encarando a sua avó com ar compreensivo. - Mas esta é a minha escolha.

- Eduquei-te porque o meu filho…

- Avó, sei que devias pressentir que algo terrível iria acontecer ao meu pai, à nossa família e com a ajuda da Borboleta Morta tudo se proporcionou para que fosse educado de duas formas distintas. – Fez uma pausa, olhando para Dalila que continuava inconsciente perto de Luís e Clara. – Todavia, sabia que um dia não teria que dar ouvidos a ninguém, teria simplesmente que tomar as minhas próprias decisões. – Olhou para as outras bruxas que já se encontravam rodeadas de caçadores de bruxa. – Chega de prisões, torturas e mortes inúteis. Existem outras formas de resolver as coisas.

- E as traições? – Perguntou um dos anciões.

- Se for a pensar bem, tenho sido traído por muita gente há muito tempo mesmo por vocês que se encarregaram de selar os meus poderes e de colocar uma feiticeira de poderes temporários num lugar que me pertence. Tomaram decisões por mim, alegando que eu não saberia fazer melhor nem teria poder para tal. – Respondeu o jovem de cabelos escuros e ainda com um azul intenso dos seus olhos bem evidente para quem olhasse para ele.

Viver com ElesWhere stories live. Discover now